Redação Pragmatismo
Meio Ambiente 15/Jun/2022 às 15:35 COMENTÁRIOS
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Bolsonaro, querido por criminosos na Amazônia, diz que Dom era malvisto por lá

Publicado em 15 Jun, 2022 às 15h35

Mais de 100 indígenas de 5 etnias diferentes participaram voluntariamente das buscas por Bruno e Dom Phillips, mas Bolsonaro diz que os dois eram malvistos na região. O presidente esqueceu de mencionar que Bruno e Dom não eram queridos por garimpeiros, madeireiros, pescadores ilegais, caçadores e grileiros. Ou seja, os criminosos da Amazônia

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(Imagem: Joao Laet | AFP)

Leonardo Sakamoto, em seu blog

Jair Bolsonaro tem razão ao afirmar que muita gente não gostava do jornalista inglês Dom Phillips, que denunciava em suas reportagens os crimes contra a Amazônia e seus povos. Contudo, o mesmo não pode ser dito sobre o próprio presidente, que é amado por quem comete crimes ambientais e sociais na região, como garimpeiros, madeireiros, pescadores e caçadores ilegais, além de grileiros de terra, exatamente por aquilo que deixou de fazer, ou seja, cumprir a lei.

“Esse inglês, ele era mal visto na região. Porque ele fazia muita matéria contra garimpeiro, a questão ambiental… Então, aquela região lá, que é bastante isolada, muita gente não gostava dele. Ele tinha que ter mais do que redobrado a atenção para consigo próprio. E resolveu fazer uma excursão”, afirmou Jair em uma entrevista ao canal da jornalista Leda Nagle.

Bolsonaro completou a tríplice coroa da infâmia, nesta quarta (15), ao culpar pela terceira vez o jornalista e o indigenista Bruno Pereira por seu próprio desaparecimento no Vale do Javari. A diferença é que, nas outras vezes, ele usou “aventura” ao invés de “excursão”.

Em 10 de junho, em Los Angeles, Jair disse: “Naquela região, geralmente você anda escoltado, foram para uma aventura, a gente lamenta pelo pior”. Três dias antes, já havia afirmado que “Realmente, duas pessoas apenas em um barco, numa região daquelas, completamente selvagem… É uma aventura que não é recomendável que se faça. Tudo pode acontecer. Pode ser um acidente, pode ser que eles tenham sido executados”.

O presidente poderia ter ido ao local, o que ajudaria a dar um senso de urgência para a estrutura de Estado e mobilizaria mais contingentes, equipamentos e veículos. Não fez isso, preferindo fazer uma motociata em Orlando. Até porque, se tivesse agido dessa forma, como iria encarar depois parte do seu eleitorado, composta por pessoas que lucram com a destruição do meio ambiente e dos povos da floresta?

Um caso de repercussão internacional como o desaparecimento de Bruno e Dom levaria um chefe de Estado a visitar o local das buscas – seja para reforçar que seu governo está preocupado, seja pelo marketing político. Mas Bolsonaro tem uma reputação a zelar com os tais grileiros e garimpeiros, madeireiros, pescadores e caçadores ilegais.

Eleitorado que contou com toda a atenção do presidente da República que se desdobrou, por três anos e meio, para enfraquecer a fiscalização da Funai, do Ibama, do ICMBio, do Incra, da Polícia Federal, além de desmontar regras e normas ambientais e apoiar um assalto de setores do Congresso sobre as leis que protegem o futuro do país.

Nesse contexto, faz sentido ele culpar sempre as vítimas, terceirizando responsabilidades que são dele. Foi assim com as mortes na pandemia de covid-19, com a fome e o desemprego, com o desmatamento e as queimadas, com a inflação.

Aquela região só é violenta, com a livre ação criminosa porque o Estado garante isso. Seja por uma histórica ausência em garantir os direitos fundamentais dos povos indígenas, seja porque o atual presidente sucateou as instituições e perseguiu servidores públicos, seja porque deu um salvo-conduto a qualquer grupo que atropele as políticas de proteção ao meio ambiente e aos povos e comunidades tradicionais na Amazônia, seja porque garante que o focos das Forças Armadas sejam urnas eletrônicas e não o tráfico internacional nas fronteiras.

Em um jantar com lideranças conservadores em Washington DC, nos Estados Unidos, em março de 2019, Jair afirmou: “Nós temos é que desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa. Para depois nós começarmos a fazer”.

Nos escombros da Amazônia é que floresce o eleitorado de Jair. Publicamente, ele lamenta as tragédias. Mas só publicamente.

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