Hipster da Federal: Advogada diz que policial fazia tratamento contra depressão e delegado afirma que caso deverá ser classificado como 'legítima defesa'
Responsável pela investigação da morte do policial federal Lucas Valença, 36, conhecido como “Hipster da Federal”, o delegado Adriano Jaime deu detalhes sobre o depoimento do homem que atirou no agente após ter a casa invadida.
De acordo com o delegado, tudo indica que o caso será classificado como ‘legítima defesa’. O autor dos disparos, que pagou fiança e responderá ao crime em liberdade, teria sido ameaçado de morte antes de reagir à invasão do hipster da Federal.
Em depoimento à polícia, o atirador afirmou que estava dentro de casa com a esposa e a filha de 3 anos quando ouviu ameaças vindas de fora. “Saiam todos da casa, se não vou entrar e matar”, teria dito o PF. “Neste momento, temendo pela sua vida e da sua família, ele pegou a sua arma”, narrou o delegado.
A arma em questão seria uma espingarda de pressão adaptada para receber balas de calibre 22. Ainda segundo o delegado, o policial federal teria desligado o quadro de energia da casa e arrombou a porta do imóvel para entrar.
De acordo com informações do Boletim de Ocorrência da Polícia Militar, o hipster da Federal teria gritado que “havia um demônio” na casa, antes da porta da residência ser arrombada.
“Neste momento, o autor disse ‘não entre, estou armado’. Mesmo assim, a vítima entrou e foi para cima do autor, que desferiu um único tiro. Depois do tiro, a vítima começou a gritar que era policial. Nesse instante, o autor ligou imediatamente para a polícia militar solicitando uma ambulância”, explicou o delegado.
O policial chegou a receber os primeiros socorros, mas não sobreviveu. Na delegacia, o autor do crime foi preso em flagrante por posse irregular de arma de fogo. Após pagar fiança, de valor não informado, porém, ele foi solto.
Um inquérito policial foi aberto para investigar a morte de Lucas Valença. Segundo relatos de amigos e parentes, o policial federal estava em surto psicótico desde o dia 2 de março. “Pelas circunstâncias do fato, [o caso] seria legítima defesa”, pontuou o delegado.
Velório e depressão
O corpo de Lucas é velado nesta sexta-feira (4) no cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul, em Brasília. Veículos da Polícia Federal fizeram um cortejo antes do início do velório.
“Lucas era uma pessoa do coração bom, pacato e do bem. Sempre disponível e fazendo as coisas pelos outros”, comentou Virgínia Bravim, uma amiga do agente federal durante o velório. Ela contou ainda que conversou com Lucas antes do recesso de carnaval e que ele afirmou estar bem. “Não imaginava que isso fosse acontecer”, afirmou.
A advogada de Lucas diz que ele fazia tratamento contra depressão e viajou a Goiás para comemorar o aniversário do irmão. “O Lucas foi passar o fim de semana com a família em um rancho de propriedade dos pais. Ele estava com depressão, que se iniciou na pandemia. Ele nunca deu indícios, mas a família sabia. Ele estava fazendo terapia, foi o primeiro surto que ele teve”, disse a advogada Sindd Lopes.
O aniversário foi na terça-feira (1º) em um rancho em Mambaí, cidade que fica a cerca de 45 km de Buritinópolis, onde aconteceu o crime. Sindd contou que o policial estava no rancho da família, mas saiu a pé e ela acredita que ele não tenha conseguido voltar para casa, já que o local estava escuro. Ela disse ainda que ele estava desarmado e sem celular.
Conforme a advogada, a família acredita que Lucas estava tentando entrar na casa de sua família, quando acabou entrando na propriedade errada. “O surto fez com que ele não reconhecesse onde estava”, acredita a advogada.
Apesar de ter sido diagnosticado com depressão, a advogada contou que ele não estava afastado da corporação, mas fazia tratamento. “O Lucas sempre cuidou da saudade física e mental. Não bebia, não fumava, praticava esportes. Tinha o hábito de estar sempre em contato com a natureza, tanto que nas folgas e feriados ele sempre ia para o rancho da família”, disse.
Hispter da Federal
Lucas Valença ficou famoso nas redes sociais após aparecer ao lado de Eduardo Cunha em imagens que rodaram o Brasil quando o ex-deputado foi preso no âmbito da Operação Lava Jato em 2016.
Em posts em seu perfil nas redes sociais antes da fama, ele declarou voto em Aécio Neves (PSDB) nas eleições de 2014 e sugeriu que a vitória de Dilma Rousseff (PT) foi fraudada. Após a repercussão, agentes da PF receberam a orientação de ir mascarados à escolta de Cunha para o IML (Instituto Médico Legal) no dia seguinte à prisão.
A última polêmica que o envolveu surgiu após o agente ter participado dos programas “Encontro”, da TV Globo, e “Programa do Porchat”, da TV Record, o que teria desagradado a corporação.
Segundo o regulamento interno da corporação policial, é proibido esse tipo de autopromoção. Valença foi informado que estava violando o estatuto desde que foi ao programa da Globo e, em 2016, uma investigação foi aberta sobre o caso.
Apoiador de Jair Bolsonaro, em dezembro do ano passado o hipster da Federal postou uma foto ao lado do presidente durante a formatura de agentes da PF. Na legenda, escreveu: “Uma honra participar da formação dos novos policiais federais. E ainda rola foto com o presidente da República. Pensa bem! Obrigado por nos honrar com a sua presença”.
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