Indígena é agredida e jogada pelos cabelos para fora de carro de aplicativo no Paraná
Professora de origem indígena é agredida e discriminada por motorista de aplicativo. A mulher foi chamada de ‘pé de barro’ e ‘índia piranha’ após informar que GPS do motorista apresentava destino diferente do dela
Caio César, CartaCapital
Uma professora de origem indígena foi agredida por um motorista do aplicativo 99 durante viagem com destino ao território Floresta Indígena Estadual Metropolitana, em Piraquara (PR). O caso ocorreu na quarta-feira 20, por volta das 18h, após Dayane Padilha perceber que o endereço indicado no GPS do motorista não correspondia ao destino correto.
Ao ser confrontado sobre o erro no destino, o motorista teria exigido que ela pagasse mais 15 reais para percorrer o trajeto extra ou descesse no meio da rua. A professora insistiu que deveria desembarcar no local correto ou retornar ao ponto de embarque, o que fez o motorista refazer o trajeto. Neste percurso, ele teria começado a ofendê-la, chamando-a de ‘pés de barro’ e partido para a agressão física, como mostra o vídeo abaixo:
A gravação mostra o momento em que o motorista tenta atingir Dayane com um soco e, tenta a empurrar para fora do veículo pelos cabelos. A professora, que ralou mãos e joelhos, conta ter sido deixada no meio da rua e teve que pedir ajuda para membros da comunidade indígena para conseguir chegar ao território.
No mesmo dia, Dayane tentou registrar um boletim de ocorrência na Delegacia da Mulher, mas foi informada que não poderia realizar o procedimento ali por não se tratar de um caso coberto pela Lei Maria da Penha. Dayane foi à Delegacia de Piraquara na quinta-feira 21, mas só conseguiu registrar o boletim nesta sexta por conta do feriado.
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Em entrevista ao site curitibano Plural, Dayane afirma que antes da discussão o motorista já havia mostrado sinais de racismo. “Ele já tinha reclamado de a rua ser de estrada e que isso poderia estragar o carro dele, e quando me ouviu conversando com o Eloi [um dos líderes das comunidades] para saber exatamente o endereço, já começou a falar que não levaria ninguém para aldeia indígena e começou a reclamar também porque aquela era a rua do presídio”, afirma.
A professora fez uma reclamação na central de denúncias do aplicativo, mas recebeu retorno da empresa somente depois que o caso viralizou nas redes sociais. A companhia afirmou que bloqueou o motorista da plataforma.
Em nota, a 99 lamentou o episódio e disse que além do bloqueio, mobilizou uma equipe para oferecer acolhimento à vítima.
“Esclarecemos que temos uma política de tolerância zero em relação a qualquer tipo de discriminação e violência e repudiamos veementemente o caso […] A plataforma está disponível para colaborar com as investigações das autoridades locais”, reforçou a empresa.