Após escândalo do 'MEC Paralelo', ministro da Educação deve pedir demissão a qualquer momento. Enquanto isso, procurador-geral Augusto Aras se finge de morto e confirma papel de 'engavetador-geral'
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou que o governo federal, a pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL), prioriza prefeituras cujos pedidos de liberação de verba foram negociados por dois pastores, que não têm cargo, mas atuam em um esquema informal de obtenção de verbas da pasta. A informação foi divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo, após acesso a um áudio vazado.
Na reunião no Ministério da Educação, Ribeiro fala sobre o orçamento da pasta, cortes de recursos da educação e a liberação de dinheiro para obras de creches, escolas, quadras ou para compra de equipamentos de tecnologia. De acordo com a Folha, os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura têm, ao menos desde janeiro de 2021, negociado com prefeituras essas verbas federais. “Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, diz o ministro na conversa.
“Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do (pastor) Gilmar”, acrescentou o ministro, que também indica haver uma contrapartida à liberação de recursos da pasta. “Então o apoio que a gente pede não é segredo, isso pode ser (inaudível) é apoio sobre construção das igrejas.”
Segundo relatos obtidos pelo jornal, junto a gestores e assessores, os pastores negociam pedidos para liberação de recursos a prefeituras em hotéis e restaurantes de Brasília. Depois, entram em contato com o ministro Milton Ribeiro, que determina ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) a oficialização do empenho. Questionados, o governo e o FNDE não responderam. Os pastores Gilmar e Arilton também optaram por não se manifestar sobre o caso.
Os dois pastores já apareceram ao lado de Bolsonaro, participando de agendas oficiais e discursando em eventos como se fossem integrantes do governo federal desde 2019, antes mesmo de Milton Ribeiro tomar posse. Arilton chegou a viajar em avião da FAB ao lado do atual ministro para evento oficial em Alcântara (MA).
DEMISSÃO
Milton Ribeiro estaria sendo pressionada por outras lideranças evangélicas e também pelo centrão a apresentar sua carta de demissão nas próximas horas. No Planalto, a avaliação é de que a permanência de Milton no cargo é ‘insustentável’.
Ribeiro tenta emplacar em seu lugar o secretário-executivo Victor Godoy, mas o Centrão quer a vaga. Ciro Nogueira defende a nomeação do presidente do FNDE, Marcelo Lopes da Ponte, seu ex-chefe de gabinete.
ARAS
Cobrado a atuar para evitar o balcão de negócios que virou a gestão de Milton Ribeiro, Aras diz que a PGR não recebeu, até o momento, nenhuma representação “decorrente de informações divulgadas em matérias jornalísticas que tratam de aspectos relacionados ao funcionamento do Ministério da Educação”.
“Como de praxe, qualquer representação acerca do tema que eventualmente seja protocolada, será devidamente analisada pela assessoria competente e as providências cabíveis tomadas e informadas nos respectivos autos”, diz Aras.