Influenciadora pede desculpas após debochar de vagas para autistas em shopping
Após a polícia abrir investigação, influenciadora que debochou de vagas para autistas em shopping pede desculpas: "Postei só para os meus melhores amigos, que são 18 pessoas" A mulher também zombou de "gordo estressado" e "veado"
A Polícia Civil de Goiás já recebeu cinco denúncias contra a influencer e maquiadora Lari Rosa, que publicou um vídeo nas redes sociais esta semana em que zomba de vagas exclusivas para autistas. Os reclamantes são familiares e figuras ligadas a entidades representativas de pessoas com autismo, que se revoltaram com o conteúdo publicado pela mulher.
O delegado Joaquim Filho Adorno Santos disse que a influenciadora deverá ser indiciada por praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em razão de sua deficiência.
Titular do Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Geacri), o delegado antecipou que a conduta de Lari Rosa está prevista como crime no artigo 88, parágrafo 2º, do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015). “O caso está sendo investigado”, disse.
De acordo com o delegado, a conduta da influenciadora digital é agravada ainda mais porque ela publicou o vídeo em rede social, o que também provocou revolta em diversas famílias de pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). No vídeo, a maquiadora também zombou de “gordo estressado” e “veado”.
Lari Rosa gravou o vídeo ao chegar no estacionamento de um shopping de luxo em Goiânia e ver as sinalizações vertical e horizontal para as vagas exclusivas no local. Ela estava em um carro dirigido pela sua mãe, a professora de etiqueta Vania Heringer Rosa, que tentou conter os comentários da filha, mas sem êxito.
O delegado ressaltou que a equipe de investigação está empenhada para concluir logo o caso, em busca de Justiça às pessoas que se sentiram ofendidas por causa das declarações. “Acredito que, até a próxima semana, [mãe e filha] já serão ouvidas”, afirmou ele. “A Polícia Civil espera fazer esse procedimento da forma mais rápida possível”, acrescentou.
Pessoas com transtorno do espectro autista têm direito a vagas especiais em estacionamentos em qualquer lugar do Brasil, de acordo com a Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012 (governo Dilma). A norma definiu o autismo como uma deficiência, ampliando os seus direitos.
Repercussão
O vídeo provocou revolta nas redes sociais e indignação entre diversas famílias de pessoas autistas. A pensionista Jéssica Coelho Borges Escobar, de 29 anos, mãe de um garoto de 5 anos com autista, disse que se sentiu “muito ferida” ao ver as declarações de Lari Rosa no vídeo.
“Na hora, eu vi e fiquei com mistura de raiva e choro. É uma luta tão grande para a gente conseguir direitos para nossos filhos, como questão de vaga, prioridade na fila. Tenho um filho que não fala. É averbal. A espera para é uma coisa que o deixa muito agitado. Ela está ali [no vídeo] também debochando de veado, gordo. Fiquei indignada”, disse Jéssica.
Mesmo com o pedido de desculpas da influenciadora, Jéssica destacou que as declarações de Lari Rosa configuram “preconceito”. “Não é falta de informação. É algo de que se fala todos os dias. Temos várias pessoas famosas que tem filhos autistas. Ela não sabe como é uma família que tem filho autista. Fazer chacota disso tem que viralizar mesmo, serve de exemplo. Ela fez isso e tem milhões de pessoas que fazem, mas não por falta de informações”, reforçou.
O psicólogo mestre Lucas Landin, especialista na área e atuante com pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), ressaltou que as pessoas com deficiência devem ter seus direitos respeitados, e não se deve acrescentar barreiras nas vidas delas. “Cada conquista é fruto de muita luta”, asseverou.
“Quando uma pessoa com autismo tem direito a uma vaga de estacionamento exclusiva foi porque a luta anterior foi muito grande. Isso tudo é baseado nas dificuldades que essas pessoas e suas famílias enfrentam no dia a dia. Dificuldades muitas vezes com um tempo de espera, alterações sensoriais, desregulação comportamental e que podem fazer parte da vida dessas pessoas”, ponderou o profissional.
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