Antes mesmo de qualquer aprofundamento histórico-teórico: mergulhados que estamos no neofascismo, vivendo sob a égide de um golpe que começou em 2016, a primeira tarefa é sobreviver e resistir
Julian Rodrigues*, Viomundo
O título desse artigo não é click bait direcionado a alguns setores específicos da vanguarda de esquerda. Trata-se de uma discussão mais do que legítima: teórica, estratégica, programática, tática e conjuntural.
A esquerda socialista brasileira se organiza partidariamente no PSOL, no PCdoB, no PCB/PSTU, mas majoritariamente no PT. Há uma forte esquerda socialista nos movimentos sociais e nos partidos que orbitam o campo democrático-popular hegemonizado pelo PT.
Não é novidade nenhuma nem algo estranho à cultura petista críticas ao rebaixamento programático, à prioridade institucional, aos limites das alianças – ou seja, à política majoritária do PT nos últimos anos.
Mas, se é assim, por que deveriam os comunistas e socialistas apoiar candidaturas do PT ou integrar o Partido?
Como avançar no acúmulo revolucionário/socialista/democrático-popular e, ao mesmo tempo, fortalecer o petismo?
Antes mesmo de qualquer aprofundamento histórico-teórico: mergulhados que estamos no neofascismo, vivendo sob a égide de um golpe que começou em 2016, a primeira tarefa é sobreviver e resistir.
Resistir agora aos movimentos que apontam para o fechamento total do regime, e à necropolítica ultraliberal que opera no sentido mesmo de inviabilizar a própria existência minimamente digna de milhões de trabalhadores/as.
Derrotar eleitoralmente o bolsonarismo neofaxo é o primeiro passo. Gigante e minúsculo ao mesmo tempo – dialeticamente.
A batalha para reverter as condições estruturais da atual correlação de forças internacional, continental e nacional – completamente desfavorável às massas empobrecidas — será longa e sinuosa.
O socialismo está na ordem do dia
Sim, não é mero saludo à la bandera.
Trata-se de uma resposta orgânica, mundial, estrutural, articulada e sistêmica a esse estado de coisas verdadeiramente distópico que é esse nosso atual capitalismo neoliberalóide.
Rejeitar as projeções de um mundo high tech, ubercapitalista, ultramonopolista, coisificador, hiper-explorador, colonialista, crudelíssimo, desesperançoso – que tem Elon Musk como referência.
É hora de voltar à Rosa Luxemburgo: “socialismo ou barbárie”.
Não, o PT não é um partido majoritariamente revolucionário. Nem possui uma estratégia socialista consolidada.
Mas é o Partido que elaborou e defendeu, nos anos 1980 e 1990, a estratégia e o programa democrático-popular – uma via, um caminho para a revolução brasileira para a construção do socialismo – que passaria pela eleição do presidente da República (Lula lá, demarcando e catalisando todas as forças progressistas, socialistas, transformadoras, nacionalistas, comunistas, radicais, reformistas, críticas, anticapitalistas, socialdemocratas).
O bolivarianismo em geral — o chavismo e a experiência da Bolívia com Evo em particular — situam-se, a rigor, dentro do mesmo paradigma do socialismo petista – essa espécie de atalho da estratégia democrático-popular-socialista.
Nos remetem a Allende e à estratégia socialista da esquerda naquele Chile pré-golpe.
A vitória eleitoral de Lula não está garantida, muito menos o golpe dentro do golpe é fato dado a priori.
Eleger Lula será uma reação político-cultural-ideológica, um apelo pela sobrevivência mesmo. O bolsonarismo persistirá.
Para a esquerda socialista, engajada toda desde já na campanha Lula (exceto PCB-PSTU), um futuro governo é uma janela para acumular forças e apontar caminhos mais ousados.
O Brasil é muito grande, importante demais. Lula presidente impacta o cenário mundial, joga a favor de um mundo menos americanizado, fortalece todas perspectivas, todas correntes humanistas e pluralistas.
As forças socialistas da esquerda nacional sociais – estamos com Lula Presidente.
Mas, é preciso mais. E queremos nós todas mais. Bem mais.
Organização, disputa ideológica, formação política, acúmulo de forças para ir mais longe. Combinar avanços institucionais e grande mobilização popular. Revolucionar nossa comunicação que é tosca. Tudo muito difícil, entretanto, tudo muito possível.
A eleição de Lula abriria (abrirá) um novo período em nossa história, com melhores condições para a luta social – sindical, popular, ideológica.
Cabe a nós navegar mais ousadamente, aproveitar para ganhar mais pessoas, fazer mais propaganda, formar mais gente, organizar, lutar mais, nos enraizarmos, “ir a onde o povo está” – integrar ruas e redes.
Sem esquecer nunca que nosso coração é vermelho e bate do lado esquerdo do peito.
Lula já, como passo primeiro para recolocar na ordem do dia a luta socialista – pensar em um movimento capaz de recrutar milhares e empolgar milhões. Para mudar de verdade esse brasilsão injusto de meu deus.
*Julian Rodrigues, 48, professor, jornalista, é doutorando em América Latina na USP, militante LGBTI e dos Direitos Humanos.
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