Vaticano: pela 1ª vez mulheres farão parte de comitê para escolha de bispos
Desde o início do pontificado, em 2013, o papa argentino não esconde sua vontade de abertura da Igreja às mulheres
O papa Francisco nomeou três mulheres, duas freiras e uma leiga, para integrar o Dicastério, um comitê antes exclusivamente masculino que o aconselha na escolha dos bispos do mundo, disse o Vaticano nesta quarta-feira.
Ele havia divulgado a decisão em uma entrevista exclusiva à Reuters no início deste mês, explicando que queria dar às mulheres cargos mais importantes e influentes na Santa Sé.
Duas religiosas e uma laica integrarão o Dicastério para os Bispos, uma das nove congregações da Cúria Romana, encarregada, entre outras coisas, da nomeação dos bispos. Entre as novas participantes do órgão estão a irmã Raffaella Petrini, uma italiana que atualmente é vice-governadora da Cidade do Vaticano, a freira francesa Yvonne Reungoat, ex-superiora geral de uma ordem religiosa, e a leiga argentina Maria Lia Zervino, presidente da União Mundial das Organizações Femininas Católicas, UMOFC.
As três mulheres estão entre as 14 pessoas nomeadas para o Dicastério para os Bispos, que examina os candidatos e aconselha o papa sobre quais padres devem se tornar bispos. Os outros 11 nomeados nesta quarta-feira são cardeais, bispos e padres.
Os mandatos duram cinco anos. Antes do anúncio dos 14 nomes na quarta-feira, havia mais de 20 membros. O total flutua à medida que os mandatos expiram, mas geralmente os números do comitê estão entre cerca de 25 a 30. Os membros do comitê, que vêm de todo o mundo, se reúnem em Roma cerca de duas vezes por mês e enviam suas recomendações ao papa, que toma a decisão final.
“Dessa forma, as coisas estão se abrindo um pouco”, disse Francisco na entrevista de 2 de julho à Reuters em sua residência, quando divulgou sua decisão de nomear mulheres para a parte decisória do departamento dos bispos.
Desde o início do pontificado, em 2013, o papa argentino não esconde sua vontade de abertura da Igreja às mulheres. Em 2016, ele criou uma comissão para estudar a possível participação feminina como diáconos. O objetivo era abrir para as religiosas a possibilidade de ocupar esse posto, onde seriam autorizadas a pronunciar sermões nas missas, celebrar batizados, casamentos e funerais. Na época, o resultado do estudo apontou divergências e o sumo pontífice não conseguiu avançar no projeto.
Mas gradualmente as mulheres foram assumindo outros cargos na instituição. Em 2020, um ano após a entrada delas na Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, uma laica, Francesca Di Giovanni, foi escolhida para ser a vice-ministra encarregada do multilateralismo na Secretaria de Estado. Em 2021, o sumo pontífice nomeou outra mulher, a freira francesa Natalie Becquart, ao cargo de subsecretária do sínodo dos bispos, uma função que já dava direito de voto nessa instituição que corresponde ao Parlamento da Igreja Católica.
Também fazem parte dos cargos importantes da instituição Barbara Jatta, a primeira diretora dos Museus Vaticanos, Linda Ghisoni e Gabriella Gambino, ambas subsecretárias no Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, a professora Emilce Cuda, secretária da Pontifícia Comissão para a América Latina, Nataša Govekar, diretora da Direção teológica-pastoral do Dicastério para a Comunicação, e Cristiane Murray, vice-diretora da Sala de Imprensa da Santa Sé.
Com Reuters e RFI
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