Com o aumento do uso das tecnologias, com as quais protagonizamos nos últimos anos, principalmente com o uso de ferramentas para reuniões e muito mais, que nasceram e aumentaram exorbitantemente o seu uso, que vem junto com o trabalho remoto, que concomitantemente com as redes sociais, se tornam uma nova forma de convivência, tanto laboral como social, mas infelizmente, por mais que haja esse lado otimista, podemos perceber algo extremamente pessimista, que se conflitua com o mau uso dessas tecnologias
Danilo Espindola Catalano*
Percebemos que a convivência no mundo tecnológico, parece ser um lugar extremamente diferente do pessoal, sendo que na verdade, dever-se-ia considerar o espaço digital como um novo Campo, para usarmos o conceito de Pierre Bourdieu. Ou seja, podemos deixar claro, que o mundo digital é só mais um espaço pelo qual as pessoas utilizam para se relacionar, trabalhar e fazer as mesmas coisas que fazem presencialmente.
Vi durante os piores momentos da pandemia de COVID-19, alguns especialistas dizendo que aprenderíamos muito com este momento, principalmente em se comportar no mundo digital, mas infelizmente, vejo o contrário e o aumento da violência no “mundo presencial” pode comprovar essa minha hipótese.
Dentro do mundo digital, as pessoas acreditam que podem fazer o que quiserem, como se entrar nele fosse o mesmo que entrar no parque da série “Westworld” fazer o que quiserem, sem terem consequência alguma. Como se por estar dentro das redes digitais, fosse permitido realizar os atos mais sórdidos do mundo, (incitar alguém ao suicídio, assédio sexual e moral e entre outras atitudes que passam impune).
O pior de tudo, é que existe uma complacência das pessoas sobre estas atitudes, quando dizem, pejorativamente, sem reconhecer o sentimento do próximo, que se qualquer acontecimento tenha sido protagonizado no mundo digital, este acontecimento não deveria ter importância. Explicitando, não somente sua complacência, mas sua falta de empatia com o próximo e mais uma vez dando uma desculpa, para deixarmos de lado os sentimentos para a lógica capitalista em que vivemos.
O mundo capitalista em que vive o mundo ocidental, assim como analisa Byung-Chul Han em sua obra, “Sociedade do cansaço”, é um mundo em que todos os sentimentos são “perda de tempo”, (para usar um termo de maneira mais simples), sendo necessário deixar de lado, sempre os sentimentos, para a produtividade; ou seja, negando os sentimentos ruins, para que se exale a positividade. O que é um dos principais motivos das visões pejorativas sobre a depressão, pois estar mal psicologicamente é perda de tempo se não se pode curar com uma pílula e estar curado.
Tudo pelo qual estivemos controlando e moralmente protegendo nossa sociedade, é visto fluir exacerbadamente dentro do mundo digital e não conseguimos ver as pessoas se conscientizando como é o caso do mundo presencial, o que infelizmente fará com que este mundo, que está cada vez mais presente em nossas vidas, seja sem leis, sem moral e sem ética, com as pessoas, pensando que está, tudo bem.
Não está tudo bem, porque este mundo, por conta da pandemia, teve uma reviravolta, estas atitudes que víamos apenas no mundo digital, agora estamos vendo no mundo presencial, principalmente com o aumento da violência, assim como arrastões, vivência em sala de aula; considero atos como a violência na Virada Cultural 2022 em São Paulo, a violência policial no Rio de Janeiro e a câmara de gás em Pernambuco, como resultado desta vivencia mal preparada no mundo tecnológico se caracterizando no presencial.
Ao invés das pessoas usarem os meios de comunicação, as redes sociais e a tecnologia, para se aproximarem mais, se amarem mais, poderem se ver todos os dias, não, infelizmente preferiram passar a falta de compromisso com esse meio, para o mundo presencial, o que terá, (claramente de maneira pessimista), daqui para frente, um aumento da violência, piora nos índices de mortalidade e entre diversos outros.
Para concluir, será importante, que por meio da reflexão, comecemos a entender o mundo digital ou tecnológico, como um outro mundo de convivência, tão igual, quanto o mundo presencial, e não o contrário, pois, só assim, será possível deixar de lado a realidade atroz na qual estamos adentrando.
*Danilo Espindola Catalano é escritor, pesquisador e professor de espanhol, dedicado a passar a cultura latino-americana aos seus alunos. Graduado em Sociologia e Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, pós-graduando em Metodologia do Ensino da Língua Espanhola e Especializando em Educação e Cultura pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais Brasil.
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