Jair Bolsonaro

Não há encenação. Este é o verdadeiro Bolsonaro

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Imagem: reprodução

Moisés Mendes*, em seu blog

O ministro das Comunicações, Fábio Faria, acabou com o debate que divertia muita gente em torno da validade ou não de divulgar o vídeo em que Bolsonaro come um espetinho de frango e derruba farofa nas calças e no chão.

Muita gente duelou durante todo o domingo, quando Faria publicou o vídeo, até a tarde de segunda. As bolhas afundaram na dúvida: compartilha ou não o vídeo?

Mas na segunda o ministro se meteu na brincadeira e tirou o vídeo das suas redes, porque descobriram no Planalto, tardiamente, que havia sido uma farofada contra.

Saiba mais: Ministro volta atrás e apaga vídeo de Bolsonaro comendo frango todo sujo

Para parte das esquerdas, o vídeo ajudava Bolsonaro. Quem compartilhou o vídeo estaria ajudando o sujeito e ficar ainda mais com cara de povo.

É um argumento que não para de pé. Um vídeo grotesco, que o próprio governo decidiu apagar, não ajuda Bolsonaro. Não tem essa conversa de que falem mal de mim, mas falem.

A classe média já traumatizada pelo apoio a Bolsonaro em 2018, e cada vez mais convencida de que o ogro não deveria continuar no governo, não queria ver a cena classificada com hashtag #Bolsonaroporco.

E o povo? O povo que está com o bolsonarismo quer ver Bolsonaro comendo picanha de R$ 1.800, como ele fazia até bem pouco tempo. O povo não quer ver seu ídolo comendo frango daquele jeito.

O que fica da cena é que o fascismo não consegue mais calibrar suas falas e atitudes. Alguém diz para Bolsonaro comer o frango bem à vontade, o homem exagera e derruba a farofa, o Carluxo filma, o ministro joga nas redes, o vídeo viraliza e daí?

A próxima imagem, nessa linha, como evolução do marketing do bizarro, pode ser a de Bolsonaro defecando.

Bolsonaro se esforça para manter o apoio dos 20% que aparecem nas pesquisas como sua base mais fiel. E quer, a partir desses 20%, reproduzir o truque de 2018, atraindo a classe média que se agarra em arame fardado para fugir de Lula.

Bolsonaro está certo de que a idiotia da classe média, e não do povão, vai reelegê-lo, e por isso se lambuza comendo frango daquele jeito. Bolsonaro faz filminho para o tiozão do zap e a tia do Instagram.

É a classe média, e não o povo, que ainda dá suporte eleitoral ao Bolsonaro da farofa derramada. Bolsonaro é essa figura grotesca porque a classe média tapa o nariz e o aceita desse jeito como gambiarra.

O problema é que a cena da farofa pode ter passado do ponto. Não é o pastel na feira ou a pizza na rua em Nova York. O frango com farofa pode ser, na verdade, o Bolsonaro mais autêntico.

O Bolsonaro verdadeiro, o que vai fundo para tentar se manter no segundo turno, é esse aí. Mas tem a pergunta inevitável: por que nunca haviam filmado essa cena antes? Ora, porque pizza, pastel e pamonha não têm farofa.

A farofa é a cereja que adorna a imagem genuína de Bolsonaro. Pena que tenha sido censurada nas redes sociais do ministro.

*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim).

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