Adolescente estuprada desde a infância relata que era abusada todos os dias. Caso só foi descoberto porque a vítima se sentiu encorajada após participar de uma palestra sobre violência sexual infantil realizada na escola onde ela estuda
Uma adolescente de 14 anos se sentiu encorajada e pronta para denunciar seu abusador após assistir a uma palestra sobre violência sexual infantil na escola. A menina revelou que era estuprada todos os dias pelo padrasto desde que tinha oito anos de idade. O caso aconteceu na cidade de Mundo Novo (MS).
A Polícia Civil confirmou que a adolescente só revelou os abusos após ter participado da palestra, que foi ministrada pelo Conselho Tutelar. O homem foi preso em flagrante por estupro de vulnerável na quinta-feira (2).
Em depoimento, a menina revelou que os estupros ocorriam todos os dias quando a mãe dela saía para trabalhar e ela ficava sozinha em casa com o padrasto. Os três moravam sozinhos na residência e ela é filha única da mulher. “Não suporto mais”, disse ela no momento em que revelou os abusos, pedindo ajuda.
“A mãe não sabia de nada, nunca tinha percebido nenhum comportamento diferente. Ela chorou muito quando descobriu que os abusos eram praticados pelo marido”, disse o delegado João Cleber Dorneles, responsável pelo caso.
Durante interrogatório, o padrasto confessou que estuprava a vítima há alguns anos. Ele permanece preso, aguardando audiência de custódia.
Educação sexual salva
A educação sexual é toda oportunidade que a criança, o adolescente, ou qualquer outro indivíduo, tem de receber informações, esclarecimentos, sobre tudo que diz respeito ao seu corpo. Do desenvolvimento da sexualidade às questões de gênero. O principal objetivo é promover conhecimento sobre o corpo e o sexo de forma natural, positiva e sincera. No entanto, a falta de preparo para lidar com temas ligados a esses dois assuntos podem fazer com que o aprendizado aconteça de uma maneira não satisfatória, tanto em espaços escolares quanto em casa.
“Os pais, mesmo quando não falam abertamente sobre o assunto, já estão educando, mas com uma mensagem negativa para criança ou adolescente. Por exemplo, quando uma criança faz uma pergunta sobre sexualidade e recebe: ‘Fica quieta, esse assunto não é coisa de criança!’. Essa atitude, por si só, é uma maneira de educar. Negativa, mas é. Por isso a educação sexual também está presente nas relações cotidianas, nas interações, nos olhares dos adultos, na forma como eles lidam com questões e dúvidas sobre o corpo e o sexo”, afirma Mary Neide Damico Figueiró, mestre em Psicologia Escolar pela USP e doutora em Educação pela Unesp.
“No Brasil, a chamada ‘onda conservadora’ difundiu o mito de que ‘falar de sexo pode estimular relações precoces’. Mas estudos mostram que é exatamente o contrário. Tratar da educação sexual desde pequeno cria-se um entendimento muito maior, de que é preciso preparo e responsabilidade. Então, muitos jovens que não tem uma educação sexual firme, de base sólida, iniciam sua vida sexual muito mais cedo do que aqueles que têm conhecimento e entendem a necessidade diante de uma vida sexual saudável e responsável”, diz a educadora.
“Uma criança bem informada vai estar menos vulnerável a ser vítima de violência sexual. Isso já é um ponto de extrema importância. A criança bem esclarecida, que conhece o seu próprio corpo, que foi ensinada sobre suas partes íntimas, já sabe reconhecer qualquer aproximação inapropriada de um adulto”, acrescentou.
Na Alemanha
Na Alemanha, a responsabilidade de ensinar as crianças sobre a vida sexual não é um papel exclusivo da família, mas um dever do Estado. A partir do ensino primário, os alunos começam a ter aulas sobre educação sexual.
Por lei, os 16 estados federais alemães são obrigados a promover a educação sexual nas escolas em parceria com instituições de aconselhamento familiar, com base num currículo nacional. A Central Alemã de Esclarecimentos sobre Saúde (BZgA), criada em 2003 como um centro especializado da Organização Mundial da Saúde (OMS), é a principal responsável pela implementação das diretrizes, que são guiadas pelos Padrões para a Educação Sexual na Europa (2010).
Os pais são informados antes de as aulas de educação sexual começarem, mas não têm direito a decidir se os filhos poderão ou não comparecer às aulas. Isso se deve a uma legislação que pune pais que deixam os filhos faltarem à escola.
Em 2013, um pai de nove crianças foi preso por proibir uma das filhas de frequentar as aulas de educação sexual numa escola primária do estado da Renânia do Norte-Vestfália. A mãe só não foi detida porque estava em fase de amamentação do bebê mais novo do casal. Em 2017, a família de origem russa decidiu retornar à Sibéria por não concordar com o sistema educacional alemão.
Mais do que ensinar sobre métodos contraceptivos e os aspectos biológicos dos órgãos sexuais, os professores alemães também discutem igualdade de gênero, valores sociais e emoções relacionadas à sexualidade e a relacionamentos. A abordagem do tema é holística, considerando os diferentes aspectos da sexualidade humana. Por isso, na maioria dos estados, a educação sexual é integrada a outras disciplinas, como ética, biologia, religião e ciências sociais. Em alguns estados, há disciplinas específicas de educação sexual nas escolas.
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