A participação do padre Fábio de Melo no programa Altas Horas, da TV Globo, no último sábado (4) motivou uma série de críticas à sua aparência nas redes sociais. Internautas chamaram atenção para seu rosto inchado, em geral sugerindo que ele teria feito harmonização facial.
Em pouco tempo, uma enxurrada de memes tomou o Twitter. O religioso rebateu os comentários maliciosos e revelou nesta segunda-feira (6), em entrevista ao jornal O Dia, ter sido diagnosticado com a Síndrome de Ménière — doença crônica que atinge duas a cada mil pessoas e provoca aumento da pressão de líquidos no labirinto, parte do ouvido responsável pelo equilíbrio e pela audição.
Quais os sintomas da Síndrome de Ménière?
De acordo com o médico Luiz Lavinsky, da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial (ABORL-CCF), os primeiros sintomas surgem por um “zumbido súbito intenso” seguido de tontura, podendo causar náuseas e vômitos e pequena redução da audição, que é capaz de melhorar, mas muito improvável de voltar ao que era. Lavinksky explicou que essa queda da audição costuma variar a cada caso.
Outros sintomas comuns são: crises de tontura de duração variável, perda auditiva, sensação de zumbido e de ouvido tapado, como se estivesse cheio de água, e vertigem.
“A doença se manifesta predominantemente entre os 30 e 50 anos, mas pode existir em adolescentes e idosos que têm vertigem intensa. Representa 20% das doenças do labirinto que afetam o ouvido. A proporção entre homens e mulheres é quase idêntica”, afirmou o otorrinolaringologista, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pesquisador da Síndrome de Ménière.
A síndrome surge, segundo o médico, em decorrência do acúmulo do líquido chamado endolinfa no ouvido que, ao aparecer em excesso, provocam a crise de vertigem.
“Em boa parte não conseguimos determinar por que isso acontece, mas as causas definidas são principalmente encontradas nas doenças autoimunes, quadros imunoalérgicos, certos quadros traumáticos que alteram esse funcionamento desses líquidos, malformações de nascimento, entre outras.”
No caso do padre Fábio de Melo, que contou ter sido diagnosticado há dez anos, o religioso disse ao jornal O Dia que seu sintoma é apenas a perda de audição do ouvido esquerdo nas regiões graves. Melo relatou também que o uso de alguns medicamentos reforça a retenção de líquidos, deixando seu rosto inchado. Além disso, como a doença não tem cura, o tratamento deve ser continuado.
“Usei [corticoides] durante quase dois anos seguidos, com interrupções para que o organismo descansasse, em doses altíssimas: 60 ml por dia”, afirmou ao jornal, destacando que “no auge das crises”, chegou a usar 80 ml diariamente.
Padre vira alvo de piadas no Twitter
No Twitter, internautas compararam o visual do religioso com vilões de desenho animado e a cantora Joelma, que também teve a aparência modificada por problemas de saúde.
“Recebi uma foto do padre Fábio de Melo e tô horrorizado que ele harmonizou… Jesus devia fazer algo a respeito”, comentou um usuário do microblog.
“Gente, na moral, que pecado foi esse que cometeram no rosto do Padre Fábio de Melo?? A harmonização dele tá numa harmonia tipo a relação de Caim e Abel. Jesus misericordioso”, disse outra pessoa.
“Gente, o padre Fabio de Melo perdeu a mão na harmonização facial… parece q a cara dele foi esculpida a tijolada, socorro #altashoras”, escreveu mais uma.
Entre as críticas ao rosto do padre, apareceu ainda quem criticasse a cobrança para personalidades envelhecerem aparentando estar sempre bonitos e jovens.
“O problema não é o botox do padre Fábio de Melo, o problema é que ninguém consegue envelhecer em paz. O único elogio pro velho é aparentar ser jovem”, postou uma usuária no Twitter.
Após a repercussão nas redes sobre sua aparência, Melo negou ter feito harmonização facial e explicou, num comentário de postagem no Instagram, que tinha tomado medicamentos para sinusite à época da gravação do programa.
“Se tivesse feito [harmonização facial] não teria nenhum problema em assumir. A gravação coincidiu com o término de uma crise de sinusite que durou um mês e meio. Foram 15 dias de antibióticos e anti-inflamatórios muito fortes. Eu tenho facilidade de reter líquidos. Mas, graças a Deus já estou bem. O rosto já está normal”, afirmou.
O padre postou também um vídeo em que aborda a necessidade das pessoas pela “cura emocional” para que elas não “desprezarem” mais umas as outras.
“Só estamos emocionalmente curados depois que nós perdemos a necessidade de desprezar”, disse o sacerdote. “O desprezo pode ser um sinal de que nós ainda estamos interessados pela realidade que dizemos ter superado. Quando fazemos verdadeiramente a faxina emocional que expulsa de nós os resultados danosos das relações que vivemos, perdemos a necessidade de insultar, falar mal, desprezar. Quando estamos realmente curados, nós oferecemos ao outro nosso silêncio, a elegante postura de quem sabe seguir a vida sem olhar para trás”.
Como é o diagnóstico da Síndrome de Ménière?
De acordo com o otorrinolaringologista Felippe Felix, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o diagnóstico para a Síndrome de Ménière é clínico, feito com base nos sintomas do paciente e nos exames que descartam outras doenças. O ideal, segundo ele, é que seja realizado o quanto antes, pois a doença é progressiva.
“A pessoa vai tendo mais crises de tontura e a audição vai se deteriorando cada vez mais. Por isso é importante ter um controle da doença, com mudança no estilo de vida e em alguns casos de medicação, para impedir que progrida e gere uma incapacidade crônica na pessoa, tanto de equilíbrio quanto de audição, que vai diminuindo cada vez mais no lado do ouvido acometido”, afirmou Felix.
Como é o tratamento da Síndrome de Ménière?
Embora não haja uma cura para a Síndrome de Ménière, é recomendado tratá-la para evitar a progressão dos sintomas, bem como diminuir a retenção de líquidos no corpo.
“Existem formas de controle para evitar que as crises aconteçam, como mudanças no estilo de vida. Geralmente recomendamos dieta com restrição de sal para evitar acúmulos de líquido no corpo. O abuso de açúcar também pode contribuir para essa retenção. Mas também pode ser necessário usar diuréticos ou outras medicações”, disse Felix.
Para Lavinsky, o tratamento da doença é fundamental para devolver qualidade de vida ao paciente.
“O tratamento deve ser feito porque [a Síndrome de Ménière] gera manifestações incapacitantes que impede os pacientes de terem uma vida normal”, afirmou. “Conseguimos na maior parte das vezes ter um domínio da doença. O tratamento deve ser continuado.”
Lavinsky explicou que a medicação geralmente é capaz de tirar o paciente da crise. Dependendo do caso, se usa diurético para reduzir líquidos, ou corticoide intratimpânico, que transpassa as fibras do tímpano e é aplicado dentro do ouvido médio.
“Ali ele tem um efeito muito maior do que se tomasse o medicamento pela boca”, completou. “Quando essas crises são incapacitantes e o tratamento com o corticoide não responde, se usa com muita parcimônia, a gentamicina [antibiótico], porque o medicamento pode atuar negativamente na audição.”
O médico citou ainda a aparição de quadros de ansiedade provocados pelas circunstâncias da doença, de forma que é comum receitar ansiolíticos também. Cirurgias, ele disse, são indicadas em casos de necessidade, quando os medicamentos não oferecem resultados.
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via Agência Globo