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Ministério Público investiga pizzaria na Paraíba por campanha anti-Bolsonaro

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Cardápio da pizzaria revoltou apoiadores do presidente, que denunciaram o estabelecimento comercial. Sabor “Pau no Mito” (referência ao palmito usado na receita) é um dos mais apreciados do local. Empresário também irritou os bolsonaristas por campanha para engajar jovens a tirarem seus títulos

Tércio Amaral, Congresso em Foco

Em João Pessoa, capital da Paraíba, a Autêntica Pizza da Lambreta possui um cardápio para lá de político: além do sabor “Pau no Mito”, em referência ao modo como os militantes tratam o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o palmito usado na receita, os clientes desfrutam do engajamento do empresário Thiago Ferreira. Após uma campanha neste ano para engajar os jovens a tirarem seus títulos de eleitor – a ação distribuiu 40 pizzas –, ele virou alvo do Ministério Público Federal, com direito a sigilo na investigação, por suposta campanha antecipada em favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Quando começamos a nos posicionar como uma empresa anti-establishment e #forabolsonaro, houve uma grande movimentação de bolsonaristas nas redes sociais enviando mensagens agressivas”, conta Thiago.

“No início eram casos isolados, mas chegamos a observar ações organizadas promovidas por perfis de extrema direita para nos intimidar. Houve quem ligasse para nossa pizzaria ameaçando se a gente não retirasse o conteúdo”, completou. Thiago sempre se considerou de centro e disse estar surpreso ao saber que os membros do Ministério Público Federal estavam atrás não de suas pizzas, mas de investigar as “ações políticas” de sua empresa.

As dificuldades com o órgão federal começaram quando o empresário iniciou uma campanha para que os jovens de João Pessoa retirassem seu título de eleitor. A ação de marketing era a seguinte: ao mostrar o cadastramento na Justiça Eleitoral, os jovens teriam direito a uma pizza da casa – o empresário conta que houve uma fidelização dos novos clientes: “Nós tínhamos um posicionamento embaixo que, além de tirar o título, tinha que ser #forabolsonaro. Avisamos que se o jovem de 16 a 18 anos apresentasse seu título de eleitor, ele ganharia uma pizza. Como esperado, muita gente veio, muitos jovens. Não fizemos nenhuma ação política. O jovem apresentava seu documento e pegava a pizza”.

Segundo o empresário, ao contrário de outras ações, essa campanha não provocou, publicamente, a ira dos bolsonaristas. “Quando nós fizemos isso, não houve reações dos bolsonaristas. Era uma ação para os jovens votarem. Em nenhum momento, ninguém comentou que era campanha eleitoral antecipada”, relatou Thiago.

Foi aberta uma investigação no Ministério Público Federal (MPF) da Paraíba a partir de uma denúncia. A notícia de fato iniciou-se pelas mãos da procuradora Acácia Suassuna, que logo jogou a questão à Procuradoria-Geral da República (PGR), em Brasília, por envolver o presidente Jair Bolsonaro (PL), adversário do ex-presidente Lula na disputa eleitoral deste ano.

“A ação menos agressiva e menos jocosa teve essa reação do Ministério Público”, lamentou Thiago. Ele ainda não foi convocado por nenhum dos órgãos e soube da investigação por terceiros. Na verdade, seu estabelecimento não se enquadra nos formatos tradicionais. A Autêntica Pizza da Lambreta trabalha apenas com entregas, sobretudo por aplicativos. O público é jovem e essa receita – mesmo com a polêmica – deve continuar. “O perfil de nossa clientela vai até aos 40 anos. Na sua maioria, são profissionais liberais, pequenos comerciantes e funcionários públicos. A pizzaria tem um perfil contestador”.

“A maioria das pizzarias de João Pessoa trabalha a ideia de um produto família, focado na quantidade e não na qualidade. A nossa pizza é mais ‘raiz’, segue o estilo napolitano que ainda é pouco conhecido. Sabemos que não vamos agradar a todos, então, focamos em público não conservador”, disse Thiago à reportagem, entre mensagens e uma conversa por telefone, durante seu trabalho diário na venda de pizzas.