Fazia parte da estratégia de Bolsonaro a ideia de mostrar uma 'cola' em sua mão durante a entrevista ao JN, dizem integrantes da campanha. O objetivo era gerar engajamento além da bolha e atiçar a curiosidade em torno de termos associados à esquerda, de forma negativa. A escolha das palavras teve a participação do gabinete do ódio
Integrantes da campanha de Jair Bolsonaro (PL) afirmaram ao jornal Folha de S.Paulo que a ‘cola’ na mão do presidente durante entrevista ao Jornal Nacional ‘foi proposital’. “O objetivo era atiçar a curiosidade dos telespectadores e mobilizar as redes sociais em torno de termos associados à esquerda”, dizem.
A ideia teve participação do filho do presidente, vereador Carlos Bolsonaro, e de integrantes do chamado gabinete do ódio, uma ala mais ideológica do governo que trabalha para viralizar conteúdos falsos e/ou depreciativos. No último domingo, Carlos e outros auxiliares de Bolsonaro tiveram uma reunião no Palácio da Alvorada justamente para pensar em formas de gerar conteúdo para as redes sociais após a entrevista. As palavras escritas na mão do presidente foram “Nicarágua”, “Argentina”, “Colômbia” e “Dario Messer”. Logo depois da entrevista, canais bolsonaristas no aplicativo Telegram começaram a compartilhar mensagens afirmando, por exemplo, que na Nicarágua há “perseguição contra Cristão, para lembrar que Lula defende os regimes autoritários”.
Os apoiadores do presidente também passaram a divulgar mensagens de que o doleiro Dario Messer repassaria dinheiro à família Marinho, dona da TV Globo. Em delação ao Ministério Público Federal do Rio de Janeiro em 2020, o doleiro teria dito que, durante a década de 90, entregava “em várias ocasiões” quantias entre US$ 50 mil e US$ 300 mil a integrantes da família Marinho.
Auxiliares do presidente lembraram ainda que a ferramenta de usar palavras na mão já foi utilizada na campanha de 2018, quando antes de um debate ele escreveu as palavras: ‘pesquisa’, ‘armas’ e ‘Lula’. Ainda naquele ano, ele também participou do JN com uma cola na mão com as palavras ‘Deus’ e ‘Família’. A campanha comemorou o fato de a cantora Anitta ter compartilhado uma foto com a cola na mão de Bolsonaro, o que, na avaliação deles, gera engajamento “para além da bolha”. Bolsonaro ironizou a postagem da cantora e escreveu “Obrigado, Anitta”. O presidente pediu aos seguidores que pesquisassem os temas.
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