Imagens constrangedoras: o vídeo fala por si mesmo e revela uma série de erros e crimes, como abandono de posto, negligência e não prestação de socorro a pessoas em situação de vida ou morte. "Nunca vou perdoar esses covardes. Um dos meus alunos gritou: 'policial, estamos aqui'. Mas eles foram embora", desabafa professor
Jornais americanos divulgaram, nesta terça-feira (12), gravações das câmeras de segurança da escola Robb Elementary School, em Uvalde, no Texas, que mostram o momento do massacre que deixou 21 pessoas mortas, 19 delas crianças, no dia 24 de maio. As imagens fortes (assista abaixo) mostram que os policiais demoraram, ao todo, 77 minutos para agirem contra o atirador Salvador Ramos.
As imagens, obtidas pelo jornal Austin American-Statesman, mostram a demora dos policiais para agirem ao longo dos 77 minutos que duram as gravações. Eles entraram na sala e dispararam contra o atirador mais de uma hora depois do primeiro policial ter chegado ao local. Como mostra o vídeo, o atirador entra no prédio às 11h 33. Apenas ao 12h 21 que os primeiros policiais começam a se aproximar da sala de aula em que Salvador Ramos estava. O confronto direto com o atirador acontece cerca de 30 minutos depois, quando ele é morto pelas autoridades.
As filmagens mostram ainda os momentos que antecedem a entrada de Salvador Ramos no prédio, quando ele bate com seu carro nas proximidades do estacionamento da escola. O jovem de 18 anos pode ser visto ainda entrando armado dentro do prédio e disparando contra uma sala de aula antes de entrar dentro dela. Segundo o jornal que divulgou o vídeo, o áudio das gravações foi alterado para retirar os gritos das vítimas.
A ação das forças policiais no dia do massacre tem sido alvo de críticas da população local e de autoridades. Com isso, pedidos para que as gravações do dia do massacre se tornassem públicas foram feitas pelo prefeito de Uvalde, Don McLaughlin, e pelo governador do Texas, Greg Abbot.
Em declaração ao Senado estadual, o diretor do Departamento de Segurança Pública do Texas, Steven McCraw, classificou a conduta da polícia como um “fracasso abjeto” e acusou o comandante no local de colocar a vida dos policiais acima da das crianças. Ainda segundo McCraw, três minutos depois de Ramos ter entrado no prédio já havia policiais suficientes para deter o homem.
Para McCraw, o chefe da polícia local, Pete Arredondo, adotou a abordagem errada ao optar por uma ação mais lenta e metódica. Pelo contrário, situações com “atiradores ativos” deveriam obrigar aos policiais a fazerem tudo o possível para interromperem a ação do criminoso, de acordo com o diretor do Departamento de Segurança Pública do estado.
O Departamento de Segurança Pública do Texas já havia se comprometido em divulgar o vídeo durante o próximo final de semana, após exibi-lo para familiares das vítimas, conforme planejado por um comitê da Câmara dos Deputados do estado, que investiga o episódio.
A tragédia de Uvalde retomou o debate nacional sobre as regulamentações de armas, nos Estados Unidos. Senadores aprovaram em junho o projeto de uma nova legislação para endurecer as leis federais sobre o tema. A nova lei propõem, por exemplo, que armas sejam temporariamente retiradas de pessoas consideradas perigosas. Foi um raro caso de legislação bipartidária, que contou com apoio de democratas e de um pequeno grupo de senadores republicanos.
‘Covardes’: o desabafo do professor que viu 11 alunos serem mortos
“Covardes”, assim um professor ferido no tiroteio, descreveu os policiais por não agirem rapidamente enquanto os alunos foram baleados.
Todas as 11 crianças de sua classe foram mortas quando o agressor armado, Salvador Ramos, invadiu a sala de aula e uma outra ao lado por mais de uma hora enquanto a polícia estava no corredor.
Em uma entrevista angustiante à ABC News, o professor Arnulfo Reyes disse à polícia: “Vocês tinham um colete à prova de balas. Eu não tinha nada”.
Reyes, que é professor do quarto ano e leciona há 17 anos, disse que pensou que aquele “seria um bom dia” quando estava a caminho da escola.
Os estudantes estavam assistindo a um filme quando os disparos começaram. Ele disse que se esconderam embaixo das mesas e fingiram que estavam dormindo, como haviam sido ensinados. Mas o criminoso entrou por meio de uma sala ao lado e começou a atirar.
Reyes foi baleado e seguiu o conselho que havia dado a seus alunos e fingiu estar inconsciente. Deitado perto de sua mesa, ele conseguiu ouvir a polícia que havia entrado na escola minutos depois do agressor. Mas demorou mais de uma hora até que a polícia invadiu a sala de aula e matou o agressor.
“Eu rezei e rezei para não ouvir nenhum dos meus alunos falar”, disse Reyes. Achei que ia morrer.
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“Um dos alunos na outra sala de aula estava gritando: ‘Policial, estamos aqui. Estamos aqui'”, continuou ele. “Mas eles foram embora. Então ele [o assassino] se levantou de trás da minha mesa e começou a atirar novamente.”
Reyes disse que se sentiu abandonado pela polícia. “Não há desculpa para suas ações e nunca os perdoarei”.
Assista ao vídeo
↗ Biden: ‘quando vamos enfrentar o lobby das armas?’
Com BBC e Globo
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