Imagens mostram que Moïse Kabamgabe foi espancado por 5 homens e levou cerca de 20 pauladas enquanto estava imóvel no chão e não oferecia mais resistência. Agressor que protagoniza as cenas mais covardes disse que "intenção não era matar [...] infelizmente aconteceu a fatalidade"
A Polícia Civil divulgou na noite desta terça-feira (1) os vídeos registrados por câmeras de segurança do Quiosque Tropicália, no Rio de Janeiro. As imagens mostram que pelo menos cinco homens agrediram o imigrante Moïse Kabagambe, de 24 anos. O crime aconteceu na noite de 24 de janeiro enquanto o estabelecimento operava normalmente, com um atendente no balcão.
As imagens mostram 20 minutos de agressões — foram desferidas 15 pauladas enquanto a vítima tentava se defender dos agressores e outras 20 quando ele já estava imóvel no chão, sem oferecer nenhuma resistência.
Três agressores batem em Moïse mesmo ele estando imobilizado e em outros momentos desacordado no chão. Quem protagoniza uma das cenas mais covardes é Alisson Cristiano Alves de Oliveira, de 27 anos. No vídeo, ele aparece com uma camisa do flamengo e um boné preto.
Em determinado momento, quando Moïse está imobilizado por outro homem, Alisson pega um pedaço de madeira e desfere 4 golpes fortíssimo na cabeça da vítima. As imagens são chocantes.
Alisson se manifestou sobre o crime nesta terça-feira e disse que ‘a intenção não era matar’. “Eu sou um dos envolvidos na morte do congolês. Quero deixar bem claro que ninguém queria tirar a vida dele, ninguém quis fazer injustiça porque ele era negro ou alguém devia a ele. Ele teve um problema com um senhor do quiosque do lado, a gente foi defender o senhor e infelizmente aconteceu a fatalidade dele perder a vida”, disse Alisson.
ENTENDA O CASO
Moïse Kabamgabe trabalhou como atendente no Quiosque Tropicália. Ele foi cobrar dois dias de pagamentos atrasados e o gerente do estabelecimento se recusou a pagar. Uma discussão foi iniciada e o gerente solicitou ajuda a alguns homens que ainda não foram identificados pela investigação.
Os homens imobilizaram Moïse e o espancaram por por pelo menos 15 minutos. A sessão de tortura foi registrada pelas câmeras de segurança do quiosque. Segundo testemunhas, os agressores usaram pedaços de madeira e um taco de beisebol.
A perícia indicou que a causa da morte foi traumatismo do tórax, com contusão pulmonar, provocada por ação contundente. O laudo do Instituto Médico Legal (IML) mostrou ainda que os pulmões de Moïse tinham áreas hemorrágicas de contusão e também vestígios de broncoaspiração de sangue.
O crime permaneceu em silêncio durante cinco dias, até que um protesto de familiares em frente ao quiosque chamou a atenção da imprensa para o assassinato bárbaro. “Muito provavelmente o caso seria arquivado e ele seria dado como um indigente se nós não tivéssemos feito barulho nas ruas e nas redes”, conta um primo da vítima. “Além de negro e pobre, é um imigrante. Vindo da África, não sabia que no Brasil seriam capazes de tamanha crueldade”, continua o rapaz.
“O início da gravação que eu vi é ele reclamando com o gerente do quiosque. Alguns minutos seguintes, o gerente pegou um pedaço de madeira para ameaçar ele. Até então, ele estava só recuando. E o cara foi atrás dele. Como ele estava reivindicando alguma coisa, ele pegou uma cadeira e dobrou para se defender. Ele não chegou a atacar ninguém. O gerente chamou uma galera que estava na frente do quiosque. Até então tinha só um sentado”, observou outro primo.
“Veio uma galera que o arremessou no chão, tentando dar um golpe de mata-leão nele. Vieram mais algumas pessoas bater nele com madeira, veio outro com uma corda, amarrou as mãos e as pernas para trás, passou a corda pelo pescoço. Ficou amarrado no mata-leão, apanhando. Tomando soco e taco de beisebol nas costelas. Até ele desmaiar”, acrescentou.
De acordo com o relato do primo que viu as imagens, o dia de trabalho continuou, mesmo com a morte de Moïse. “Eles foram embora e ficou só o gerente do quiosque. E ele deitado no chão, como se nada estivesse acontecendo. Trabalhando, atendendo cliente. E o corpo lá”.
O prefeito Eduardo Paes declarou, em sua página no Twitter, que a morte do rapaz é inaceitável e que a prefeitura está acompanhando o caso. “O assassinato de Moïse Kabamgabe é inaceitável e revoltante. Tenho a certeza de que as autoridades policiais atuarão com a prioridade e rigor necessários para nos trazer os devidos esclarecimentos e punir os responsáveis”, disse o chefe do executivo.