Neonazista de MG admite crime contra influencer negra: "Merecia ser estuprada e morta"
"Negras fedem a bicho [...] merecia ser estuprada e morta". Polícia identifica neonazista que atacou ativista negra. Edmar Alteff Xavier foi liberado após prestar depoimento e responderá em liberdade. Influencer admitiu sentir medo, mas diz que não vai sossegar: "Tem coisa muito pior. Não vou desistir do caso"
A Polícia Civil de Minas Gerais identificou Edmar Alteff Xavier, de 25 anos, como sendo o agressor da influencer e jornalista negra Carol Inácio, de 26 anos. De acordo com as investigações, Edmar integra grupos neonazistas nas redes sociais.
Em agosto de 2021, dia do aniversário de Carol, ela foi colocada repentinamente em diversos grupos de WhatsApp, onde foi ofendida por várias pessoas. “Negras fedem a bicho, mesma coisa que transar com animal” e “imagina a afro Carol em uma senzala de vidro” foram algumas das agressões sofridas pela jornalista.
Na época, Carol contou que não conhecia nenhum dos integrantes dos grupos. Um deles tem 129 participantes com números de telefone de outros estados e até de outros países.
“Eu fiquei apavorada e chorei muito. Era um choro de angústia de não saber quem é e se um dia vão encontrar esses criminosos”, lamentou Carol.
Após reunir provas, ela registrou um boletim de ocorrência. “O receio de que algo pior possa acontecer é grande porque no mundo de hoje a gente não tem dimensão da maldade das pessoas”, comentou a ativista.
Edmar Alteff Xavier
“Esse cara [Edmar] me mandava mensagens me elogiando. Eu já tinha uma noção que ele estava envolvido porque ele se passava de seguidor e me elogiava”, disse a ativista.
De acordo com Carol, Edmar usava perfis falsos para fazer contato com ela. Quando foi inserida nos grupos, não foi possível ver se ele estava entre os que a ofenderam porque, segundo ela, eram muitas pessoas. Quando viu que ele era um dos integrantes identificados pela polícia mineira, lembrou que ele “não era um estranho”.
“Ele falava e eu bloqueava. Usava vários perfis e vários nomes. Cansou de mandar mensagem no direct e eu não responder e passou a criar contatos estrangeiros e mandar mensagem no meu WhatsApp profissional. Comecei a ficar mais em alerta”, contou.
“Fico ansiosa e com um pouco de medo porque não sei nada sobre ele e fico com um certo medo do que pode acontecer a partir de agora mas enquanto não descobrirem todos e a verdade, eu não vou sossegar porque acho que tem muito mais coisa por aí. Não vou desistir do caso. Desistir não é uma opção para mim”, disse.
O delegado responsável pela investigação em Uberlândia, Fábio Ruz, disse que o investigado confessou fazer parte de um grupo que tinha ofensas homofóbicas, racistas e com viés neonazista.
“Ele disse que participou desse grupo neonazista, mas que não participava mais. Ele fez diversos ataques, que entendi como crime de ódio. Durante a oitiva ficou bem claro. Ele confirma que participou desse grupo. Fiz um relatório parcial, mas não indiciei o Edmar, porque eu entendi que a competência investigativa não era nossa aqui de Uberlândia, porque são diversos fatos de vários locais”, informou o delegado.
Alteff declarou, no depoimento, que segue a ideologia MGTOW (men going their own way, que significa “homens seguindo seu próprio caminho”, em tradução livre). Seus adeptos defendem que os homens abram mão de ter relacionamentos com mulheres e sustentam que há “privilégio feminino” na sociedade.
De acordo com a Polícia Civil do Espírito Santo, estado onde Carol reside, o inquérito policial sobre o caso está em andamento. Edmar Alteff Xavier permanece em liberdade.