Como a esquerda mundial se posiciona sobre a guerra na Ucrânia
Em todo o mundo, inclusive na Ucrânia, principais organizações de esquerda divulgam nota sobre a guerra. Enquanto alguns partidos são mais críticos aos atos da Otan e às ações dos EUA, outros condenam a operação militar da Rússia
Camila Araujo, Opera Mundi
A ação militar russa na Ucrânia dividiu a esquerda mundial. Enquanto algumas agremiações e grupos veem a ofensiva russa como inaceitável, condenando os atos de Moscou contra um país soberano, outros partidos ao redor do mundo se colocam críticos à expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) rumo ao leste e acreditam que a ação se justifica.
Neste texto, compilamos o posicionamento de partidos de esquerda, centro-esquerda ou daqueles ditos progressistas, da América do Sul, Europa e Ásia.
Partido Comunista de Cuba
O Partido Comunista de Cuba declarou neste sábado (26/02) que “a Rússia tem o direito de se defender” de uma “ameaça direta à sua segurança nacional”.
“Foi um erro ignorar durante décadas as bem fundamentadas demandas por garantias de segurança por parte da Federação Russa e supor que o país permaneceria indefeso diante de uma ameaça direta à sua segurança nacional”, defendeu um comunicado da chancelaria cubana, afirmando ainda que “não é possível alcançar a paz cercando ou encurralando os Estados”.
A ilha socialista afirma que advoga pela “segurança e soberania de todos” e que a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que seria determinada pelos Estados Unidos, conduziu a um cenário entre a Rússia e a Ucrânia que poderia ter sido evitado e cujos impactos são imprevisíveis.
“São bem conhecidos os movimentos militares realizados pelos EUA e pela Otan nos últimos meses em direção às regiões adjacentes à Federação Russa, precedidos pela entrega de armas modernas à Ucrânia, que juntos constituem um cerco militar progressivo”, diz o texto, acrescentando que é preciso lembrar da “grande agressão contra a Iugoslávia” encabeçada pelo país norte-americano e pela aliança militar, que somou um “alto custo em vidas”.
A nota, publicada pelo Ministério das Relações Exteriores e replicada no site do jornal oficial do Partido Comunista de Cuba e pelo site da própria sigla, aponta que o país latino-americano apoia “vigorosamente” as normas internacionais sobre uso de força e que defende o Direito Internacional, estando comprometido com a defesa da paz.
“Lamentamos profundamente a perda de vidas de civis inocentes na Ucrânia”, declarou a chancelaria cubana, afirmando ainda que a história irá responsabilizar o governo norte-americano pelas consequências de “uma doutrina militar cada vez mais ofensiva fora das fronteiras da Otan”.
Frente de Todos (Argentina)
A Frente de Todos não divulgou comunicado oficial sobre a situação na Ucrânia, mas compartilhou no Twitter o posicionamento do presidente do país Alberto Fernández, que é membro da coalizão de esquerda.
“Lamento profundamente a escalada da guerra que conhecemos pela situação gerada na Ucrânia. O diálogo e o respeito à soberania, integridade territorial, segurança dos Estados e direitos humanos garantem soluções justas e duradouras para os conflitos”, declarou o mandatário.
Fernández disse ainda que a pandemia causou morte e sofrimento na humanidade, o que cria um “imperativo moral para que as partes se comprometam com a solução pacífica da controvérsia, agindo com a maior prudência e responsabilidade para garantir a paz mundial”.
Ele apela também para que as partes envolvidas não usem a força militar, voltem à mesa de diálogo e que a Rússia ponha fim à sua ofensiva.
Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV)
Também na quinta-feira (24/02), o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), que está no governo do país latino-americano com o presidente Nicolás Maduro, replicou em seu site uma nota, assinada pela chancelaria venezuelana, manifestando “preocupação com o agravamento da crise na Ucrânia” e lamentando o que chamou de violação dos Acordos de Minsk pela Otan e pelos EUA.
“O descarrilamento desses acordos violou o Direito Internacional e gerou fortes ameaças contra a Federação Russa, sua integridade territorial e soberania, além de impedir as boas relações entre os países vizinhos”, diz o comunicado, pedindo ainda um “retorno ao caminho do entendimento diplomático”.
A nota da Venezuela também citou os mecanismos de negociação da Carta das Nações Unidas pela preservação da paz e da vida.
Movimento ao Socialismo (MAS, Bolívia)
O presidente do Movimento ao Socialismo (MAS), o ex-mandatário do país Evo Morales vem se posicionando por meio das redes sociais diante da escalada de tensão no leste europeu. O MAS é o partido que está no governo atualmente, com Lucho Arche.
Na quinta-feira, Morales disse no Twitter que a guerra “nunca é a solução” e que a “Bolívia é pacifista e anti-imperialista”.
“Condenamos o intervencionismo dos EUA para confrontar dois países como a Rússia e a Ucrânia”, declarou Evo. Para ele, “a Europa não pode se tornar o teatro de operações dos EUA contra países soberanos”.
Já neste domingo (27/02), o ex-presidente declarou que “as guerras são um negócio para o capitalismo, a indústria bélica e as empresas interessadas em recursos estratégicos”, sendo promovidas pelo que classifica como política expansionista da Otan.
Ele defende ainda que a aliança militar deve ser processada e “desaparecer”, “por promover invasões e guerras” que deixam “milhares de mortos”, “por saquear recursos de países e defender os interesses do sistema capitalista que concentra riqueza em poucas mãos”.
Peru Livre
O partido governista peruano, o Peru Livre, que se coloca como uma sigla de tradição marxista-leninista-mariateguista, também não divulgou posicionamento oficial sobre o conflito no continente europeu. No entanto, o fundador e porta-voz da agremiação, Vladimir Cerrón, fez uma série de publicações em seu Twitter em apoio às ações da Rússia.
O secretário-geral do Peru Livre defendeu que a crise na Ucrânia é uma consequência da “manutenção da estrutura militar da Otan”, que, para ele, “nada mais é do que a máquina de guerra da América do Norte e da Europa”, cuja existência era válida na época da Guerra Fria e que agora “continua a colonizar”.
De acordo com o político, a Aliança Militar tem pretensão de controle mundial, construindo um aparelho “sinistro que põe em risco a paz mundial”, destacando que a organização está presente até mesmo no Peru, com 10 bases militares, “violando a independência nacional”.
“O regime neonazista fantoche dos EUA baniu o partido comunista ucraniano, proibiu qualquer forma de transmissão socialista e dissolveu ilegalmente o grupo parlamentar comunista; enquanto ele considera as milícias pró-nazistas de extrema direita da Segunda Guerra Mundial como heróis”, opinou Cerrón.
A decisão da Rússia de lançar uma operação militar ao território vizinho, de acordo com ele, é uma “medida justa diante do genocídio que sofre [a população] há mais de oito anos pelo exército mercenário ucraniano reforçado com seus assessores da Otan”.
Segundo Cerrón, a Rússia tomou “medidas necessárias para as negociações diplomáticas e a única resposta dos EUA e da UE tem sido sanções econômicas e ameaças de tornar a Ucrânia neonazista membro da Otan”.
Ele conclui dizendo o século XXI “será caracterizado pelo multilateralismo e pelo fim do mundo unipolar pró-EUA”, afirmando que Rússia, China, e “novas potências” como África do Sul ou Índia estão “moldando um novo cenário mundial onde o Peru terá que assumir um papel na América Latina”.
Convergência Social (Chile)
A Convergência Social, da qual o presidente eleito do Chile Gabriel Boric, que assume em 11 de março, faz parte, publicou um posicionamento oficial da sigla na última quinta-feira (24/02), rechaçando “soluções bélicas” da situação entre Rússia e Ucrânia e manifestando solidariedade ao povo ucraniano. A nota fala ainda em uma “convicção” na desmilitarização mundial, incluindo o fim de alianças militares “conduzidas por grandes potências”.
Já o futuro presidente de esquerda chileno disse em seu Twitter que “a Rússia optou pela guerra como meio de resolver conflitos”, acrescentando que “condenamos a invasão da Ucrânia, a violação de sua soberania e o uso ilegítimo da força”.
“Nossa solidariedade será com as vítimas e nossos humildes esforços com a paz”, concluiu.
Partido Comunista do Chile (PCCh)
Já o PC chileno publicou uma nota condenando “os atos de guerra na resolução de conflitos”, afirmando que cada país deve assumir sua responsabilidade: Rússia primeiro, declara o comunicado, mas também os EUA e a Otan, “que, com as suas provocações, desejos expansionistas, interesses económicos e geopolíticos, juntamente com a sua política de armamento na Ucrânia, levaram ao desrespeito do tratado de Minsk”.
Para a sigla, este cenário “abriu o perigo de guerra” e que é preciso recuperar a paz. “A escalada ou envolvimento e confronto de potências com capacidades nucleares podem ter consequências trágicas para a humanidade. É por isso que nosso apelo é para que todos os esforços sejam feitos para a paz e uma solução política para os conflitos”, diz a nota.
Em seu Twitter, Daniel Jadue, prefeito de Recoleta e ex-presidenciável comunista, afirmou que não se trata de “bem e mal”, e sim sobre a vida das pessoas.
“É urgente condenar sem dupla leitura o uso da força para resolver os conflitos e a coerência dos líderes mundiais”, declarou o membro do PC.
Partido dos Trabalhadores (PT, Brasil)
O Partido dos Trabalhadores (PT), no Brasil, publicou na sexta-feira (24/02) uma nota assinada pela presidente da sigla Gleisi Hoffman e pelo Secretário das Relações Exteriores Romênio Pereira afirmando que “sempre defendeu” que as relações entre os países resguardem o respeito pela “autodeterminação dos povos” e o “diálogo democrático”.
“A resolução de conflitos de interesses na política internacional deve ser buscada sempre por meio do diálogo e não da força, seja militar, econômica ou de qualquer outra forma”, diz o comunicado, defendendo que a solução da crise entre Rússia e Ucrânia aconteça de forma pacífica com a mediação de fóruns multilaterais.
Partido Comunista Brasileiro (PCB)
O PC brasileiro defendeu em nota datada do dia 25 de fevereiro o “fim da Otan e da guerra”, “pela paz e o socialismo na Ucrânia, na Rússia e em todo o mundo”, afirmando que “a única solução para esse conflito” seria a “luta independente da classe trabalhadora mundial contra o imperialismo dos EUA, da Otan e do sistema capitalista”.
“Nenhuma burguesia de nenhuma nação trará aos explorados e oprimidos do mundo a paz. Acima de tudo, apontamos para a necessidade da classe trabalhadora ucraniana organizar-se para liquidar de uma vez o regime neofascista e estabelecer no país um Poder Popular, tomando em suas próprias mãos a iniciativa na luta por uma Ucrânia autodeterminada e socialista, avessa a todo tipo de intervenção burguesa estrangeira!”, diz a nota.
Frente Ampla (Uruguai)
A Frente Ampla, grupo de esquerda do Uruguai, divulgou nesta sexta-feira (24/02) uma nota expressando “preocupação” com o conflito e com as “gravíssimas consequências” que poderão impactar, segundo o comunicado, a comunidade internacional como um todo.
A sigla uruguaia afirma que “reitera seu compromisso com a paz, a independência e a soberania como chaves para a coexistência dos povos”, apelando para a moderação, o respeito recíproco, o diálogo e à diplomacia. Também cita os princípios da Carta das Nações Unidas.
Partido Socialista (PS, Portugal)
O Partido Socialista de Portugal divulgou nota na quinta-feira (24/02) condenando “toda e qualquer violação do direito internacional” e afirmando que qualquer “visão alternativa ou mal-entendido” deve ser solucionado por via diplomática.
“Assim, condena veementemente o ataque militar russo contra a Ucrânia e apela à retirada imediata das forças militares russas” do território ucraniano, diz a sigla portuguesa.
O PS aponta ainda para o direito internacional, os Acordos de Minsk, estabelecidos entre Rússia e Ucrânia em 2014 e 2015, e a retomada da via diplomática como uma solução para um futuro “pacífico e próspero para toda a região”. “Apoiamos fortemente a soberania e a integridade territorial da Ucrânia”, declara o comunicado, acrescentando ainda uma manifestação de solidariedade para o povo ucraniano e “em particular para a comunidade ucraniana presente no nosso país”.
“Continuaremos a lutar por uma posição clara e consistente a nível da UE, bem como por sanções com repercussões económicas para os responsáveis por esta agressão”, conclui a agremiação.
Partido Comunista Português (PCP)
O Partido Comunista português publicou nota nesta quinta expressando preocupação pela situação no leste europeu, “envolvendo operações militares de grande envergadura da Rússia na Ucrânia, muito para além da região do Donbass”, região separatista em território ucraniano.
O comunicado fala ainda na necessidade de uma “urgente desescalada do conflito, à instauração de um cessar-fogo e à abertura de uma via negocial”, mencionado a Carta da ONU e a Ata da Conferência de Helsinque, assinado por 35 países, em sua maioria europeus, nos anos 1970, que fala sobre segurança e cooperação no continente.
“O PCP salienta que o agravamento da situação é indissociável da perigosa estratégia de tensão e confrontação promovida pelos EUA, a Otan e a UE contra a Rússia”, declara a sigla, mencionando a expansão da aliança militar sobre o leste europeu e a “instrumentalização da Ucrânia, desde o “golpe de estado de 2014 com o recurso a grupos fascistas”.
Segundo o partido, que mantém um espaço em seu site dedicado a explicar a situação ucraniana, este cenário levou à imposição de um regime xenófobo e belicista no território ucraniano. A agremiação comunista destaca ainda que a Rússia é um país capitalista, com posicionamento determinado pelos interesses de suas elites, que se opõe aos defendidos pelo PCP.
A nota aponta ainda para as declarações proferidas por Putin na última segunda-feira (21/02) em que critica “erros” na Ucrânia que teriam sidos cometidos pela União Soviética. Para o partido, a fala do mandatário russo é uma “grosseira deformação da notável solução” que o antigo bloco socialista teria encontrado para a questão das nacionalidades, com “respeito pelos povos e suas culturas”.
“A solução não é a guerra, é a paz e a cooperação. Em defesa dos interesses e das aspirações do povo português e dos povos de toda a Europa”, acrescenta a nota, se opondo “à agressão imperialista da Rússia”.
Bloco de Esquerda (Portugal)
Já o Bloco de Esquerda divulgou um comunicado na quarta-feira (23/02) se opondo ao que chamou de “guerra imperialista da Rússia”.
O texto é dividido em cinco pontos em que a agremiação defende, em primeiro lugar, que “o reforço da máquina de guerra da Otan” põe em perigo a paz na Europa. Diz também que o território russo deve respeitar a integridade territorial do vizinho ucraniano.
O partido esquerdista também fala em “aventura militar de Putin” perante a “anexação do Donbass”, em referência ao reconhecimento da independência das regiões separatistas ucranianas de Donetsk e Lugansk anunciado pelo mandatário russo na última segunda-feira (21/02).
“A atuação de Putin só encontra acolhimento significativo em conhecidas personalidades da extrema-direita europeia”, diz a nota do Bloco, defendendo que Portugal deve oferecer “solidariedade política e diplomática à Ucrânia para a preservação do seu território”.
Por fim, a sigla diz que a imposição norte-americana de armamento e de bases da Otan nas fronteiras da Rússia desemboca numa escalada de tensão “à maneira da Guerra Fria” e que o governo português deve atuar pela neutralidade na Ucrânia.
Partido Trabalhista (Labour, Reino Unido)
O Partido Trabalhista do Reino Unido, de centro-esquerda, divulgou um posicionamento assinado pelo líder da oposição no Parlamento britânico Keir Starmer na última quinta-feira (24/02).
O político defende, no comunicado, que o governo de seu país deve fornecer “armas, equipamentos e assistência financeira” ao povo ucraniano, assim como apoio humanitário, além de aplicar as sanções “mais duras possíveis” contra a Rússia.
Ele sinalizou que as penalidades significam excluir a Rússia de “mecanismos financeiros como o SWIFT e proibir o comércio de dívida soberana russa” e parabenizou o primeiro-ministro Boris Johnson pelo conjunto de sanções que aplicou contra o país do leste europeu.
Ele também falou em “tranquilizar nossos aliados da Otan” e destacou que as consequências da ofensiva russa serão horríveis e trágicas para a Ucrânia, mas também para o povo russo, “que foi mergulhado no caos por uma elite violenta que roubou sua riqueza, roubou sua chance de democracia e roubou seu futuro”.
Starmer afirmou ainda que o Reino Unido também deve se preparar para dificuldades econômicas, porque “libertaremos a Europa da dependência do gás e do petróleo russos”.
“Devemos apoiar o povo ucraniano em sua luta e devemos garantir que Putin falhe. Putin acabará aprendendo a mesma lição que os tiranos da Europa aprenderam no século passado”, disse o parlamentar.
França Insubmissa
“A invasão militar da Ucrânia pela Rússia é um ato de guerra extremamente grave que condenamos nos termos mais fortes”, declarou o partido francês de esquerda França Insubmissa, que apresenta Jean-Luc Mélenchon como candidato para as eleições presidenciais deste ano no país europeu.
Para a sigla, a França deve fazer “todo o possível para diminuir a escalada e retornar à paz”, afirmando ser urgente proteger os civis e exigir um cessar-fogo imediato.
“Esta é a condição para a retomada do diálogo que pedimos no seio da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, que é o quadro adequado e legítimo para resolver esta grave crise”, defende o partido.
SPD (Alemanha)
Olaf Scholz, chanceler da Alemanha e um dos líderes do SPD (Partido Social-Democrata da Alemanha), afirmou neste sábado (26/02) que “a guerra de Putin é um ponto de virada” para a Europa e para o mundo.
O governo federal anunciou ainda o fornecimento de armas ao país, afirmando que a Alemanha cumpre o “dever de assistência da Otan”, “com reforço das forças armadas alemãs para apoiar a Lituânia, o compromisso na Romênia, Eslováquia, Mar do Norte, Mar Báltico e Mar Mediterrâneo, bem como para a defesa aérea na Europa Oriental”.
O governo social-democrata alemão disse que pretende “investir fortemente em equipamentos de última geração” e que “disponibilizaria mais 100 bilhões de euros para isso no ano em curso”. Diz também que pelo menos 2% do produto interno bruto serão investidos anualmente em defesa no futuro.
Die Linke (Alemanha)
O partido alemão Die Linke (que significa A Esquerda, em português), divulgou nota, assinada pelas lideranças Susanne Hennig-Wellsow e Janine Wissler, e pelos parlamentares Amira Mohamed Ali e Dietmar Bartsch, em que condena a agressão de Putin na Ucrânia.
“Nada pode justificar esta guerra de agressão, que é contrária ao direito internacional. A Rússia deve cessar imediatamente as hostilidades, concordar com um cessar-fogo e retornar à mesa de negociações”, defende a agremiação, afirmando se tratar da “situação mais perigosa para a paz na Europa em décadas”.
O Die Linke defende ainda a realização de uma conferência especial da ONU envolvendo Rússia, Ucrânia e todos os países vizinhos
“Os países vizinhos não devem ser deixados sozinhos no acolhimento de refugiados. Apelamos a todas as pessoas para que participem nos numerosos comícios pela paz, cessar-fogo e desarmamento!”, conclui o comunicado.
PSOE (Espanha)
O premiê espanhol Pedro Sánchez, membro do Partido Socialista Obrero Español (PSOE), declarou que os fatos no continente europeu são “muito graves e muito simples ao mesmo tempo”, apontando que “uma potência nuclear violou a legalidade internacional e iniciou a invasão de um país vizinho”.
A nota assinada por Sánchez diz que a crise vai afetar outros países além dos dois envolvidos no conflito e apela para a retirada de tropas russas da Ucrânia.
“A Espanha partilha interesses com a União Europeia, mas sobretudo partilhamos valores. E esses valores estão na base da nossa Constituição, da Constituição espanhola, e são também valores e princípios amplamente partilhados pelos cidadãos espanhóis: os valores da paz, do respeito pelo direito internacional, da solidariedade e também da cooperação humanitária com os povos afetados”, expressa o comunicado.
O PSOE defende o pacote de sanções aprovados pela União Europeia contra a Rússia e fala em ajuda financeira à Ucrânia
Unidas Podemos (Espanha)
Já o partido espanhol Unidas Podemos diz em nota da quarta-feira (23/02) que “o reconhecimento unilateral da independência” de Donetsk e Lugansk pelo governo russo, que ocorreu no dia 21 de fevereiro, teria enterrado os Acordos de Minsk, algo sobre o qual Moscou disse na última semana estar “morto” há tempos devido a provocações de Kiev na região separatista.
A própria Unidas Podemos reconhece este cenário: “desde 2014 os acordos de paz de Minsk não deixaram de ser violados com constantes violações do cessar-fogo, somadas à recusa do Governo da Ucrânia em reconhecer o estatuto autônomo das regiões de Donbass incluídas no referido tratado”.
Diz, no entanto, que “nenhum conflito com identidades nacionais em disputa pode ser resolvido dessa maneira. É necessário voltar à mesa de negociações e aos acordos de Minsk”.
“Devemos também lembrar que, no centro deste conflito, está a política de expansionismo da Otan à Europa de Leste”, declara o partido, afirmando que tal situação impediu que a Rússia criasse uma estratégia de paz e segurança.
“Como já dissemos, falar da Otan é falar da fase da Guerra Fria que já foi superada. No cenário atual, todos os atores envolvidos sabem que a incorporação da Ucrânia à organização não é viável nem solução”, acrescenta a nota, pedindo cessar-fogo, desmilitarização da área e o fim da expansão da aliança militar.
O comunicado conclui ainda que quem paga pelas sanções internacionais “é sempre a população: da Ucrânia, da Rússia e da Europa”.
Partido Comunista da Federação Russa
O Partido Comunista da Federação Russa (PCFR), maior oposição ao presidente Vladimir Putin no Parlamento, se posicionou na sexta-feira (25/02) a favor da ação militar na Ucrânia, e disse que somente a “desmilitarização e desnazificação [ucraniana] pode garantir segurança duradoura”.
“Impelir os provocadores de Kiev à paz e conter a agressividade da OTAN tornou-se o imperativo da época. Somente a desmilitarização e desnazificação da Ucrânia pode garantir segurança duradoura para os povos da Rússia, Ucrânia e de toda a Europa”, diz o texto.
O PCFR diz ainda que um dos objetivos dos EUA e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) é “escravizar a Ucrânia.” Para os comunistas, os ucranianos “não podem ser vítimas do capital mundial e dos clãs oligarcas”.
“Os planos dos EUA e de seus satélites da OTAN de escravizar a Ucrânia não devem ser realizados. Estes planos agressivos criam ameaças críticas para a segurança da Rússia. Ao mesmo tempo, eles contradizem de forma flagrante os interesses do povo ucraniano”, afirma a agremiação.
Outros partidos russos, como o Rússia Justa (centro-esquerda), também manifestaram apoio à ação militar em solo ucraniano. Segundo o líder do partido, Sergei Mironov, a operação “não é contra o povo da Ucrânia”, mas contra “Bandera, que tomou o poder [em referência Stepan Bandera, que colaborou com os nazistas na Segunda Guerra e cujo nome é hoje usado por grupos ultranacionalistas ucranianos]. Isso é ajuda a um povo fraterno, mas, em primeiro lugar, é pela proteção da Rússia, já que o fortalecimento de Bandera na Ucrânia inevitavelmente ameaça a segurança de nosso país.”
Partido Comunista da China
O Partido Comunista da China divulgou neste domingo (27/02), por meio de seu jornal People’s Daily, um “posicionamento básico” do país em relação à crise ucraniana elaborado pelo chanceler Wang Yi.
Em primeiro lugar, diz o comunicado, a China “permanece respeitando e salvaguardando firmemente a soberania e a integridade territorial de todos os países”, cumprindo os propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas, que normatizam uma “promoção da paz entre as nações”.
A nota aponta que o país asiático defende o conceito de “segurança comum, abrangente, cooperativa e sustentável”, apoiando e encorajando esforços diplomáticos “conducentes à resolução pacífica” da crise.
Wang Yi pontua ainda, no texto, que a situação na Ucrânia, que tem sido acompanhada pela China, é algo que “não queremos ver”, acrescentando que o Conselho de Segurança da ONU deve “desempenhar um papel construtivo na resolução da questão ucraniana e que a paz e a estabilidade regional, bem como a segurança de todos os países, devem ser as prioridades”.
Em um outro comunicado divulgado na sexta-feira (25/02), o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Hua Chunying, afirmou que o país se opõe a qualquer ato que incite à guerra, defendendo ainda que a China em uma atitude responsável tenta dissuadir as partes a não aumentarem as tensões.
Os Estados Unidos, diz Hua, vêm fazendo justamente o contrário. “No período passado, os EUA enviaram pelo menos US$ 1,5 bilhão em mais de mil toneladas de armas e munições para a Ucrânia”, completou.
Partido Comunista da Ucrânia, Turquia, Palestina e de outros 31 países
Uma declaração conjunta assinada por partidos comunistas de 34 países diferentes dos continentes americano, africano, asiático e europeu, afirma que a situação na Ucrânia é um “conflito imperialista” com “consequências trágicas” para os povos da antiga União Soviética. “Tanto as forças burguesas quanto as oportunistas estão completamente expostas”, declara a nota.
O comunicado comunista defende que os acontecimentos no leste europeu ocorrem “no quadro do capitalismo monopolista”, ligados a intervenções dos EUA, Otan e UE, em uma “acirrada competição com a Rússia capitalista pelo controle dos mercados, matérias-primas e redes de transporte do país”.
“Denunciamos a atividade das forças fascistas e nacionalistas na Ucrânia, o anticomunismo e a perseguição aos comunistas, a discriminação contra a população de língua russa, os ataques armados do governo ucraniano contra o povo de Donbass”, diz o texto.
A decisão da Rússia, prossegue a coalizão comunista, de reconhecer a independência da região separatista de Donetsk e Lugansk e de defender uma intervenção militar, “está ocorrendo sob o pretexto da ‘autodefesa’”, da desmilitarização e “desfascistização” ucraniana e “não foi feita para proteger o povo da região ou a paz, mas para promover os interesses dos monopólios russos no território ucraniano e sua feroz competição com os monopólios ocidentais”.
“Expressamos nossa solidariedade aos comunistas e aos povos da Rússia e da Ucrânia e estamos ao lado deles para fortalecer a luta contra o nacionalismo, que é fomentado por cada burguesia”, esclarece o comunicando, apelando para que “povos dos países cujos governos estão envolvidos nos acontecimentos, especialmente por meio da Otan e da UE, mas também da Rússia” lutem “contra a propaganda das forças burguesas que atraem o povo para o moedor de carne da guerra imperialista usando vários pretextos espúrios”.
As agremiações comunistas exigem ainda o “fechamento de bases militares, o retorno para casa das tropas enviadas em missões no exterior” e o fortalecimento da “luta pelo desengajamento dos países dos planos e alianças imperialistas como a Otan e a UE”.