Enfermeira é vítima de racismo ao atender paciente em SP: “E agora, filho? Ela é negra”
Socorrista do Samu relata que família não queria que paciente vítima de AVC fosse atendido por ela. Desesperada, a esposa do paciente gritou: “E agora, filho? Ela é negra”. O filho respondeu: “Tudo bem, mamãe. Ela está usando luvas”
A enfermeira socorrista Laura Cristina Cardoso, do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), afirmou que deu assistência a um paciente mesmo depois de ter sido vítima de injúria racial durante atendimento no último sábado (12), na região central de São Paulo.
Ela disse que a família do paciente idoso com sequelas de AVC não queria que ele fosse atendido por ela durante a prestação do socorro, por ela ser negra.
Em nota, a A Prefeitura de São Paulo, por meio do Samu, disse que “lamenta o ocorrido e repudia qualquer caso de discriminação, com cunhos racistas e preconceituosos” (veja a nota completa abaixo).
Laura, que é enfermeira da Unidade de Suporte Intermediário, contou nas redes sociais que a equipe em que trabalha foi chamada para um atendimento a um homem de aproximadamente 90 anos, acamado, com sequelas de AVC, diabético, hipertenso e com demência.
Segundo a profissional, os socorristas foram recebidos em “um apartamento classe média” pelo filho do homem que precisava ser socorrido. Ele questionou a ausência de um médico na equipe. Um colega de Laura explicou que nem todas as equipes possuem médicos.
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“Entro no quarto onde está a vítima e uma senhora meio desesperada grita: ‘E agora fulano?! Ela é negra!’ Ao que o fulano responde: ‘Tudo bem, mamãe, ela está usando luvas!’. Tem que ter muita resiliência”, escreveu a socorrista em relato nas redes sociais.
“Naquela hora, vendo aquele idoso passando mal, o que eu vou responder para uma pessoa dessa? Também não reagi por causa do meu juramento. O juramento da Enfermagem é proteger a vida desde a concepção até a morte. E eu faço isso. Protejo a vida. Mesmo a vida dos racistas. Qualquer outra atitude poderia colocar a vítima em risco”, disse Laura.
A profissional afirmou que a vítima foi socorrida normalmente. “Devidamente atendida pelas minhas mãos negras enluvadas e deixada aos cuidados do hospital privado que a família preferiu”, destacou Laura.
A enfermeira contou ainda que essa não foi a primeira vez que ela foi agredida verbalmente. “Pedem para a gente entrar pelo elevador de serviço, não tocar nos pacientes. Isso é muito comum”, contou.
Laura não denunciou o crime. O advogado Fernando Brito disse que mãe e filho podem responder pelo crime de injúria racial. O crime é previsto no Código Penal, o qual estabelece punição de 1 a 3 anos de reclusão e multa para quem ofende a dignidade de outra pessoa utilizando elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, entre outros.
Discriminação contra enfermeiros
Segundo dados do Conselho Regional de Enfermagem e da Articulação Nacional da Enfermagem Negra, boa parte dos enfermeiros e técnicos em enfermagem que se declaram pretos ou pardos disse que já sofreu preconceito.
Dentre os que trabalham em São Paulo, 64% dos entrevistados relataram que já perceberam racismo dentro da unidade de saúde onde eles trabalham, e 55% por cento disseram que a discriminação veio dos pacientes que eles estavam atendendo.
A maioria, 84%, não vê nenhuma prática antirracista no ambiente de trabalho.
Veja a nota da Prefeitura de SP:
A Prefeitura de São Paulo, por meio do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), informa que lamenta o ocorrido e repudia qualquer caso de discriminação, com cunhos racistas e preconceituosos. Casos deste tipo devem ser tratados com a máxima seriedade e em todos os âmbitos.
As providências necessárias estão sendo tomadas e o Samu encoraja e estimula os profissionais para que, em casos como esse, sejam notificados de imediato às chefias e às autoridades competentes.
Com g1