O que já se sabe sobre o adolescente filho de PM que matou a família na PB
Adolescente matou a mãe, o irmão mais novo e também disparou arma de fogo contra o pai, mas o homem sobreviveu aos disparos. "Ele se assustou quando soube que o pai estava vivo", diz policial. Delegado que investiga o caso é criticado após vazamento do áudio em que o menor explica como cometeu o crime
Um adolescente de 13 anos admitiu ter matado a própria mãe, de 47, e o irmão mais novo, de 7 anos de idade. O crime aconteceu no último sábado (19) na cidade de Patos (PB). Policial militar reformado, o pai do adolescente também foi baleado, mas sobreviveu e está internado em estado grave.
A princípio, o autor dos disparos negou o crime e a própria polícia considerou que ele também era vítima, sobrevivente de uma suposta chacina, mas a hipótese foi descartada horas mais tarde.
O delegado Renato Leite contou que os disparos foram motivados por uma discussão familiar sobre notas escolares baixas do jovem, que queria continuar a jogar jogos on-line e, conforme disse em depoimento, sentiu-se “pressionado”. A “gota d’água” teria sido o fato de o pai ter confiscado o seu celular.
“Ele estava tirando notas baixas porque em casa só queria saber de jogar. O menino, quando era cobrado para arrumar uma cama ou enxugar uma louça, disse que se sentia pressionado. No sábado foi foi a gota d’água: ele se armou com a arma do pai e fez o que fez, infelizmente”, disse o delegado.
Segundo o delegado, o adolescente está sozinho numa sala reservada para menores de idade na carceragem da Polícia Civil da Paraíba. “A gente representou pela internação provisória do menor. Após a audiência judicial, ele deve ser encaminhado ao Centro de Internação de Adolescentes da Paraíba, no município de Sousa, no sertão”.
“O adolescente de 13 anos alegou que a motivação para ter cometido o que cometeu foi os pais o estarem privando de jogar um jogo, Roblox. A motivação que ele alegou ter sido a gota d’água para que ele pegasse a arma do pai e resolvesse atirar contra a mãe dele, o pai e depois contra o irmão mais novo, foi justamente essa. Ele alegou que era pressionado a tirar boas notas na escola. Eu percebi que ele, quando soube que o pai ainda estava vivo, se assustou. Acho que ele estaria mais satisfeito se todos os três tivessem falecido”, observou o delegado.
O adolescente disse que o pai já havia lhe mostrado a arma, mas negou que a tenha usado em outro momento. O PM aposentado, baleado no tórax, foi levado inicialmente ao Hospital Regional de Patos, mas a gravidade dos ferimentos levou à transferência para o Hospital de Trauma de Campina Grande.
De acordo com o cirurgião geral Caio Guimarães, o pai está paraplégico, isto é, com déficit motor e sem sentir os membros inferiores. Ainda não há como afirmar se as sequelas serão permanentes.
MÃE DORMIA
O delegado Renato Leite afirmou que o pai do estudante havia saído para comprar um remédio para a mãe, que estava com dor de dente e dormia no quarto do casal. Antes disso, o PM reformado confiscou o celular do filho por causa do mau desempenho escolar. O jovem, então, pegou a arma de fogo, que estava guardada no escritório do pai.
“A mãe aguardava no quarto, deitada, dormindo. Ele chegou, encostou a arma na cabeça dela e efetuou um disparo. O barulho do tiro assustou o irmão, que estava em seu próprio quarto e brigou com o adolescente quando percebeu o que ele havia feito. O autor chegou a correr atrás do menino para atirar nele. Nessa ocasião, o pai chegou à casa. O pai tentou intervir para que ele soltasse a arma, e ele terminou efetuando um disparo contra o pai, que caiu na sala”, disse Leite.
“O irmão, ao ver o pai caído, tentou socorrê-lo e o abraçou. Foi quando o adolescente atirou no irmão pelas costas. Em seguida, o menor guardou a arma de volta no escritório, chamou o Samu e tentou fazer parecer que tinham sido vítimas de um assalto”, acrescentou.
ÁUDIO VAZADO
O áudio do depoimento do adolescente de 13 anos na delegacia foi vazado em grupos de WhatsApp nesta segunda-feira (21) e se espalhou rapidamente. A corregedoria da Polícia Civil da Paraíba informou que vai investigar o vazamento.
Além de descrever detalhes de como cometeu o crime, o adolescente conta no áudios que apanhava muito dos pais. “Eles [seus pais] batiam em você?”, questiona o delegado no áudio vazado. “Sim […] de cinto”, responde o menino.
De acordo com o delegado-geral da Polícia Civil da Paraíba, André Rabelo, é necessário “aprender com os erros” e evitar que esses se repitam. Rabelo afirma que houve um erro “não doloso” por parte do delegado do caso, Renato Leite. “A corregedoria está com o caso e eventuais crimes vão ser investigados. Se precisar, vai haver responsabilização dos envolvidos”, destacou.
André Rabelo explica que o próprio delegado Leite já admitiu que houve um erro da parte dele. “Ele justifica que, ao enviar algumas informações, enviou junto, por engano, o áudio com as declarações do menino. Houve uma falha e ele reconheceu o erro”, declara Rabelo.
O delegado-geral da Polícia Civil da Paraíba ponderou que, apesar do erro, o trabalho foi conduzido de maneira eficaz. No entanto, ele admite que a divulgação do áudio é ilegal e que quem faz isso também comete crime.
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