Gerson Lavísio atuava como médico de resgate na concessionária que administra a Rodovia Presidente Dutra. Ele foi desmascarado após ordenar a amputação da perna de vítima de engavetamento. O procedimento foi realizado ainda na rodovia e colegas desconfiaram da técnica utilizada pelo falso médico
Gerson Lavísio, de 32 anos, atuava como médico de resgate na concessionária que administra a Rodovia Presidente Dutra. Um engavetamento que ocorreu na rodovia no último domingo (13) acabou desmascarando o homem, que usava um falso diploma para exercer a medicina.
O falso médico foi preso e denunciado ao MPF (Ministério Público Federal). No entanto, apesar da admissão do golpe, ele foi liberado após assinar um termo circunstanciado.
A farsa de Gerson foi descoberta depois que colegas que o acompanhavam no atendimento às vítimas de um acidente, envolvendo três caminhões, desconfiaram das credenciais do suposto médico. Gerson autorizou a amputação da perna de um dos motoristas envolvidos, um homem de 36 anos, que estava preso às ferragens.
O procedimento, realizado ainda na rodovia, teria acontecido com uma técnica considerada “duvidosa” pelos profissionais de saúde, o que despertou dúvidas de outros médicos da equipe, responsáveis por acionar a Polícia Rodoviária Federal.
Ao consultarem os documentos de Gerson, os policiais descobriram que ele usava um CRM que estava em nome de outro profissional, que já havia morrido. O falso médico então foi levado à delegacia da Polícia Civil onde prestou depoimento e confessou não ser médico, segundo informações das autoridades.
“A Concessionária RioSP lamenta muito o ocorrido e se solidariza com a vítima e seus familiares. O falso médico foi desligado imediatamente e não presta mais serviços à terceirizada Enseg, empresa contratada pela concessionária. Infelizmente também fomos vítimas desta fraude que se consumou com o exercício ilegal da profissão, atingindo a todos”, disse a empresa em nota.
Inscrição no Cremesp
Como parte da farsa, Gerson Lavisio também protocolou um pedido de inscrição junto ao Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo), utilizando um diploma falso. Ele alegava ter se formado em 2021 em uma universidade paulista de medicina, segundo informações do órgão, que recebeu o pedido do suspeito no mês passado.
“O falso médico apresentou o protocolo de solicitação de inscrição no Cremesp, o que foi considerado suficiente para sua contratação pela Enseg. Vale ressaltar que Gerson não possuía número de CRM e, portanto, não estava habilitado para atuar. O Cremesp esclarece, ainda, que vai investigar a contratação do falso médico por parte da Enseg e de outras instituições aonde o mesmo atuou, e que adotará as providências cabíveis”, explicou o Conselho.
Outras farsas
Essa não é a primeira vez que o homem tenta se passar por médico. Em 23 de dezembro, ele foi flagrado em uma unidade de atendimento em Parelheiros, na capital.
No boletim de ocorrência diz que ele foi contrato por uma empresa terceirizada de saúde e que o diretor clínico suspeitou quando passou a ver erros nas fichas médicas. Quando foi flagrado, ele já tinha atendido pelo menos 15 pessoas no plantão.
No dia, ele também apresentou um CRM de outro médico. Com isso, foi levado à delegacia, mas o caso foi registrado como exercício ilegal da profissão, que tem pena menor de dois anos e, por isso, não foi preso.
Ao longo de sua falsa trajetória médica, ele usou registros de dois profissionais diferentes, sempre apresentando diploma falso.
O MPF informou que o caso será distribuído a um procurador da República, que fará a análise preliminar dos fatos para determinar os próximos passos. Não há um prazo definido para a conclusão dessas etapas.