Mensagens revelam últimos contatos de brasileiros que pretendiam se alistar a tropas ucranianas para lutar na guerra. Um deles chega a fazer gracinha: "O comandante tá chegando". Mas registros indicam que eles podem ter sido capturados ou mortos por russos antes mesmo do alistamento oficial. O caso é tratado pelo Itamaraty como "desaparecimento"
Mensagens de celular revelam os últimos contatos de brasileiros que foram para a Ucrânia lutar contra a Rússia na guerra. Os textos indicam que eles podem ter sido capturados ou mortos antes mesmo de se alistarem oficialmente na Legião Internacional.
O último contato ocorreu na sexta-feira (1) quando chegaram à Varsóvia, capital da Polônia. Dali, planejavam seguir para a fronteira com a Ucrânia. O caso vem sendo tratado pelo Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) como “possível desaparecimento”.
“O Itamaraty, por meio de sua Embaixada em Varsóvia, tomou conhecimento de possível desaparecimento de nacionais na Polônia e está à disposição para prestar toda a assistência consular cabível aos familiares”, disse o órgão em nota.
O que aconteceu?
Vinícius de Andrade enviou a própria localização quando estava na região central de Varsóvia. Na sequência, informou estar a caminho de Lviv, cidade ucraniana na fronteira com a Polônia, onde combatentes voluntários são recrutados pela Legião Internacional de Defesa Territorial da Ucrânia.
Pouco mais de uma hora depois, disse estar cansado. Em seguida, revelou os planos de deslocamento. “Ônibus para Lviv e trem para Kiev [capital ucraniana]”.
À noite, Vinícius trocou mensagens com um outro brasileiro que se identifica como aliado das tropas ucranianas na guerra enquanto planejava seguir em direção à fronteira com o país vizinho.
Na ocasião, disse que tinha instalado no celular o aplicativo de uma empresa de transporte particular que também funciona na Polônia.
O homem que o aguardava, que diz estar na Ucrânia há duas semanas, desaconselhou o uso do aplicativo no país, sob a alegação de que não seria seguro. “Mano, não confia em [nome do aplicativo de transporte por aplicativo] aqui”.
Nas mensagens, ele dizia estar preocupado enquanto monitorava os deslocamentos dos dois brasileiros supostamente em território polonês enquanto alegava estar à espera deles para que pudessem se alistar junto às tropas ucranianas em conflito.
Outra pessoa passa a responder as mensagens
No dia seguinte, as mensagens enviadas ao número de Vinícius foram respondidas por outra pessoa com um atraso de mais de 12 horas, preocupando as pessoas que monitoravam a viagem.
“Vinicius, estou preocupada com você”, escreveu a amiga. “Pelo menos dá notícia. Geral preocupado. Precisamos saber onde você está para lhe buscar”, registrou o outro brasileiro.
As respostas, em português, ignoraram pedidos por fotos do ex-fuzileiro, sob a alegação de que ele estaria “dormindo”. Além disso, as mensagens eram parcialmente incompreensíveis e pareciam ter sido traduzidas com o auxílio de algum aplicativo para celular.
Em uma delas, o texto foi escrito no alfabeto cirílico para se referir à cidade ucraniana de Lviv, destino combinado pelos brasileiros como ponto de encontro no país invadido por tropas russas.
Em seguida, os perfis mantidos em nome de Vinicius de Andrade no Instagram e no Facebook foram excluídos das redes sociais, dificultando a identificação de amigos e parentes.
“O comandante tá chegando”
Antes de viajar para a Polônia, o homem que se identificou como o ex-fuzileiro naval Vinicius de Andrade enviou para a amiga fotos enquanto comprava equipamentos militares para serem usados após o recrutamento junto às tropas ucranianas.
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Na noite de 30 de março, ele informou ter embarcado do aeroporto internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, rumo a Paris, capital francesa. “O comandante tá chegando!”, repetiu, aos risos, em um vídeo com a vista do voo. Da França, ele contou que partiu para Polônia e, depois, não foi mais localizado.
Confira prints das mensagens: