A volta do progressismo na América Latina
Crises políticas, sociais e econômicas, com a pandemia de COVID-19, possibilitou a ascensão de uma nova virada progressista na América Latina, que vem após não só de uma crise sanitária que não se esperava
Danilo Espindola Catalano*
Em meados de 2021 a América Latina se tornou o principal epicentro da pandemia de COVID-19, devido às políticas atrasadas para contenção do surto pandêmico, como foi o caso do Brasil, em que o governo federal se preocupou em exortar um medicamento dado cientificamente como ineficaz, no lugar de realizar as políticas sugeridas pelos membros internacionais como a OMS.
Mas, não só o Brasil entrou nesta política negacionista, países como a Guatemala e Peru, tiveram grandes problemas, pois os casos de corrupção do país, antes da pandemia, haviam arrastado uma crise política sem precedentes, que desestabilizou os respectivos governos.
O Peru teve três presidentes em quatro anos de mandato, terminando com o presidente do Congresso do país no poder. Na Guatemala o presidente e a vice-presidente deixaram o poder e foram presos por corrupção.
No Chile a crise social, econômica e política, aumentou com a pandemia e os problemas causados na região indígena de La Araucanía, com políticas extremas para conter a violência no país, realizadas por um presidente sem popularidade devido aos protestos de 2019.
Em se tratando da Colômbia, o país havia voltado às cifras exorbitantes de violência que viviam durante o século passado, devido a políticas extremistas de um presidente que acabou com o Acordo de Paz histórico realizado no país, aumentando a violência e principalmente o assassinato à dirigentes de movimentos indígenas do país.
Todo este contexto levou à vitória no Peru de um presidente progressista e professor, Pedro Castillo, que tomou posse com a promessa de reestruturar o governo destroçado pelas crises anteriores e agudizada pela pandemia. O que aconteceu também no Chile, com a vitória inesperada de Gabriel Boric, o presidente mais jovem a tomar posse, que vem de uma história do movimento estudantil e quem negociou com o ex-presidente Sebastián Piñera, o início da redação da nova constituição no país.
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Todo este contexto, de crises políticas, sociais e econômicas, com a pandemia de COVID-19, possibilitou a ascensão de uma nova virada progressista na América Latina, que vem após não só de uma crise sanitária que não se esperava, mas por uma realidade violenta que os governos de direita da região no lugar de mudar, acabaram aumentando ainda mais.
A exemplo desse aumento da violência, a chacina no Rio de Janeiro e de Genivaldo que morreu dentro de uma câmara de gás feita por soldados da Polícia Rodoviária Federal; que são dois casos isolados dentro da realidade brasileira, mas que ilustram a realidade violenta de toda a América Latina nos tempos atuais, que são inúmeras, como a perda ocular do povo chileno durante os protestos de 2019 e entre outros exemplos.
A ascensão do que poderíamos chamar de um novo fascismo na América Latina, perde força com a pandemia, que talvez tenha se iniciado anos antes com a vitória de Luis Arce na Bolívia, após a derrocada de Evo Morales e a prisão por corrupção da presidente golpista Jeanine Añez. Que foi pressionada por conta de uma forte violência a apoiadores e candidatos do MAS, partido ao qual fazia parte Evo Morales.
São muitos os exemplos de violência dentro dos países latino-americanos, que decidiram dar mais uma chance à uma virada à direita em seus países, mas muitos deles, começaram a mudar sua visão e escolha, devido ao contexto em qual foram expostos, é o caso da Bolívia, Chile e Peru, que decidiram a volta de um governo de esquerda, que vem com um discurso chamativo de democracia, paz e volta da economia, o que os povos latino-americanos anseiam após dois anos de pandemia.
No Brasil e na Colômbia, não é diferente este ano, sendo os países que se espera de maneira calorosa a posse de Luís Inácio Lula da Silva e Gustavo Petro, respectivamente, para marcar a derrocada da direita neoliberal, que se mantem ainda apenas no Paraguai, Uruguai e Equador, o que torna importantíssimo importante os olhos a esses dois países (Brasil e Colômbia) nas eleições presidenciais deste ano.
A importância econômica e política do Brasil na América Latina é inegável e por isso, para a consolidação do progressismo no país, por isso, os olhos estão voltados ao país este ano, pois a vitória de Lula da Silva, não só será a volta do Partido dos Trabalhadores ao poder do país, podendo rever erros do governo anterior, mas é a consolidação da volta de uma política integracionista na região, que possa fazer voltar as antigas formas de união, que não mais queiram se separar, como é o caso do fim da UNASUL e as declarações do presidente Luis Lacalle Pou, do Uruguai ameaçando sair do bloco do MERCOSUL para expandir a economia para outras regiões.
*Danilo Espindola Catalano é escritor, pesquisador e professor de espanhol, dedicado a passar a cultura latino-americana aos seus alunos. Graduado em Sociologia e Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, pós-graduando em Metodologia do Ensino da Língua Espanhola e Especializando em Educação e Cultura pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais Brasil.
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