Saúde

Transmissão entre humanos da varíola dos macacos intriga cientistas e OMS faz alerta

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OMS faz reunião de emergência sobre surto da varíola dos macacos. Cientistas ainda não sabem exatamente como a doença está sendo transmitida e explicam quais são os principais sintomas. "O que está acontecendo agora de uma só vez, em vários países do mundo, é uma novidade", diz infectologista

Lesões causadas pela varíola dos macacos

Dezenas de casos da varíola dos macacos foram registrados na Europa, na América do Norte e na Austrália nos últimos dias. O avanço da doença têm gerado alerta entre cientistas e agências de saúde. Até agora, são ao menos 100 casos relatados fora da África, em 11 países.

No continente africano, já são mais de 1,2 mil casos suspeitos na República Democrática do Congo. Ainda não há relatos de casos no Brasil.

Os especialistas ainda não sabem, exatamente, como a doença está sendo transmitida. Geralmente, a varíola dos macacos passa de animais para humanos – pois é uma zoonose –, e, com menos frequência, de uma pessoa para outra.

“Essas [varíolas] menores – a varíola menor, a varíola do macaco, a varíola da vaca – a transmissão tem mais a ver com contato de pele. É essa proximidade dos animais que faz com que surja a varíola da vaca, do macaco, por isso que a transmissão inter-humanos é muito rara”, explica Renato Kfouri, pediatra infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações.

“Por isso que nunca se espalhou. Uma varíola dessa fica contida em regiões da África e onde tem essa proximidade da selva, dos animais”, completa Kfouri. “É descrito, já, a transmissão respiratória, pele com pele, mas não de uma vez, em vários países do mundo. Isso é uma novidade”, diz.

Além do contato com a pessoa infectada – pela pele, com as lesões ou fluidos corporais da pessoa doente, incluindo gotículas e secreções respiratórias –, a varíola dos macacos também é transmitida por material contaminado, como roupa de cama. A via sexual de transmissão também está sendo investigada pelas autoridades de saúde mundiais.

“Existe, provavelmente, alguma forma de contato mais íntimo favorecendo a transmissão. Mas não se conhece ainda o mecanismo de transmissão desse vírus em especial”, afirma Kfouri.

“Nós estigmatizamos muito na questão do HIV o comportamento sexual, como se fosse a única forma de transmissão – e certamente, dessa vez, também não o é”, destaca.

A epidemiologista Ethel Maciel, professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), publicou observações semelhantes na rede social Twitter:

“Se você é um homem que faz sexo com outro homem e tem uma relação estável (parceiro fixo), a chance de ter infecção sexualmente transmissível é ~0%. Assim como se você é um homem que faz sexo com mulher. Ou mulher que faz sexo com mulheres”, lembrou.

“Se você tem múltiplos parceiros, e ao ter relação sexual não usa preservativos e tem um comportamento de risco, sua chance aumenta bastante. As combinações são infinitas. Portanto, não é sua orientação sexual que transmite doença, é a forma que você escolheu para viver sua sexualidade”, completou Maciel.

Reunião de emergência

Em uma reunião de emergência nesta sexta-feira (20) sobre o surto de varíola dos macacos, a Organização Mundial da Saúde (OMS), confirmou as dezenas de casos e afirmou que as investigações estão sendo aprofundadas. Nos próximos dias, é provável que mais casos sejam relatados à medida que a vigilância epidemiológica for expandida, segundo a OMS.

“A OMS está trabalhando com os países afetados e outros para expandir a vigilância da doença para encontrar e apoiar as pessoas que podem ser afetadas e fornecer orientações sobre como gerenciar a doença”, disse a agência da ONU, em um comunicado divulgado nesta tarde.

Ainda de acordo com a OMS, os surtos recentes relatados em 11 países até então são atípicos, pois estão ocorrendo em locais onde a doença não é endêmica.

Desde 1970, casos humanos de varíola dos macacos foram relatados em países africanos, levando a surtos ocasionais entre a população local e viajantes.

Sintomas da doença

A varíola dos macacos causa erupções cutâneas na pele com pústulas e bolhas que se abrem depois de um tempo e formam uma casca. Dependendo da fase da doença, a erupção parece diferente e pode ser semelhante a causada por varicela ou sífilis. A doença passa depois de três ou quatro semanas. Apenas em casos muito raros, ela é fatal – geralmente quando atinge crianças pequenas.

O período de incubação do vírus varia de sete a 21 dias. Os sintomas, porém, costumam aparecer após dez ou 14 dias. Além das erupções cutâneas, a varíola dos macacos causa dores na cabeça, costas e muscular, febre, calafrios, cansaço e inchaço dos gânglios linfáticos.

Autoridades de saúde alertam para aqueles que apresentarem mudanças incomuns na pele procurem um médico imediatamente.

Como se proteger

Não há um tratamento específico para a doença e nenhuma vacina contra esse vírus. Médicos acreditam que a vacina contra a varíola também protege contra a varíola dos macacos. Embora ambos os vírus não tenham relação direta, eles são bem parecidos para que o sistema imunológico responda à infecção.

Graças uma grande campanha de vacinação global, a varíola foi erradicada no mundo em 1980. O Instituto Robert Koch (RKI), a agência de prevenção e controle de doenças da Alemanha, alerta que grande parte da população mundial já não possui mais proteção contra esse vírus devido ao longo tempo que passou desde a imunização.