Depois de quase três anos de pandemia, o mundo todo agora aguarda, angustiado, as pesquisas sobre essa nova doença diante de dois fatores que apontam para um delicado desafio sanitário. A hepatite misteriosa tem um percentual de agressividade bem maior que as outras hepatites já conhecidas e os casos têm aparecido em várias partes do mundo
Raquel Miura, RFI
É hepatite porque ataca o fígado e é misteriosa porque não se sabe ainda o que tem causado essa inflamação no órgão, especialmente de crianças pequenas, mas também de adolescentes.
O certo é que depois de quase três anos de pandemia, o mundo todo agora aguarda, angustiado, as pesquisas sobre essa nova doença diante de dois fatores que apontam para um delicado desafio sanitário. A hepatite misteriosa tem um percentual de agressividade bem maior que as outras hepatites já conhecidas e os casos têm aparecido em várias partes do mundo.
“Enquanto a evolução fulminante que leva a transplante, uma falência total do fígado, acontece em um caso de hepatite tradicional para cada 10 mil, nessas crianças, nessa hepatite misteriosa, a forma fulminante tem aparecido em cerca de 10% das crianças. E com alta letalidade também”, afirmou à RFI Renato Kfouri, pediatra infectologista, presidente do Departamento de imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria e diretor da Sociedade Brasileira de imunizações.
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No Brasil o Ministério da Saúde informou que 64 casos de infecção da hepatite misteriosa estão em apuração, entre eles o de uma menina de 4 anos do Rio de Janeiro que precisou de um transplante.
“É uma doença que pode ser de leve à moderada e até grave. E não se estabeleceu ainda qual o agente causador, mesmo nos casos mais graves em que é preciso fazer um transplante, não se tem ainda a causa” disse à RFI a pediatra Débora Pontes Lannes, que já começa a sentir a apreensão dos pais no consultório.
Em todo o mundo já foram relatados mais de seiscentos casos suspeitos da hepatite misteriosa, com ao menos 15 mortes.
“Hepatites sem uma causa definida, não há o vírus normalmente associado a elas, vírus A, B, C, D ou E. Uma hepatite que, diferente das hepatites costumeiras, têm uma taxa de gravidade muito maior”, disse Kfouri.
Resquício de Covid?
Uma das primeiras descobertas acerca dessa inflamação é a presença do adenovírus nos pacientes, porém até aqui não se conclui que o microrganismo é o agente causador da doença. Dois terços das crianças que tiveram a hepatite misteriosa tinham no sangue ou na urina o adenovírus, mas esse vírus não foi encontrado no tecido do fígado lesionado.
Em outra frente de apuração está a possível relação da hepatite misteriosa com a Covid-19. Muitos dos pacientes são crianças pequenas, não vacinadas contra o coronavírus e muitas delas já tinham pegado Covid antes. A suspeita nesse caso é de uma reação tardia e prolongada do corpo à doença. Só que até aqui não se conseguiu atestar que todos os pacientes já tinham tido mesmo contato com o coronavírus.
“É algo que tem intrigado a comunidade científica. Não há ainda nenhuma recomendação diferente em termo sanitário para seguir. Vamos aguardar e em breve devemos ter notícia”, afirmou Kfouri.
Quando buscar um médico
Enquanto aguardam respostas, os pais devem ficar atentos aos sintomas dessa hepatite e procurar rapidamente atendimento médico diante de um quadro de icterícia ou amarelão.
“Isso é o mais importante hoje. Quando suspeitar? Quando a criança aparece com dor abdominal, quando tem o branco do olho amarelado, quando a urina aparece escura, tipo cor de chá ou de mate, e quando as fezes ficam claras, brancas. Então esses são os sintomas e sinais que devem fazer os pais suspeitarem e procurar o serviço de saúde”, alertou Débora Lannes.
As vacinas contra as hepatites A e B, disponíveis no Brasil e que constam do calendário nacional de imunização, são importantes, destacam os médicos, mas não garantem proteção contra essa forma misteriosa de inflamação do fígado.
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