Mulheres violadas

“Pela primeira vez na vida estou com medo de sair na rua”, diz Mamãe Falei

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Antes de se tornar deputado, Mamãe Falei ficou conhecido por intimidar e ridicularizar pessoas nas ruas. Em áudio divulgado, o parlamentar pede ajuda para “esclarecer” acusação de estupro e diz que está com medo de sair de casa

Antes de ser eleito deputado estadual em São Paulo, Arthur ‘Mamãe Falei’ do Val ganhou milhares de seguidores no Youtube com vídeos em que aparecia intimidando e ridicularizando pessoas de visões políticas distintas das suas.

Em vídeos editados, Arthur vendia a imagem de alguém corajoso e articulado para enfrentar o que chamava de ‘esquerdistas’. A máscara do deputado caiu na última semana, com o vazamento dos áudios repugnantes sobre as refugiadas ucranianas.

Com a repercussão dos áudios, a história de um processo que Arthur respondeu por violência sexual contra uma adolescente em 2016 voltou a ser lembrada, e ele agora afirma que ‘pela primeira vez na vida’ está com medo de sair de casa. Saiba mais sobre esse episódio aqui.

Arthur enviou um áudio aos seus seguidores pedindo ajuda para “esclarecer” a denúncia. Na gravação de três minutos, o deputado estadual descreveu ter ido a um centro de ensino do Paraná em outubro de 2016 e, após uma confusão, ter parado numa delegacia. “Pela primeira vez na minha vida, eu realmente estou com medo de sair na rua. Só falta agora as pessoas acharem que sou um estuprador de uma criança de 16 anos”.

O líder do MBL (Movimento Brasil Livre) também se disse assustado com a queima de um boneco com a sua cara em uma manifestação pelo Dia Internacional da Mulher, na terça-feira (08).

Violou direito internacional

Advogados especializados em Direito Internacional e Defesa afirmam que Arthur do Val violou dispositivos legais, diplomáticos e até uma convenção internacional de guerra caso fique comprovado que ele contribuiu para a fabricação de coquetéis molotov na Ucrânia, como relatou em suas redes sociais.

Num vídeo divulgado por seu perfil no Instagram, ele afirma: “Fizemos lá um monte de coquetel molotov. Para você ter uma ideia, a unidade que a gente fez, [produziu] mais de 75 mil coquetéis molotov”.

Para o advogado Tarciso Dal Maso, consultor legislativo do Senado para Relações Internacionais e Defesa, a fabricação de coquetéis molotov por parte de um parlamentar brasileiro configura uma violação do Protocolo 3 da Convenção de 1980 sobre Armas Convencionais da qual o Brasil é signatário.

“Como parlamentar, Arthur do Val é um agente do Estado brasileiro no exterior. Então ele deve respeitar e seguir as normas de forma condizente com esse status. Coquetel molotov é uma arma incendiária. Em 1980, o Brasil ratificou a convenção internacional que estabelece a proibição de armas incendiárias. Entram nessa convenção armas químicas, mina terrestre, lança-chamas e outras”, afirma.

Outro aspecto que, segundo Dal Maso, pode ser objeto de questionamento jurídico é em relação ao Artigo 4º da Constituição Federal, trecho da Carta que lista os princípios que regem as relações internacionais do Brasil. “Ao contribuir para a produção de explosivo, ele também viola o item IV ao Artigo 4º, que prima pela não-intervenção. Pela descrição, o que ele fez, efetivamente, configura uma intervenção no conflito”, afirma.

A viagem de Arthur do Val à Ucrânia chamou mais a atenção por uma sequência de áudios de WhatsApp distribuídos pelo deputado a um grupo de amigos. Ao descrever sua passagem pelo país, afirmou que as mulheres ucranianas eram “fáceis” por serem “pobres”. Entre outras manifestações de teor misógino, comparou a fila de refugiadas ucranianas à fila de uma balada em São Paulo.