Com dívidas de R$ 1 bilhão, Daslu é vendida por R$ 10 milhões
Antigo império do luxo: Daslu era movida por sonegação de impostos, fraude em importação e falsificação de documentos. Dona da loja foi condenada a 94 anos de prisão; ela morreu em 2012, mas o irmão está preso
A Daslu tem novo dono. A marca que um dia foi referência do que havia de mais ostentoso no país, tida como a “meca do luxo” em São Paulo foi vendida por R$ 10 milhões, o maior lance no leilão realizado nesta terça-feira (07), cujo o lance inicial era de R$ 1,4 milhão.
A marca surgiu em 1958, fundada quando as amigas Lucia Piva Albuquerque e Lourdes Aranha recebiam socialites em uma casa na Vila Nova Conceição, bairro nobre na Zona Sul de São Paulo, para mostrar algumas roupas finas.
Segundo a consultora de luxo Rosana de Moraes, o que vingou e tornou a marca perene foi o atendimento intimista e com curadoria. As clientes (porque por muito tempo eram só mulheres) tinham tratamento personalizado, alguns com hora marcada, champanhe (que na época não era comum), e as vendedoras, por exemplo, era filhas de figuras da alta sociedade paulistana, usuárias da marca.
Anos mais tarde, na década de 1990, outro fator reforçou o glamour do império da Daslu. Com a abertura para a importação, foi a pioneira em trazer marcas internacionais, sendo uma das primeiras representantes de nomes como Chanel, Jimmy Choo, Gucci e Prada, quando não existia ainda lojas próprias delas no Brasil. Isso aconteceu quando Eliana Tranchesi estava à frente do negócio, após a morte da sua mãe Lucia.
Chegou a ocupar um imóvel de mais de 60 mil metros quadrados e se tornou um dos principais símbolos do mercado de luxo na capital paulista. Além de de roupas, calçados e acessórios de grifes importadas, a Daslu passou a vender objetos de decoração para casa, carros e até mesmo helicópteros.
Mas a butique deixou de ser referência apenas no mundo da moda e passou a aparecer no noticiário policial. Em 2005, na Operação Narciso, da Polícia Federal, ficou provado que havia um esquema de sonegação fiscal na Daslu. Sob as acusações de vender produtos sem nota fiscal, subfaturar notas e falsificar documentar, Eliana Tranchesi e seu irmão, diretor financeiro na época, foram condenados a 94 anos de prisão.
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Somando impostos, multas e juros, a Justiça diz que a Daslu deve aos cofres públicos R$ 1 bilhão.
Além do valor total, quem arrematou a Daslu paga também R$ 500 mil de taxa. Sua identidade, porém, ainda é mantida em sigilo.
O certame, conduzido pela Sodré Santoro, já havia sido marcado para maio, mas foi postergado para que o domínio do site também entrasse no combo que inclui ainda as marcas Villa Daslu, Daslu Village e Terraço Daslu. A quantia será usada para cobrir a massa falida e pagar os credores.
Sidney Palharini Junior, advogado da Sodré Santoro, explica que o leilão foi todo eletrônico. Segundo ele, foram 32 lances ofertados por cinco participantes diferentes.
Com G1
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