Para professor de Harvard, "cenas caóticas" em território afegão foram interpretadas por Putin como "carta branca"
Eloá Orazem, Brasil de Fato
Com um orçamento de US$ 715 bilhões, cerca de R$ 3,6 trilhões, fomentando um exército com mais de 1,4 milhão de soldados ativos, os Estados Unidos nunca foram tímidos em relação ao seu poder bélico.
O país, que já puxou o gatilho em diferentes partes do mundo sob o pretexto de defender a democracia, optou por não fazê-lo contra a Rússia.
Em pronunciamento à nação na última terça-feira (1), o presidente Joe Biden reforçou a posição da Casa Branca, que é de não enviar soldados para a Ucrânia, fazendo das sanções políticas e econômicas sua principal estratégia de combate.
“Acho que muita gente ficou decepcionada quando foi anunciado, na semana passada, o primeiro pacote de sanções, achando que aquilo não seria o suficiente. O que vimos, porém, foi uma estratégia progressiva, ao ponto de, hoje, termos sanções duríssimas contra a Rússia“, diz Carol Savietz, Consultora Sênior no Programa de Estudos de Segurança do MIT.
As críticas domésticas recebidas pela administração de Biden se justificam, em partes, pelo histórico recente da geopolítica estadunidense. No ano passado, o líder da Casa Branca autorizou a retirada das tropas do Afeganistão, e o mundo viu ao vivo e a cores uma movimentação falha, que resultou na morte de diversos civis e numa grave mancha na reputação dos Estados Unidos.
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“A gente precisa lembrar que as primeiras movimentações do exército russo rumo às fronteiras ucranianas começaram logo após a saída dos EUA do Afeganistão“, afirma Gennadi Poberezny, professor associado do Instituto de Pesquisa Ucraniano de Harvard.
“As cenas caóticas no Afeganistão, junto ao discurso de Biden afirmando que nem os Estados Unidos e nem a Otan enviariam soldados à Ucrânia, foram interpretadas pelo Kremlin como uma espécie de carta branca. Foi uma luz verde, do tipo ‘faça o que quiser, que não vamos interferir’, e deixou a Ucrânia por si“, analisa o docente.
Já o pesquisador do Instituto de Estudos Políticos e Étnicos da Academia Nacional de Ciências da Ucrânia, Volodymyr Kulyk, questiona o comportamento de Washington. “Sempre que o adversário é mais fraco, os Estados Unidos atacam sem hesitar. Eles usam a força para invadir e derrubar regimes, e nem a matança de civis os faz parar. Mas agora que o adversário é forte, com acesso a armas nucleares, os americanos se comportam com mais cautela”, disse.
O pesquisador ucraniano diz de seu apartamento em Kiev que a população está “resistindo” como pode. “Quem pode sair, saiu. Eu tive que ficar para cuidar da minha mãe de 92 anos, e não tenho mais condições de deixar a cidade”, explica.
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