Jair Bolsonaro

Bolsonaro é o homem-bomba

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Implodir-se como aberração política poderá ser o último e desesperado gesto de Bolsonaro para que o caos acione os militares, e aí ninguém terá o controle de nada

(Imagem: Alan Santos | PR)

Moisés Mendes*, em seu blog

Todas as dinamites do arsenal de desatinos que Bolsonaro carrega na cintura tiveram a contribuição de fornecedores diversos, alguns camuflados, mas a maioria assumidamente cúmplice da cena que poderemos ver mais adiante.

A direita tucana, a direita sem grife, a direita bandida, o centrão, a Globo, a Fiesp, os banqueiros, os empresários que o aplaudem em almoços golpistas – todos foram fornecedores das bombas que Bolsonaro leva para onde vai.

Mas se Bolsonaro apertar o botão e for pulverizado por uma implosão, serão expostas as tripas de todos eles, mesmo os que estiverem um pouco afastados.

Bolsonaro é um homem-bomba que até agora não sabe direito quando irá para o sacrifício. Mas sabe que esse será o seu desfecho.

Não há outra saída. O sujeito caminha para a imolação em praça pública. A eleição está perdida e só um milagre reverte a possibilidade de vitória de Lula no primeiro turno.

Os truques que poderiam salvá-lo não terão o efeito desejado, mesmo que o ultraliberal Paulo Guedes consiga o milagre de congelar o preço do osso até depois da eleição.

Bolsonaro não sabe com quem pode contar, nem entre os militares e muito menos entre a direita dentro e fora do Congresso que o subjugou com o controle do orçamento secreto.

Sabe que não tem milicianos suficientes para disseminar o caos antes da eleição e vai se dando conta de que o bolsonarismo estacionou em menos de 20% da população. Os outros 10% são do contingente de oportunistas.

Bolsonaro sabe que sua pretensa base social é mais precária do que imaginava e que só existirá como base incondicional enquanto ele estiver no poder. E que só há uma alternativa, antes da eleição, para a sua cartada suicida.

Só resta a Bolsonaro provocar o TSE como chefe das fake news, como fez depois da confirmação pela Segunda Turma do STF da cassação do deputado Fernando Francischini.

O sujeito disse, apontando o dedo em direção ao Supremo e ao TSE, que tudo o que o deputado falou e foi considerado fake news já havia sido dito por ele. Que ele, Bolsonaro, é quem inspira gente da turma de Francischini e do gabinete do ódio a atacar as urnas, a eleição, o TSE e o Supremo.

Como os ministros Edson Fachin e Alexandre de Moraes advertem que o TSE irá cassar os candidatos que espalharem fake news, Bolsonaro reforça a cinta de dinamite que carrega na barriga e ameaça: duvido que vocês tenham coragem de cassar minha candidatura.

O TSE terá que lidar com a provocação, diante da tese estúpida de que, às vésperas da eleição, a chapa Bolsonaro-Braga Netto poderia ser cassada.

Não cassaram a chapa Bolsonaro-Mourão, no julgamento de outubro do ano passado, mas poderiam impedir que Bolsonaro levasse uma surra de Lula, para que a porteira fosse aberta à passagem da terceira via.

Vocês não têm coragem para impedir que eu vá em frente, diz Bolsonaro, que amanhã ou depois irá repetir o mesmo desafio em tom de ameaça.

Se o truque não prosperar, e as instituições não podem permitir que prospere, o sujeito seguirá adiante com o roteiro do caos, tentando inviabilizar a eleição ou, no dia da votação e depois, na apuração, esculhambando com todo o processo.

Não importa se será agora, se será daqui a alguns meses, não importa quando será. Importa que Bolsonaro é o homem-bomba que quase não consegue carregar tanta dinamite na cintura.

Bolsonaro em algum momento irá apertar o botão, porque não há como vencer a eleição, e aí todos os que estiverem por perto terão vísceras, braços, troncos e cabeças espalhados pelos ares.

A buchada de banqueiros que estão de prontidão ficará misturada ao mondongo de garimpeiros, porque todos têm a mesma índole e buchos semelhantes (idiotas das concretudes da extrema direita, acalmem-se porque é tudo simbólico).

Implodir-se como aberração política poderá ser o último e desesperado gesto de Bolsonaro para que o caos acione os militares, e aí ninguém terá o controle de nada.

São falsamente ingênuos os crédulos que, diante de um provável impasse com Bolsonaro fora da eleição, enxergam a terceira via seguindo em frente montada num cavalo branco.

Se Bolsonaro imolar-se antes da eleição, por um bom tempo não existirá nada, não existirá via alguma. E, muito depois da imolação, não se sabe o que poderá existir.

*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim)

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