Ataques contra ciganos na Ucrânia aumentaram nos últimos anos e se intensificaram com a guerra. Humilhações são promovidas por grupos que integram as forças oficiais. Vítimas incluem famílias com mulheres e crianças e tiveram seus rostos borrifados com corante antisséptico de triarilmetano – substância que pode causar queimaduras químicas
Imagens de pessoas amarradas em postes de luz na Ucrânia passaram a circular nas redes sociais desde segunda-feira (21). As vítimas seriam ciganos da cidade de Lviv, no oeste do país, e incluem mulheres, adolescentes e crianças.
As vítimas foram presas com fitas adesivas e tiveram os rostos borrifados com um corante antisséptico de triarilmetano, conhecido como “zelyonka” nas antigas repúblicas soviéticas. A substância pode causar queimaduras químicas.
A imprensa ucraniana justificou que as pessoas amarradas foram ‘punidas’ por supostamente tentarem roubar passageiros de um ônibus. No entanto, outros relatos afirmam que o grupo queria apenas conseguir comida, pois estavam morrendo de fome depois de escapar de Kiev.
A punição foi praticada por membros das Forças de Defesa Territoriais, um braço voluntário recém-criado das Forças Armadas ucranianas. Em uma das fotos, é possível ver um uniforme do Exército ucraniano.
Internautas alegam que as pessoas só foram severamente punidas e humilhadas por conta de sua origem étnica. Relatos de perseguição contra estrangeiros — sobretudo negros e indianos — acontecem desde o início da guerra.
Perseguidos, humilhados e mortos
Os ataques contra ciganos na Ucrânia aumentaram nos últimos anos. A violência é promovida por neonazistas e ultranacionistas, que dizem estar “limpando” as cidades do país.
Os ciganos que vivem em acampamentos de lona e prédios abandonados em Kiev ou nos arredores da capital da Ucrânia dizem que ganham dinheiro de maneira inofensiva, vendendo artesanato, arte e flores.
Os neonazistas ucranianos, porém, afirmam que, em vez disso, os ciganos são batedores de carteiras e estragam a cidade com sua presença, já que em geral “andam esfarrapados” ou com “roupas de segunda-mão enquanto mendigam”.
As tensões a respeito dos ciganos são tão antigas quanto a própria Ucrânia. Há alguns anos, porém, a inimizade antiga tomou um novo rumo.
Desde abril de 2018, neonazistas ucranianos que ganharam projeção a partir do golpe de 2014 resolveram atacar os alvos mais frágeis dos acampamentos de ciganos, dizendo que estão “promovendo uma limpeza”.
Em um ataque a um acampamento de ciganos no parque Lysa Hora, nos arredores de Kiev, neonazistas borrifaram spray de pimenta e queimaram algumas tendas. O episódio atraiu críticas de grupos de direitos civis, mas o governo ucraniano parece ter visto o ataque por outro ângulo.
Longe de responsabilizar os neonazistas, que filmaram o ataque e publicaram fotografias na internet, o governo concedeu verba ao grupo, sob a forma de aluguel gratuito de auditórios, para apoiar aulas de “educação patriótica”.
Ninguém foi preso após a agressão. Rapidamente, cinco outros ataques de grandes proporções se seguiram, juntamente com dezenas de episódios menores. Um cigano morreu após um dos ataques e o agressor foi identificado, mas foi condenado a apenas dois meses de prisão domiciliar.
Em outubro de 2021, meses antes da guerra, um vídeo (assista abaixo) de mulheres sendo agredidas por um homem com um pênis de borracha no meio da rua em Kiev provocou revolta. As vítimas que aparecem nas imagens são ciganas romani. Centenas de pessoas testemunham a covardia e agem como se nada estivesse acontecendo.
A violência contra ciganos, negros e indianos é um dilema para o governo apoiado pelo Ocidente, pois o atual presidente Zelensky e seu antecessor são gratos aos grupos neonazistas por causa de seu papel na guerra contra simpatizantes russos na região do Donbass (Repúblicas de Donetsk e Luhansk).