Os imbrocháveis imaginavam estar blindados aos questionamentos sobre os artifícios que resolveram utilizar para manter o pinto duro, mesmo que a conta seja paga pela população. O governo tem lutado para barrar processos de investigação com aplicação de sigilos
Anderson Pires*
O Presidente Bolsonaro já deu diversas demonstrações de insegurança em relação à virilidade e sexualidade. Existe uma verdadeira série de episódios em que fez questão de ressaltar sua disposição para o sexo, além de muitas declarações homofóbicas. Freudeanamente, desconfie de quem muito fala.
Bolsonaro criou até um neologismo para propagandear a suposta disposição e se declarou “imbrochável”. O presidente é oriundo das Forças Armadas, ambiente que muito pouco avançou em relação ao debate sobre sexualidade e diversidade de gênero, algo que, certamente, contribuiu para a recorrência das declarações. Mas o que poderia ser apenas mais uma bravata presidencial, tomou nuances de segredo revelado.
Entre tantas denúncias que pairam sobre o governo, as mais novas envolvem as Forças Armadas, medicamentos e próteses destinadas a homens com problemas de ereção. As explicações sobre a compra de trinta e cinco mil comprimidos de Viagra e próteses penianas, que poderiam chegar ao valor de R$3,5 milhões, não convenceram quase ninguém.
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Os militares sempre extrapolaram o papel de defesa da integridade e soberania da Pátria. Por mais que saibam que não cabe debater temas de ordem política ou a atuação dos poderes constituintes, o Brasil já foi vítima de uma ditadura que durou vinte um anos, em decorrência da intromissão e propagação do moralismo conservador que os generais resolveram impor.
Assim como em 1964, o discurso de austeridade e combate a corrupção é adotado por Bolsonaro. Para os moralistas dos quarteis, os corruptos estavam todos do lado de fora. Tentaram construir essa versão na base da violência, autoritarismo, cerceamento da liberdade de expressão e ausência de apuração. Como se os militares fossem isentos de desvios éticos.
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Porém, exemplos de uso do dinheiro público sem o devido zelo não faltam envolvendo militares. Até hoje não se sabe quantas vezes a Transamazônica foi paga, muito menos a justificativa para a compra de oito usinas nucleares e apenas uma ter sido concluída. Agora, o governo de Bolsonaro faz questão de adotar os mesmos métodos autoritários e imposição de sigilo para encobrir denúncias de corrupção e práticas que soam como pelo menos imorais. O fato de ter sido eleito democraticamente não lhe tornou diferente dos generais da ditadura nesse aspecto.
O caso da compra de milhares de comprimidos de Viagra e próteses penianas expõe a lógica distorcida como os militares bolsonaristas encaram a coisa pública. Reforça a tese que aquilo que podem reprimir ou esconder não se configura em delito. Para um governo que dizia implacável contra a corrupção, a permissividade é corriqueira quando a finalidade é atender aos interesses do presidente e dos seus, sejam os colegas de farda, seus filhos, aliados políticos ou amigos pastores.
Os imbrocháveis imaginavam estar blindados aos questionamentos sobre os artifícios que resolveram utilizar para manter o pinto duro, mesmo que a conta seja paga pela população. O governo tem lutado para barrar processos de investigação com aplicação de sigilos centenários e interferências na Polícia Federal e no Ministério Público. Depois de tantas suspeitas levantadas na CPI da Covid, estão enrolados com a possível abertura da CPI do MEC, que pode expor esquemas bilionários operados por pessoas amigas e com livre acesso à família Bolsonaro.
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Contudo, apesar do vasto cardápio de denúncias e possíveis CPIs, seria hilário se o moralismo dos militares, mais a necessidade de autoafirmação da masculinidade, tivesse como desfecho a descoberta que vale tudo para uma ereção patrocinada com dinheiro público. Vamos aguardar se as explicações para a compra do Viagra e das próteses serão convincentes. Caso contrário, podemos ter parlamentares defendendo a CPI do Pau Mole, que poderá revelar segredos que abalem a virilidade presidencial.
*Anderson Pires é formado em comunicação social – jornalismo pela UFPB, publicitário, cozinheiro e autor do Termômetro da Política.
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