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Canadá treinou batalhão neonazista na Ucrânia, diz jornal

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Imprensa canadense investiga a relação da ajuda militar oferecida à Ucrânia com o treinamento de membros do regimento Azov

Batalhão Azov da Guarda Nacional Ucraniana (Imagem: Gleb Garanich | Reuters)

Camila Araújo, Opera Mundi

Integrantes do batalhão neonazista Azov receberam treinamento de militares canadenses em 2020, no centro de Zolochev, oeste da Ucrânia, segundo uma investigação realizada pela Radio-Canada, publicada no início do mês de abril.

Apesar de as Forças Armadas Canadenses (CAF, na sigla em inglês) negarem que tenham oferecido apoio a estes grupos, documentos ligados à missão chamada de “Operação Unificador” e fotos tiradas no centro de treinamento mostram o contrário. Publicadas em novembro de 2020 nas redes sociais da Guarda Nacional Ucraniana, é possível ver ao menos dois soldados que usam símbolos relacionados ao regimento Azov enquanto participam de treinamentos.

De acordo com a reportagem, por conta disso, a unidade neonazista agora se orgulha de poder treinar seus próprios soldados de acordo com os “padrões ocidentais”.

A pista inicial de que o treinamento teria acontecido foi revelada em setembro de 2021, por um grupo de pesquisadores da Universidade George Washington, nos Estados Unidos. Na ocasião, os especialistas descobriram que membros do grupo autodenominado Ordem Militar Centúria, que tem ligações com a extrema direita de Azov, estavam se gabando de terem sido treinados pelos canadenses.

No mesmo ano, uma investigação do jornal Ottawa Citizen descobriu que oficiais canadenses não apenas se reuniram e receberam instruções dos líderes do batalhão Azov em 2018, mas também não denunciaram a ideologia neonazista da unidade – a principal preocupação era de que a mídia divulgasse que a reunião havia ocorrido, aponta a reportagem.

No entanto, oficiais e diplomatas se permitiram serem fotografados com membros do batalhão, que foi então usado online por Azov como propaganda.

Já uma matéria da emissora CTV News, publicada em 28 de abril, informou que um porta-voz do batalhão Azov disse que os membros foram excluídos do treinamento com instrutores canadenses enquanto grupo, mas que “escreveram um programa” para cursos próprios e as forças do Canadá “foram instrutores em todas as disciplinas no centro de treinamento da Guarda Nacional da Ucrânia”.

O veículo ainda encontrou evidências em uma rede social do líder do regimento Azov, Kyrylo Berkal, de membros treinando com instrutores canadenses. As redes sociais da Berkal apresentam símbolos nazistas e outras visões extremistas.

Um porta-voz do Comando Canadense de Operações Conjuntas das CAFs disse em um comunicado ao CTV News que “todos os membros da Operação Unificador são instruídos a ajudar a reconhecer manchas e insígnias associadas ao extremismo de direita”.

As forças canadenses disseram ainda que tomam “todas as medidas razoáveis” para garantir que nenhum treinamento seja fornecido aos neonazistas, mas que “a Ucrânia é um país soberano”, responsável pelo recrutamento e verificação de suas próprias forças de segurança.

O Exército canadense também destacou que a ajuda militar à Ucrânia é limitada “exclusivamente” ao Ministério da Defesa da Ucrânia.

O governo federal do país norte-americano já gastou mais de US$ 890 milhões (mais de R$ 4 bilhões) treinando forças ucranianas desde 2014.

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