Justiça

Morador de rua que virou celebridade já foi condenado por extorsão mediante sequestro

Share

Ex-mendigo influencer que ganhou 'fãs' nas redes e agora ostenta vida de luxo, Givaldo Alves ficou preso por sequestro durante oito anos. Processos criminais revelam uma parte da história de Givaldo que não aparece nas entrevistas

(Imagens: Reprodução | redes sociais)

André de Souza e Natália Portinari, Extra

O passado até então desconhecido do ex-morador de rua Givaldo Alves de Souza, que ganhou fama após ser flagrado mantendo relação sexual com uma mulher casada em um carro em Planaltina (DF), veio à tona, acrescentando mais um ingrediente a uma trama que tem mobilizado a opinião pública nos últimos meses.

Fique por dentro: Givaldo ganha apelido de “mendigo pegador” e agarra mulheres em festas da elite

Ele cumpriu oito anos de prisão pelo crime me de extorsão mediante sequestro cometido no estado de São Paulo, em julho de 2004. Antes disso, ele já tinha passagem pela polícia por furto. Givaldo só foi autorizado a deixar a cadeia em abril de 2013, quase nove anos depois.

A informação foi revelada pelo jornal Estado de Minas e confirmada pelo Globo nos processos as quais o ex-sem-teto respondeu. Em vídeo divulgado na sexta-feira, Givaldo comenta sobre a prisão, sem entrar em detalhes, e afirma que não voltou a ser envolver com “coisas erradas” . Ele atribui o episódio à influência de amizades que tinha na época e se diz arrependido.

“Esse tempo depois que eu saí da prisão não tem sido fácil, mas eu tenho me esforçado demais, e tenho conseguido. Tanto que não me envolvi com coisas erradas. E isso já faz quase dez anos. Para mim, cada ano é uma vitória — afirma, sem mencionar o motivo da condenação. Ele ainda acrescenta: — É como diz um ditado: quem se junta com porco, farelo come. Naquele momento de um convite, você jamais vai pensar que vai chegar a um desastre. Só quando realmente acontece… Eu tenho essa experiência para falar para vocês”.

Procurado, o advogado de Gilvado não retornou aos contatos da reportagem. Ele representa o ex-morador de rua na acusação de estupro contra uma comerciante.

De acordo com o processo que trata do sequestro, Givaldo foi preso em flagrante no dia 1º de julho de 2014 após invadir uma casa e cobrar pelo resgate da vítima. Na ocasião, foi levado para a Penitenciária de Flórida Paulista, a 600 km da capital do estado. O crime lhe rendeu uma pena de 17 anos de prisão.

Furto em 2000

Em 2013, contudo, a Justiça revisou a condenação para a pena mínima, de oito anos, ao considerar que não houve os chamados “qualificadores” do crime, quando, por exemplo, é cometido por uma organização ou bando. Assim, como Givaldo já havia cumprido o período da pena, foi concedido o alvará de soltura no dia 18 de abril daquele ano.

Na ocasião da prisão, Givaldo informou à Justiça um endereço em São Miguel Paulista, na zona leste da capital paulista, como sendo a sua residência.

Os registros da Justiça de São Paulo também mostram que o ex-sem-teto também respondeu por furto ocorrido em novembro de 2000. Ele foi condenado em 2005, quando já estava preso, a dois anos de reclusão. Ao dar a sentença, o juiz entendeu como agravante o uso de chave falsa e a participação de mais pessoas.

Nos processos a que responde, há ao menos três números de RGs diferentes atribuídos a Givaldo, que é natural de Pilão Arcado, na Bahia. Pelo nome dos pais, porém, é possível identificar se tratar da mesma pessoa.

No vídeo divulgado na sexta-feira, 20, Givaldo atribui o período que viveu nas ruas de Planaltina à falta de oportunidade de trabalho após empresários “puxarem o CPF” para checar antecedentes criminais. Na gravação, ele faz um apelo a empresários:

“Tenho batido em muitas portas e sei da dificuldade. Quando for alguém em suas empresas e pedir um trabalho, quando fazem a ficha e puxam CPF e veem que a pessoa já errou, se vocês não derem oportunidade, como o cara vai ser reintegrado socialmente? Como vai ser ressocializado? Ele ficou sem apoio. Como vai viver? Quando tinha errado, ele estava trancado, o Estado manda comida. É oprimido, mas mantém ele com vida. Quando em sociedade, ele precisa do apoio dos senhores”.

Influencer pós denúncia

Givaldo Alves, de 48 anos, ganhou fama nacional após o caso de Planaltina. Na ocasião, ele foi flagrado tendo relações sexuais com a mulher do personal trainer Eduardo Alves de Souza. Ela estava, de acordo com laudo médico, em surto psicótico quando abordou o morador de rua e o levou para dentro de seu próprio carro. O marido flagrou os dois, na noite do dia 9 de março e, descontrolado, bateu em Gilvado, que teve várias lesões e chegou a ser internado.

O inquérito apurou a agressão, flagrada por câmeras de rua, mas movimentos feministas chamou atenção para o possível crime de estupro de vulnerável porque a vítima se encontrava doente. Porém, o inquérito entendeu que a relação sexual foi consensual.

A Polícia Civil do DF concluiu a investigação do caso na sexta-feira passada. Embora tenha acusado Givaldo de ter abusado da mulher, que se encontrava em surto psicótico, o personal trainer Eduardo Alves, marido de Sandra Fernandes, que se relacionou com Givaldo, defendeu que a mulher não tinha condições de discernimento por ter problemas psiquiátrico.

Descontrolado, ao flagrar os dois juntos, ele agrediu Givaldo, que chegou a ser internado. Sandra também passou por longo período de internação tratando o surto. Eduardo foi indiciado por lesão corporal, em razão de ter espancado o morador de rua. E Givaldo, que relatou detalhes da relação sexual com Sandra, por difamação.

Siga-nos no InstagramTwitter | Facebook