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O vazio do 1º de maio e o gaúcho oriental

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Um 1º de Maio talvez só volte a ser o que já foi depois da eleição de Lula. Está perto

Imagem: Guilherme Testa | Correio do Povo

Moisés Mendes*, em seu blog

Vesti minha camisa listrada e fui para a Redenção neste domingo pela manhã em busca de uma surpresa no 1º de Maio de Porto Alegre.

Mas a ação política coletiva é um bicho cada vez mais previsível. Como a chuva havia determinado o cancelamento da festa que aconteceria na área ao lado do espelho d’água, só restava imaginar que alguma outra coisa poderia acontecer no lugar de uma grande concentração.

A chuva havia parado pela manhã, o sol estava de volta. O domingo seria bonito e algo poderia acontecer.

Encontramos amigos, perto da estátua do gaúcho oriental, e ninguém teve a coragem de sugerir aos outros que imaginassem o que aconteceria ali naquele lugar, se não tivesse chovido.

Que festa teria sido aquela que não aconteceu?

É provável que não acontecesse nada de especial, e é mais provável ainda que acontecesse apenas uma aglomeração como as acontecidas em outras cidades.

As ruas do Brasil não existem mais como tambores de vozes assertivas. As caminhadas foram se esvaindo, até não sobrar mais nada.

Não existem mais as ruas nem para as motociatas de Bolsonaro. Não existiram hoje para os atos da extrema direita contra o Supremo.

Um bom dia do trabalho, trabalhadores!

E também é enganoso achar que o ato no Pacaembu, em São Paulo, com Lula, tenha algum significado para a história da resistência ao bolsonarismo.

Nada. Não tem significado algum. Estamos vivendo uma ressaca danada, interminável, à espera da eleição.

E assim foi o domingo na Redenção. Olhávamos em volta, no espaço vazio onde deveria ter acontecido a festa, e um moço chegou de bicicleta e perguntou: seria aqui?

Sim, seria, respondemos. E ele retrucou: mas se não tem o ato, por causa da chuva que parou, por que não acontece mais nada?

Eu disse ao moço, para concordar: pois é, por que que não acontece outra coisa? E o moço foi embora.

Por que não apareceu um poeta? Um vereador numa bicicleta? Um trovador? Um gozador? Um malabarista?

Por que o 1º de Maio de Porto Alegre foi o vazio da festa que deveria ter acontecido?

Por que, moço, não apareceu ninguém para reunir um grupo e começar, com alguma performance improvisada, alguma coisa que juntasse gente?

Éramos cinco. Cheguei a sugerir: e se um de nós gritasse ali, no meio do canteiro, ao lado da estátua do gaúcho oriental, que hoje é o 1º de Maio?

Não me levaram a sério, nem poderiam levar. Um 1º de Maio talvez só volte a ser o que já foi depois da eleição de Lula. Está perto.

*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim).

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