Mesmo após pedido de desculpas, Piquet será banido de paddock da F1
Em novo trecho do vídeo, Nelson Piquet repete racismo e é homofóbico contra Hamilton: "neguinho devia estar dando mais o c*"
A BBC Internacional revelou que a F1 decidiu banir Nelson Piquet do paddock das provas da categoria após as declarações racistas do ex-piloto brasileiro contra Lewis Hamilton.
Nesta quarta-feira, Piquet divulgou um comunicado no qual minimizou o peso do uso do termo “neguinho” e rejeitou imputação de racismo à sua fala.
No entanto, novos trechos da entrevista de Piquet foram divulgados nesta sexta-feira (1) e mostram que o ex-piloto repetiu as declarações racistas e também chegou a ser homofóbico.
O novo trecho mostra o ex-piloto brasileiro comentando outro episódio além do acidente entre o britânico e Max Verstappen no Grande Prêmio de Silverstone, na temporada de 2021 da Fórmula 1.
Em certo momento da entrevista, Piquet é perguntado sobre a temporada de 1982 e o que achava do campeão daquele ano, Keke Rosberg. Curto e grosso, ele afirmou que Keke ‘era um bosta’. Em seguida, ele o compara com o filho, Nico Rosberg, campeão mundial de F1 em 2016.
“O Keke? Era um bosta, não tinha valor nenhum. É que nem o filho dele [Nico]. Ganhou um campeonato. O ‘neguinho’ devia estar dando mais c* naquela época, aí tava meio ruim”, disse Nelson Piquet.
O pedido de desculpas
“O que eu disse foi mal pensado, e não defendo isso, mas vou esclarecer que o termo usado é aquele que tem sido amplamente e historicamente usado coloquialmente no português brasileiro como sinônimo de ‘cara’ ou ‘pessoa’ e foi nunca teve a intenção de ofender”, disse Piquet no pedido de desculpas.
Nesta quinta, o piloto Max Verstappen, que namora Kelly, filha de Piquet, afirmou que a fala racista do sogro havia sido uma ‘escolha ruim de palavras’.
O termo ‘neguinho’
“Trocar o nome do principal atleta da Fórmula 1 na atualidade, além de desrespeito ao esporte que fez carreira, demonstra recalque diante da trajetória exitosa de Hamilton. Deve ser difícil admitir que nem ele próprio, nem seus privilegiados filhos conseguiram chegar perto do lugar alcançado pelo jovem negro britânico. Além das vitórias nas pistas, Hamilton é um fenômeno de simpatia e engajamento social, cuja popularidade pode ser comparada somente a do brasileiro Ayrton Senna, outro atleta que a família Piquet nunca conseguiu superar.”, observou o jornalista André Santana.
O escritor Gabriel Nascimento, que é doutor em Letras pela USP (Universidade de São Paulo) e professor da Universidade Federal do Sul da Bahia, explica que as palavras servem para sistemas de hierarquia, entre elas, as hierarquias raciais estruturadas pelo racismo.
Nascimento afirma que nem sempre o termo neguinho —de uso comum no interior da comunidade negra para demonstrar afeto — tem intenções racistas. “Mas, quando se trata de pessoas negras públicas que conseguiram conquistar espaços muito importantes na vida, esses termos servem para diminuir as pessoas.”
“Com isso, um mesmo termo pode ter significados diferentes a depender do contexto e das intenções de quem utiliza. A resposta de Piquet era uma crítica direta à postura de Lewis Hamilton, logo não havia nenhuma intenção em elogiar ou demonstrar afeto pelo atleta”.
O especialista diz que o termo utilizado é indexar, que significa o mesmo que colar o significado ao contexto —ou seja, uma palavra terá um significado diferente a cada contexto do diálogo.
A palavra neguinho, em ambientes profissionais e naquele contexto da entrevista serve para inferiorizar o status da pessoa, a condição de ser humano. Lewis Hamilton é um jovem ativista, que se identifica com as mais diversas causas, como a ecológica e o racismo. Referir-se a ele como neguinho é racismo porque ele deixa de ter nome.”
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