Indigenista desaparecido foi dispensado do cargo na Funai por pressão de ruralistas
Servidor concursado da Fundação Nacional do Índio (Funai), Bruno Pereira era alvo de pressões de ruralistas e foi dispensado pelo governo Bolsonaro da função de coordenador-geral de Índios
Servidor concursado da Fundação Nacional do Índio (Funai), Bruno Pereira era alvo de pressões de ruralistas, que se intensificaram sob o novo e favorável (para eles) governo.
Tanto que ainda no primeiro ano da atual gestão, em 2019, saiu a Portaria 1.597 do Ministério da Justiça e Segurança Pública, com a dispensa de Bruno da Cunha Araújo Pereira da função de coordenador-geral de Índios Isolados e de Recente Contato da Diretoria de Proteção Territorial da Funai. A dispensa é assinada pelo secretário-executivo do ministério, Luiz Pontel de Souza, que era delegado da Polícia Federal. O titular da pasta era o ex-juiz Sergio Moro.
Na época, a Funai tratou o episódio como normal, porque a fundação passara por mudança de comando recentemente. Em julho daquele ano, outro delegado da PF, havia assumido a presidência. Em novembro de 2021, o Parlaíndio Brasil ajuizou ação popular para pedir seu afastamento. Para a entidade, ele não se mostrava compatível com o cago e não dialogava com as lideranças indígenas.
Atualmente licenciado, Bruno Pereira está na Funai desde 2010 e é visto como conhecedor profundo de assuntos relativos a índios isolados. Foram nove anos atuando nessa área específica. Ele e o jornalista inglês Dom Philips estão desaparecidos no Vale do Javari, em Atalaia do Norte (AM).
↗ O que já se sabe sobre o desaparecimento de jornalista e indigenista na Amazônia
Segundo o correspondente da Associated Press no Brasil, Mauricio Savarese, “48 horas depois, ficou claro e comprovável que governo e militares demoraram nas ações de resgate no Javari, não deram prioridade ao caso e empregaram parcos recursos nas buscas até agora”. Ele acrescentou em sua conta no Twitter: “Tomamos nota. Isso não será esquecido, independentemente do desfecho dessa história”
48 horas depois, ficou claro e comprovável que governo-militares demoraram nas ações de resgate no Javari, não deram prioridade ao caso e empregaram parcos recursos nas buscas até agora. Tomamos nota. Isso não será esquecido, independentemente do desfecho dessa história.
— Mauricio Savarese (@MSavarese) June 7, 2022
Omissão do Estado
Sonia Guajajara, da coordenação da Articulação dos povos indígenas do Brasil (Apib), informou que aproveitou a chamada cúpula da Time 100 (personalidades mundiais mais influentes escolhidas pela revista Time) para denunciar ao ex-secretário de Estados dos Estados Unidos John Kerry “a omissão do Estado” brasileiro na busca do indigenista e do jornalista.
Declarações do presidente da República foram criticadas por outros jornalistas. “Reportar não é uma aventura. É um serviço público que só é perigoso em lugares onde o governo é omisso no combate ao crime, ou, pior, incentivador do crime”, afirmou Sônia Bridi.
“Bolsonaro ofende o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips. Não estão fazendo uma ‘aventura’. São trabalhadores em pleno exercício dos seus ofícios: um defendendo povos indígenas, outro reportando essa defesa e ameaças aos indígenas. Não estão passeando de jet ski”, disse Rubens Valente.
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