Núcleo da campanha bolsonarista admitiu tensão, mas considerou 'positivo' duelo do presidente com William Bonner. O âncora do JN não conseguiu evitar que Bolsonaro repetisse mentiras já conhecidas. Dados mostram que telejornal bateu o recorde de audiência de 2022 com a entrevista desta segunda-feira
A campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) avaliou como ‘positiva’ a participação do mandatário no Jornal Nacional, da TV Globo. A entrevista foi marcada pela tensão entre o presidente e o apresentador William Bonner.
Nas redes sociais, interlocutores do governo e parlamentares aliados disseram que Bolsonaro se saiu melhor enfrentando Bonner do que Renata Vasconcellos, já que mostrou disposição para encarar o jornalista desde o início.
Integrantes do governo tentaram amenizar as interrupções de Bolsonaro já na primeira pergunta de Renata Vasconcellos, mas auxiliares da campanha admitiram que a postura do presidente foi mais agressiva com a apresentadora do que com Bonner. Bolsonarohavia sido alertado para tentar se controlar justamente nas respostas para Renata, para evitar ampliar sua rejeição no eleitorado feminino.
Para integrantes da campanha, Bonner também teria ido mal ao abrir a entrevista com “um discurso e não uma pergunta”. Em outro momento, na avaliação de auxiliares, Bolsonaro surpreendeu Bonner ao falar que o apresentador estaria estimulando que ele fosse um ditador, quando foi questionado sobre incoerências de governar ao lado do centrão.
“Ele [Bolsonaro] acertou mais do que errou e me pareceu melhor do que na participação de 2018. O tom de deboche dos apresentadores foi bom para o presidente”, avaliou uma fonte do PL ouvida pelo Pragmatismo.
Durante a entrevista, o ministro das Comunicações, Fabio Faria, chegou a fazer uma postagem com críticas à postura de Bonner: “Como o William Bonner recebe o Presidente da República fazendo caras de deboche e caretas o tempo inteiro? Inacreditável!”, escreveu o genro de Silvio Santos.
“Roteiro agressivo com apresentadores arrogantes e debochados. Tivemos um Presidente sereno que mostrou que o Brasil está em boas mãos e rumo à reeleição”, publicou Faria, após a entrevista.
Apesar da reclamação dos bolsonaristas, as entrevistas do Jornal Nacional com candidatos à Presidência da República costumam ser, historicamente, agressivas. O método deve ser repetido com Lula na próxima quinta-feira (25).
JN não evitou repetição de mentiras
Embora William Bonner e Renata Vasconcellos tenham conseguido apontar uma série de mentiras ditas por Jair Bolsonaro, os apresentadores do JN deixaram passar inúmeras outras fake news que o presidente tem repetido em suas manifestações públicas. Confira algumas:
BONNER: Nós vamos começar a entrevista com um assunto que tem mobilizado os brasileiros. O senhor tem xingado ministros do Supremo Tribunal Federal, tem feito ataques, sem prova nenhuma, ao sistema eleitoral brasileiro, o senhor chegou inclusive a ameaçar não ter eleição no Brasil, como se coubesse ao senhor decidir uma coisa dessas. Candidato, com franqueza: o que é que o senhor pretende, ou o que é que o senhor pretendeu com isso?
BOLSONARO: Primeiro, você não está falando a verdade quando fala xingar ministros. Não existe. Isso não existe, é um fake news da sua parte.
A VERDADE: Bolsonaro, no entanto, xingou ministros publicamente em, pelo menos, duas ocasiões. No dia 7 de setembro de 2021, em ato na Avenida Paulista, em São Paulo, Jair Bolsonaro chamou o ministro do STF — atual presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) —Alexandre de Moraes de “canalha”. “Sai, Alexandre de Moraes! Deixa de ser canalha! Deixa de oprimir o povo brasileiro!”. No mês seguinte, em outubro, Bolsonaro também chamou o ministro do STF Luís Roberto Barroso — à época presidente do TSE — de “filho da p…”. “Aquele filho da p… ainda faz isso. Aquele filho da p… do Barroso”, disse em agenda em Joinville (SC).
O presidente voltou a mentir ao negar que tivesse imitado alguém com falta de ar durante a pandemia ao ser questionado pela apresentadora Renata Vasconcellos. Ele ainda sugeriu que as imagens fossem exibidas. Bolsonaro imitou uma pessoa com asfixia publicamente ao menos duas vezes. Em março de 2021, durante sua live semanal, o presidente fez o gesto para criticar seu ex-ministro da saúde Henrique Mandetta. Ele repetiu o gesto durante live em maio de 2021.
Além disso, Bolsonaro repetiu mentiras sobre envio de oxigênio a Manaus, fraude nas urnas eletrônicas e criação do pix.
Recorde de audiência
A entrevista desta segunda-feira (22) elevou bastante o ibope da Globo. A conversa alcançou o maior pico de audiência da televisão brasileira em 2022, superando a final do Mundial de Clubes de 2022 entre Chelsea x Palmeiras na Band em fevereiro. Foram 32,4 pontos de média com picos de 37. A conversa de 40 minutos, que ficou no ar das 20h31 às 21h11, cresceu os números em 21,4% em relação à segunda passada (27 pontos).
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