Morte de quatro estudantes durante tumulto em assembleia universitária reabriu o debate na Bolívia sobre os milhares de alunos "dinossauros". Universitário de 52 anos recebia salário de R$ 15 mil porque lidera comitê estudantil. Ele tirou zero em mais de cem disciplinas ao longo de sua 'carreira acadêmica' de três décadas
Após quatro estudantes morrerem durante um tumulto em uma assembleia universitária na Bolívia, reacendeu no país o debate a respeito dos milhares de alunos “dinossauros”, que estudam por décadas no sistema gratuito de ensino boliviano sem chegar a se formar. As informações são do The Guardian.
No dia 9 de maio de 2022, uma bomba de gás lacrimogêneo causou pânico entre as centenas de alunos que participavam de uma reunião na Universidade Tomás Frías de Potosí. O tumulto deixou quatro mortos, mais de 70 feridos e desatou uma polêmica: o papel de Max Mendoza na assembleia.
Mendoza tem 52 anos, 33 dos quais passou na universidade. Em mais de três décadas não conseguiu se formar em nenhum dos vários cursos que seguiu, denunciou o deputado socialista Héctor Arce.
Héctor Arce, que foi Procurador-Geral na época do governo de Evo Morales e é filiado ao partido do ex-presidente, denunciou ainda que Mendoza suspendeu mais de 200 matérias e concluiu mais de cem disciplinas com nota zero.
“Há líderes que de alguma forma usufruíram de seu papel porque eu acho que o líder universitário veio primeiro ser estudante universitário para depois ser líder”.
Mas o caso de Mendoza é apenas a ponta do iceberg dos milhares de estudantes conhecidos como “dinossauros”. Esta função acadêmica não o impedia de ganhar um salário mensal de 21.860 bolivianos, mais de R$ 15 mil (similar ao de um reitor), porque também atuava como dirigente do Comitê Executivo da Universidade Boliviana, que coordena os institutos públicos de ensino superior do país.
Em meio às investigações sobre a tragédia, começaram a circular versões nas redes sociais de que Mendoza, presidente da Confederação Universitária Boliviana, estava por trás de uma das facções em disputa na assembleia. Mendoza foi mandado para a prisão preventiva em 21 de maio, denunciado por vários crimes.
Beymar Quisberth, do departamento de Sociologia da Universidade Maior San Francisco Xabier de Sucre, a mais antiga do país, explica que o termo dinossauro é “uma sátira”. “Esse termo é usado pela trajetória de anos […], sempre são chamados de dinossauros [nas universidades], mas agora o termo é usado em nível nacional”, acrescenta.
Outro dirigente acusado de ser “dinossauro” é Alvaro Quelali, de 37 anos, líder estudantil da UMSA, aluno da universidade há 20 anos. “São dinossauros, aproveitadores, é uma vergonha”, diz Gabriela Paz, de 20 anos, estudante da Faculdade de Direito e Ciências Políticas, enquanto seu colega Mateo Siles, de 21 anos, diz que “tem gente que permanece nas universidades públicas para ter certas regalias”.
Dos 81.723 alunos da UMSA, 23% (18.796) estão estudando há mais 11 anos e 6,7% (5.475), mais de 20 anos. Há, inclusive, mil alunos há mais de 30 anos nesta universidade e uma centena, há mais de 40 anos.
Em outros institutos o problema é similar. Na Universidade Gabriel René Moreno de Santa Cruz há cerca de 90 mil estudantes e destes, 3% (cerca de 2.700) estão lá há mais de dez anos.
com AFP
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