Quem se arrisca a ficar ao lado do tucano gaúcho?
Se Leite crescer nas pesquisas, o golpe de Aécio Neves contra Doria pode ser consumado e o vencedor das prévias do partido entregaria a candidatura ao perdedor
Moisés Mendes*, em seu blog
A senadora Simone Tebet, pré-candidata do MDB, está tentando se fortalecer como um dos nomes que a terceira via (que insiste em dizer que existe) pode anunciar até o dia 18 de maio por todos os partidos de “centro”. Esse nome seria o candidato de todos.
Simone deu entrevista à Sabatina da Folha e deve achar que saiu fortalecida porque não disse nada com nada.
Essa capacidade de não se posicionar sobre questões fundamentais pode ser o seu trunfo.
Todos os partidos da via em decomposição buscam um só candidato, o menos pior entre os piores, escolhendo o de melhor desempenho nas pesquisas.
Simone quer ser a candidata de consenso dessa turma, ou nada feito. Ela não aceita, como disse à Folha, ser candidata só do MDB e muito menos ser a vice de algum outro nome (numa clara referência a Leite).
O nome de consenso sairá desse grupo, que tem o MDB, o União Brasil, que apresenta até agora Luciano Bivar (que ninguém sabe quem é), o PSDB, que tem João Doria (sempre sob a ameaça de golpe de Eduardo Leite), e o Cidadania do senador Alessandro Vieira.
Uma hipótese a ser considerada criaria um problema não só para o PSDB. Se Leite crescer nas pesquisas, o golpe de Aécio Neves contra Doria pode ser consumado e o vencedor das prévias do partido entregaria a candidatura ao perdedor.
Se o tucano gaúcho tiver nas pesquisas mais eleitores do que todos os outros, alarga-se o impasse: os demais partidos apoiariam um nome que já ameaçou sair do PSDB e ir para o PSD?
Que voltou atrás e hoje é um zumbi dos tucanos, circulando agora com Paulinho da Força (na foto com Aécio), do Solidariedade? Paulinho está magoado por ter sido vaiado por petistas.
É possível que MDB, União Brasil e Cidadania se aliem a um golpista, em nome da sua performance nas pesquisas? Os outros partidos correriam esse risco?
O MDB é diabo velho e profissional demais para, numa escolha entre Lula e Leite, ficar com o sujeito que não sabe para que lado vai.
Não se sabe nem se Leite continuará aparecendo nas pesquisas. Em respeito ao critério de que, no atual estágio, só aparecem nas listas pré-candidatos com algum suporte dos partidos, e que Leite não é candidato de partido algum, seu nome não deveria constar das consultas aos eleitores.
Mas Datafolha e outros institutos continuam apostando que ele pode salvar a direita e a terceira via, com o fim de Sergio Moro, e por isso seu nome ainda pode aparecer nas amostragens.
Nessa quarta-feira, o candidato a candidato tucano dos inimigos de Doria estará em Fortaleza, onde inicia sua campanha. O brancaleone escolheu o Estado do seu padrinho Tasso Jereissati.
Há uma curiosidade que não é apenas um detalhe dos encontros que começam pelo Nordeste: ele vai se apresentar como candidato de quem à presidência? De Jereissati? de Fernando Henrique?
Eduardo Leite é a figura mais esdrúxula, pelas circunstâncias que ele mesmo criou, de uma eleição no Brasil desde a redemocratização.
Nunca houve nada parecido com Eduardo Leite, que já se jogou no colo de Bolsonaro em 2018, depois perdeu as prévias para Doria e se atirou nos braços do PSD de Gilberto Kassab e agora voltou a se proteger sob as asas dos tucanos mais velhos.
Eduardo Leite parece estar se cacifando para ser candidato a qualquer outra coisa. Ganha exposição e se lança depois ao Senado ou à Câmara dos Deputados. Mas já está marcado como golpista dentro do próprio partido.
*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim).