Gustavo Petro mudará tudo sendo presidente da Colômbia, pois mostrará ao povo que os ex-guerrilheiros, podem usar a democracia para trazer a paz ao país
Danilo Espindola Catalano*
Em minhas aulas de espanhol, ministro a história das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), apresentando desde sua composição até os momentos de Acordo de Paz protagonizado pelo ex-presidente Juan Manuel Santos, que foi ministro de defesa do ex-presidente Álvaro Uribe, quem, quando foi presidente, fez da Colômbia um país militarizado e fortemente treinado contra o narcotráfico, principalmente com o apoio estratégico da Drug Enforcement Administration (DEA), dos Estados Unidos.
Antes de falarmos sobre o que fez o ex-presidente Álvaro Uribe, durante a campanha para o Sim a um acordo de paz revolucionário na Colômbia, tornasse necessário ter em vista a história das FARC no país, realizando um rápido resumo do que dou em sala de aula. Este grupo, em que ouvimos por muitos anos serem grupos guerrilheiros e traficantes, tem uma história política e social muito parecida com a Guerrilha do Araguaia e por isso é necessário não somente ouvir o lado dos meios de comunicação, mas a história em si mesma.
A história da Colômbia é marcada pela falta de um partido de esquerda, que possa usar da democracia para estar no poder, assim como faz hoje em dia o Partido Comunista do Brasil, (PCdoB), por isso, foi necessário impor-se ao país, criando um grupo guerrilheiro e agrário, que pedia entre diversas coisas, a principal, ter a possibilidade da criação de um partido próprio e a reforma agrária.
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Centros agrários em que as FARC dominam, são regidos por suas leis, leis estás que obviamente o atual governo colombiano, não está de acordo. Por isso, reforçam uma repressão bélica, tendo em vista o narcotráfico, que é a fonte de renda deste grupo guerrilheiro, que diante da impossibilidade de gerar renda de forma legal, teve que romper algumas regras para poder gerar capital, algo que também foi no início do século XXI, motivo para os diversos sequestros que realizaram.
O colunista do El País, Javier Lafuente, escreve: “Mas a maioria reconhece seu mérito de ter infligido um golpe as FARC durante seus dois mandatos (2002-2010), quando chegou a ser o presidente mais popular da América Latina, 91% de aprovação”, aludindo aos atos bélicos do ex-presidente Uribe, que protagonizou fortemente uma campanha contra o Acordo de Paz de Juan Manuel Santos, dizendo que a política correta seria a que realizou ele.
Ao lermos o acordo, tanto a comunidade internacional, como os membros das esquerdas internacionais, como, por exemplo, o ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mújica, classificaram na época o acordo como um ato surpreendente para chegar à paz no país latino-americano. Mas o que assusta os políticos da direita e até mesmo o próprio Álvaro Uribe, é a possibilidade de aceitar um partido verdadeiramente de esquerda para vencer de forma democrática, por meio do voto popular.
Com a posse de Iván Duque, amigo próximo de Álvaro Uribe, por mais que exista hoje um partido de esquerda, que tem as FARC como base, o COMUNES iniciou sua criação e adequação política como partido possível de participação nas eleições do país.
Neste ano, teremos eleições no país e as pesquisas mostram pela primeira vez o ex-guerrilheiro de outra guerrilha, não as FARC, Gustavo Petro (Colombia Humana) de um partido nascido e regulamentado entre 2011 e 2019.
Por mais que Petro, não seja filiado ao COMUNES, devemos ter em conta, que ele é tudo o que as FARC desejavam desde que se formaram no país, que a voz de esquerda colombiana, seja escutada e valorizada de forma séria e importante ao povo, sendo assim, um aliado que pode pôr fim às antigas políticas que aludimos neste artigo.
Ainda há uma incerteza no país vizinho a se considerar, mas caso tudo ocorra como está a se concretizar, esperasse que o medo de Álvaro Uribe e do atual presidente Iván Duque, tornará realidade. Pela primeira vez na história da Colômbia, haverá um presidente declaradamente de esquerda, o que vem de encontro com a impopularidade de Duque, com o aumento da violência no país e com a ascensão progressista no continente latino-americano pós-pandemia.
*Danilo Espindola Catalano é escritor, pesquisador e professor de espanhol, dedicado a passar a cultura latino-americana aos seus alunos. Graduado em Sociologia e Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, pós-graduando em Metodologia do Ensino da Língua Espanhola e Especializando em Educação e Cultura pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais Brasil.
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