Direita

Facções gaúchas avisam: Aqui o presidente do Supremo não entra

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(Imagem: Nelson Jr. | STF)

Moisés Mendes*, em seu blog

Não são os milicianos seguidores de Daniel Silveira os articuladores de um constrangimento em tom de ameaça ao presidente do Supremo. São altos empresários gaúchos, gente que não fica brincando de cancelar a chef Paola Carosella na Internet.

O cancelamento no Rio Grande do Sul é real, presencial, ameaçador e desafiador do Judiciário. Luiz Fux não fará uma palestra no dia 3 de junho em Bento Gonçalves porque a elite empresarial se articulou e avisou que não seria uma boa ideia.

A entidade que iria promover o evento, o Centro da Indústria, Comércio e Serviços (CIC), decidiu recuar. O argumento segue a linha das desculpas clássicas consagradas por zonas tomadas por facções de traficantes e por organizações mafiosas: questão de segurança. O bom é não chegar perto.

A mais poderosa entidade empresarial da região mais rica do Rio Grande do Sul cedeu às pressões de empresários bolsonaristas e cancelou o evento. E sai dizendo que não haveria como garantir que o ministro se sentisse seguro.

O roteiro é de dar inveja a militantes da Ku Klux Klan, porque nem no Texas os supremacistas americanos se atreveriam a ameaçar o presidente da Suprema Corte.

A CIC convidou Fux para um jantar em que o ministro falaria sobre “Risco Brasil e Segurança Jurídica”. Empresários bolsonaristas da cidade e da região reagiram, retiraram apoio ao encontro e exigiram o cancelamento da palestra.

Estão identificados, por reportagens em jornais locais e informações da Folha de S. Paulo, grupos que explicitaram o boicote. É apontada, entre os líderes da retirada de apoio, a direção da poderosa Sicredi, uma cooperativa de crédito que funciona como banco.

Faz parte dessa frente o industrial Roni Kussler, da fábrica de produtos de limpeza Saif, que também solicitou à CIC que desconvidasse Fux. A Folha informa que Kussler publicou o pedido em nota no Face Book, mas depois deletou o texto.

A pressão fez com que a CIC admitisse publicamente que não haveria como garantir a segurança do ministro. A desculpa foi essa: a área onde fica a sede está em obras para a feira ExpoBento e por isso seria exposta ao trânsito de muita gente.

A OAB do município decidiu assumir a empreitada em outro local. Mas, percebendo o clima de tensão, o STF comunicou nessa quarta-feira à OAB que Fux não iria mais. O argumento do STF: falta de segurança.

É um vexame para Bento, que está no centro da indústria pesada gaúcha. Essa é a rica região da Randon, da Marcopolo, dos vinhos da Aurora. Bento é a terra de Renato Portaluppi, a mais bolsonarista das celebridades do futebol, que há três anos decretou:

“Votei nele. É meu presidente. O Bolsonaro e o Sérgio Moro são pessoas do bem que querem o bem do Brasil. Na minha opinião, quem é contra esses caras é contra o crescimento do Brasil”.

Até os parreirais de Bento sabem que os empresários da cidade são da mesma turma de Renato. Mas o que eles fizeram agora vai muito além da manifestação de uma posição política.

Eles demarcaram o território local como terra em que ministro do Supremo não entra para falar de coisas que eles não querem ouvir.

A CIC poderia dizer o que a entidade sabe sobre possíveis ações que colocariam a vida do presidente da mais alta Corte do país em risco.

O Pioneiro, jornal de Caxias do Sul, vizinha de Bento, informa hoje:

“A presidente do CIC, Marijane Paese, também alegou que o evento havia sido transferido para a OAB por questões de segurança. Ela disse que as reações dos patrocinadores não foram determinantes, mas que pesaram na decisão”.

Pesaram como? A CIC sucumbiu a apelos feitos em tom de ameaça, porque grupos de empresários enxergam Fux e o Supremo como inimigos de Bolsonaro?

Polícia Federal e Ministério Público terão se manifestar, ou podem se disseminar pelo país ações semelhantes de sabotagem e advertências ameaçadoras a ministros do STF.

O interessante é que o ministro iria falar sobre “Risco Brasil e Segurança Jurídica” no inseguro território da extrema direita que vê o Supremo como inimigo, porque seria amigo das esquerdas. Em 2018, Bolsonaro teve 81,5% dos votos no município.

O que ninguém de fora entende direito é como, numa hora dessas e num lugar tomado de extremistas, uma entidade empresarial convida o presidente do STF para correr riscos em terreno minado.

É preciso saber se Fux estava sendo atraído para uma arapuca. Na última hora, alguém soou o alarme: parem ou algo grave pode acontecer.

Fux poderia sofrer um atentado em Bento? As instituições da democracia que não se acovardam terão de responder.

*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim).

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