Racismo não

Jovem negra escuta em sala de aula que “devia voltar para a senzala”

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Caso de racismo em escola de SP foi menosprezado pela administração. Vice-diretora chegou a afirmar que "racismo é mimimi". Em protesto, estudantes queimaram as camisetas da instituição de ensino no pátio: "Escola racista, queremos Justiça"

A vice-diretora da Escola Estadual Marciano de Toledo Piza, em Rio Claro, interior de São Paulo, pediu descontinuidade da função após alunos divulgarem áudios em que ela fala que atos racistas cometidos por dois estudantes contra uma aluna negra não passava de “conversinha, mimimi e briguinha de meninas”.

Em termos técnicos administrativos, a servidora, identificada como Simone Erbetta, optou pela cessação voluntária da função, até que seja concluído o processo de apuração preliminar do caso. A informação foi confirmada pela Secretaria Estadual de Educação (Seduc) na última quarta-feira (23).

Segundo a pasta, o desligamento definitivo ou a permanência de Simone no cargo de professora só será definida após a investigação do caso. A Seduc informou ainda que os dois alunos que praticaram atos racistas contra a estudante Maria Júlia Quirino, de 15 anos, foram transferidos para outra unidade escolar.

Entenda o caso

Uma das ofensas a Maria Júlia foi feita na quarta-feira (16), dia do aniversário da jovem, que cursa o primeiro ano do ensino médio na instituição. Enquanto relatava a uma amiga que estava desanimada, um estudante disse que era por ela ser preta, e sugeriu que fosse trabalhar “na plantação de algodão” e “voltasse para a senzala”.

No dia seguinte, uma outra aluna disse em sala de aula que “não gostava de preto”, frase que, segundo Maria Júlia, era repetida diariamente pela menina.

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“Quando a outra menina disse que não tolerava preto na sala, fiquei muito ofendida, comecei a chorar e fui falar com um professor, que me disse para fazer uma denúncia na diretoria”, disse Maria Júlia ao Globo, que não sente vontade de ir à escola depois do ocorrido.

Posteriormente, a adolescente assumiu em mensagem no Instagram a um amigo que “fez uma menina negra chorar por racismo e agora as negrinhas da sala estavam revoltadas”.

Os prints da conversa viralizaram entre os estudantes e como a aluna que cometeu o ato racista não havia sido punida, eles organizaram o protesto.

Alunos protestam

Aos gritos de ‘escola racista, queremos justiça’, alunos protestaram no pátio da escola.

Os alunos também reclamaram da postura da direção da escola sobre o caso. Durante a manifestação, os estudantes queimaram uma camiseta do uniforme escolar. As aulas foram suspensas nesta sexta.

Estudantes queimaram uniforme da escola estadual de Rio Claro (Imagem: reprodução)

Durante o protesto os alunos divulgaram gravações feitas da conversa que a vice-diretora teve com os alunos na sala de aula, quando disse que não toleraria a interferência na apuração do caso. “Um assunto que nem é de vocês, que é conversinha, mimimi, briguinha de meninas, vocês vão se meter?”, afirmou.

Ainda no áudio, a vice-diretora afirma que os alunos fizeram um jogo da discórdia e que não devem apontar os colegas . “Se me chamar de gorda e eu não gostar é preconceito, se falar que o meu cabelo é comprido e eu não gostar, também é, então não interessa o cabelo dele, se ela vem de rabo de cavalo, ninguém tem nada com isso”, afirmou.

Em outros áudios divulgados, ela conversa com os alunos, pede desculpas por ter usado a expressão ‘mimimi’ e se compromete a pedir desculpas para a aluna pela forma como a chamou na sala de aula para conversar. Ela também alegou que, inicialmente, foi informada, que havia uma menina chorando por conta de um relacionamento e não sabia sobre o caso de racismo.

O que diz a Secretaria de Educação

Procurada, a Seduc informou que repudia qualquer ato de racismo dentro ou fora do ambiente escolar e que, assim que soube do episódio, a direção ouviu os estudantes envolvidos.

Informou também que os responsáveis foram comunicados e convocados a comparecer à escola para conversas individuais de mediação e, após o ocorrido, a gestão e professores da unidade elaboraram estratégias de atividades pedagógicas antirracistas voltadas para todos os alunos, que tiveram início na quinta-feira (17).

A Seduc também disse que o caso foi inserido na plataforma Conviva SP, sistema utilizado para acompanhamento de registro de ocorrências escolares na rede estadual de ensino.

Por fim, a pasta declarou que a escola coloca à disposição dos estudantes a assistência do programa ‘Psicólogos na Educação’, se autorizado por seus responsáveis.

Com G1

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