Agressor estava solto após prestar depoimento na delegacia e alegar que tinha sido vítima de "assédio moral". Outras pessoas que conviviam com o homem no ambiente de trabalho dizem que ele "desprezava mulheres"
A Justiça decretou nesta quarta-feira (22/6) a prisão preventiva de Demétrius Oliveira Macedo, de 34 anos, que espancou a procuradora-geral de Registro (SP), Gabriela Samadello Monteiro de Barros, de 39. O delegado da Polícia Civil, Daniel Vaz Rocha, teve o pedido deferido pela 1ª Vara Criminal do município localizado a 190 quilômetros de São Paulo.
A agressão de Demétrius contra a procuradora ocorreu na segunda-feira (20) e causou grande revolta nas redes sociais. Conforme as imagens, o homem desferiu socos e cotoveladas em Gabriela e empurrou outras pessoas que tentam segurá-lo. Além de deixar o rosto da mulher sangrando, ele proferiu ofensas como “puta” e “vagabunda do caralho”.
Demétrius também atua como procurador de Registro, sendo, portanto, subordinado a Gabriela. Em depoimento à Polícia, ele justificou a conduta violenta a um suposto assédio moral no trabalho. Por sua vez, a vítima afirmou que o homem já havia sido grosseiro com outra funcionária do setor, resultando na abertura de um procedimento administrativo.
Desprezava mulheres
A agente administrativa Thainan Maria Tanaka, de 29 anos, foi quem denunciou o procurador Demétrius. Ela afirma que o advogado era “terrível, mal-educado” e “desprezava todas as mulheres”.
Thainan contou que o clima ruim no trabalho e os olhares de desprezo começaram quando ele a questionou por qual razão não havia sido cumprimentado. “Sempre cumprimentei, mas, nesse dia, ele cismou que eu não havia respondido. Eu poderia ter me distraído com outra coisa, mas ele queria ser cumprimentado. Ele não queria cumprimentar ninguém, tinha essa postura bem estranha”, afirma.
De acordo com Thainan, passado um tempo ele voltou com a mesma história, embora ela afirme ter continuado a cumprimentá-lo, pois não queria ser importunada. Demétrius, apesar de tudo, a ignorava, relatou.
“Ele virou para mim e disse ‘não adianta você vir me cumprimentar’ e eu falei ‘cumprimento por educação’. Na sequência, Demétrius perguntou ‘onde estava a educação durante todo esse tempo’. Só que ele falou em um tom muito alto e tentou me intimidar. Ficava andando na frente da minha mesa. Nessa eu fiquei com muito medo dele e até chorava”, lembra.
Por não ter sido a primeira vez e por já ter visto o procurador sendo desrespeitoso com as outras mulheres, ela decidiu formalizar uma denúncia à procuradora-geral Gabriela que, segundo ela, se solidarizou, mas não tinha muito o que fazer.
Thainan lembra que no dia 27 de maio o procurador não falou com ninguém e, após o horário de expediente, foi até a sala da Gabriela, agindo de forma estranha, mas ela não estava lá. “Eu acho que ele já estava querendo pegar ela naquela sexta (27 de maio) mesmo”, afirma.
Ela acrescenta, ainda, que a procuradora-geral questionou o que Demétrius queria e o por que estava tratando Thainan de forma desrespeitosa. Nesse momento, de acordo com a agente administrativa, Demétrius se alterou e expulsou Gabriela da sala. Foi mais um motivo para dar entrada com um processo administrativo.
Nesta segunda-feira (20), quando a procuradora-geral foi agredida, Thainan sabia que ele ia receber a notícia do processo administrativo. Por isso, disse ter pedido abono [folga] por cautela, pois estava com medo da reação dele. Ela acredita que se estivesse junto seria agredida também, pois, segundo ela, se não fosse de primeira, seria na hora de separar.
“Eu vi o vídeo e eu achei que ele não parecia ser diferente não. Ele estava igualzinho como eu o via todo dia, eu não achei que ele estava fora de si não. Aquilo que ele fez na segunda (20) poderia ter acontecido em qualquer outro dia. Ele vivia na defensiva”, afirmou Thainan.
Com o procurador ainda solto, Thainan conta que está com medo do que ele possa fazer. Por conta disso, afirma não ficar mais sozinha e que não anda mais a pé na rua.
Demétrius Oliveira de Macedo
Demétrius é descrito por colegas de trabalho como uma pessoa quieta, com perfil “antissocial”, mas algumas vezes ‘educada’. Formado em Direito, em 2010, pelo Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), hoje Universidade São Judas, em Santos, no litoral de São Paulo, Demétrius passou no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no ano seguinte, em 2011, tornando-se apto a exercer a profissão. No mesmo ano, começou a carreira na Prefeitura de Registro.
A procuradora-geral Gabriela conta que o perfil de Demétrius mudou logo após ela ter sido promovida, em 2019. A vítima relata que os dois trabalharam juntos por quase 10 anos e, até 2018, conversavam e saiam com a equipe da procuradoria.
“De lá pra cá, segundo ela, tornou-se “antissocial”. “Não conversava com a gente, não dava ‘bom dia’, não cumprimentava na rua, não era colaborativo, não se integrava no trabalho. Era praticamente impossível um trabalho em grupo com ele”, relatou a vítima.
O personal trainer de uma academia que Demétrius frequentou até 2019, em Registro, contou que o procurador era um “cara de poucas palavras”. “Na academia, entrava mudo e saia calado. Às vezes, me cumprimentava, mas não lembro de vê-lo falando com outros colegas”.
“Não esperava esse tipo de comportamento dele. O contato superficial que eu tinha jamais demonstrou que ele faria o que fez. Mas um cara muito quieto, muito fechado, sei lá. É muito estranho”, acrescentou.
A Associação Nacional dos Procuradores Municipais (ANPM) divulgou uma nota para expressar sua solidariedade com a procuradora Gabriela Samadello Monteiro de Barros e se posicionar sobre a agressão.
“A ANPM repudia a conduta violenta perpetrada pelo servidor identificado como Demétrius Oliveira de Macedo que, conforme noticiado, tinha sua atuação funcional avaliada através de um procedimento disciplinar a cargo da vítima”, complementou a associação.
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