Advogado do próprio filho, pai de aluno denunciado por racismo e apologia ao nazismo justifica que o jovem "tem mistura étnica" e "não afrontaria direito de ninguém". Além das ofensas e citações à 'raça ariana', o acusado teria uma lista com nomes de estudantes que ele mataria. O jovem está proibido de entrar no campus
O estudante de informática de 18 anos está sendo acusado por diversos colegas de proferir ofensas racistas e fazer apologia ao nazismo. O Instituto Federal do Mato Grosso do Sul (IFMS) informou que o acusado está proibido de entrar no campus até o fim das investigações.
As vítimas apontam que foram alvo de ameaças e insultos preconceituosos tanto virtualmente como presencialmente. Em uma das mensagens, o acusado escreveu que “tu não é ariano, te coloco pra assar”. Também teria falado em “massacre” e “tortura”. Advogado do próprio filho, o pai do aluno diz que “não há provas” contra o garoto.
A Polícia Civil investiga a denúncia após mães das vítimas registrarem um boletim de ocorrência no último dia 28. O caso é tratado inicialmente como ameaça e injúria racial. Segundo a delegada Fernanda Félix, titular da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca), “por ora, não existe materialidade para apologia ao nazismo”.
Uma das vítimas afirmou que o acusado se apresentava como nazista em rodas de conversa na instituição. Segundo o relato, ele começou a frequentar o campus apenas em meados de fevereiro deste ano e não tinha amigos. Os dois são colegas de turma no curso médio técnico de informática do IFMS.
Foi em um grupo no aplicativo Discord, usado geralmente para games, que o acusado escreveu a um colega de sala de aula: “tu não é ariano, te coloco pra assar”. Antes, ele havia mandado uma mensagem em que dizia “faço saudação nazista e te mando se ‘concentrar'”, supostamente em alusão a campos de concentração.
No dia 24 de fevereiro, conta a vítima, o suspeito novamente fez uma série de comentários racistas em uma lanchonete localizada a cerca de 500 metros do campus do IFMS, onde alunos costumam comer. O acusado teria seguido um grupo de estudantes até o local, quando abordou uma menina se dizendo nazista.
“Ela olhou com espanto, e ele respondeu: ‘O que foi? Você é judia por acaso?’. Quando ela disse que sim, ele falou que podia ficar tranquila que ela seria a última a morrer. Apontou para mim e disse que eu seria o primeiro, porque sou maior e negro, então tenho mais massa escura. Em seguida apontou para o colega à minha esquerda e disse que ele seria o segundo por ser negro e menor. Depois apontou para um terceiro colega e não falou mais nada. E, no último, disse que ele deveria torturado”, diz uma das vítimas.
No dia seguinte ao ocorrido, a vítima e sua mãe foram ao IFMS denunciar o caso. Em 3 de março, houve uma nova reunião com pais de outros alunos que relataram ameaças do acusado. Na ocasião, foi comunicada a suspensão provisória dele, que se desculpou dias depois.
Relatos feitos por outros alunos expõem que o acusado também comentava sobre zoofilia e tinha o mesmo comportamente desde o ensino fundamental. Em ato realizado nesta quinta-feira em frente ao campus do IFMS, alunos exibiram cartazes e bradaram que “racistas e nazistas não passarão”.
O advogado José Freitas, pai do jovem de 18 anos, contesta as acusações. “Não existe materialidade nenhuma. Eles trouxeram diversas provas que serão usadas contra eles no devido momento. Todos aqueles que ofenderam a honra do meu filho serão responsabilizados civil e criminalmente”.
“É muito triste usarem o fato de meu filho ter ascendência alemã por parte de pai e colocarem a pecha de nazista. O crime de racismo se aplica a todas as raças. Nós somos seres humanos”, diz o advogado.