Pai mantém a esperança de encontrar o filho vivo. Um dos registros mais angustiantes da tragédia em Petrópolis mostra o jovem de 17 anos em cima de ônibus que foi arrastado por enxurrada. Sobreviventes contam como escaparam
A família de um jovem o reconheceu nas imagens que circularam de dois ônibus sendo arrastados pela correnteza em Petrópolis. O vídeo do incidente é um dos mais angustiantes da tragédia que matou centenas de pessoas na Região Serrana do Rio de Janeiro.
O tio de Gabriel, de 17 anos, estava na porta do Instituto Médico-Legal (IML) do município na quinta-feira (17). Donizete afirmou que o reconheceu saindo pela janela do veículo e sendo arrastado pelas águas. Desde o temporal da noite de terça (15), a família não o encontrou mais.
O pai de Gabriel disse que ele não sabe nadar, mas mantém a esperança de encontrar o filho com vida. “Claro que tenho esperança. Vamos achar ele ainda. Gabriel é um garoto esperto”, diz o marceneiro Leandro da Rocha, de 49 anos.
Leandro conta que o filho foi ao centro da cidade trocar uma mochila rasgada e quando estava voltando para casa foi surpreendido pelo temporal. Nas imagens, é possível ver o jovem de roupa preta saindo pela janela e tentando se equilibrar na lateral do ônibus, que acabou tombando com a força da água.
Desde então, o pai procura o filho. “Desde aquele dia estou procurando por ele, já revirei a cidade, fui a todos os hospitais, IML e pontos de apoio e nada”.
Para o pai, as buscas das equipes de resgate devem se concentrar na região próxima ao rio, onde os ônibus foram atingidos. “Não estou vendo buscas pelo Rio Quitandinha, onde os ônibus caíram. Eu acho que que tem que ter um empenho maior nessa área. Eu mesmo já percorri o rio do ponto onde o Gabriel estava até a cidade. Mas ainda não vi equipes lá”.
Gabriel cursa o 2º ano do ensino médio e luta jiu-jitsu. Ele tem dois irmãos e vive com o pai e a madrasta. Segundo o pai, o jovem nunca deu trabalho.
“Estou chorando desde aquele dia. Tem hora que bate um desespero… Enquanto não achar meu filho, eu não paro. Alguém tem que me ajudar”.
Sobreviventes contam como escaparam
Os amigos Fernanda Rodrigues Vieira, de 18 anos, e Daniel Augusto da Silva, de 25 anos, estavam em um dos ônibus que aparece nas imagens. “Foram momentos de muita tensão na volta pra casa. Estávamos no 465, quando o ônibus teve que parar porque não conseguia continuar. O lugar que estávamos parecia um rio. E a gente achava que a chuva ia passar, que ia baixar a água pra gente continuar a viagem”, contou Fernanda.
Segundo a jovem, o ônibus começou a encher de água pela porta do meio e a inundação foi repentina. “O máximo que consegui foi quebrar a janela, enquanto o ônibus era arrastado, bateu no muro e eu só pulei. Não teve muito o que fazer com as outras pessoas. Quem conseguiu pular no muro no susto, pulou. E quem não conseguiu não tinha mais como pular”, detalhou.
Daniel contou mais um momento dramático, quando ele e a amiga tentavam abrir as travas de segurança das janelas do ônibus e elas não abriam. “Eu falei pra ela [Fernanda] ficar bem no fundo e que nós iríamos dar um jeito de tirar as janelas, porque as travas de segurança não estavam abrindo. Eu fui pra porta da frente pra tentar que entrasse mais água”, disse.
Depois que conseguiram abrir a janela, Daniel e Fernanda pularam em um muro – e foi assim que conseguiram escapar. “Eu consegui tirar uma janela com outro rapaz. Tiramos a janela de trás e começou a entrar muita, muita água. Foi quando eu falei pra ela pular. Ela quis me esperar, mas falei pra ela pular. Ela pulou e eu fui logo depois dela. Algumas outras pessoas não conseguiram ter a mesma agilidade.”
Como os ônibus foram atingidos
A água da chuva descia de todas as encostas e percorria os eixos até o Centro com velocidade constante e volume crescente.
A calha do Rio Quitandinha tem em média cinco metros de profundidade. Quando os dois ônibus chegaram na altura da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Centro, o leito já estava transbordando, e um bolsão d’água impedia o caminho. Os coletivos pararam, esperando que a água baixasse. Ao invés disso, a enxurrada foi se avolumando.
Em pouco tempo, a correnteza já fazia entrar água dentro dos ônibus. A poucos metros dali, uma encosta cedeu, e o barranco desabou sobre o Rio Quitandinha. A queda da barreira provocou um tsunami, que foi engolindo tudo em direção aos coletivos.