Saúde

Criança morre após banho em rio com suspeita de ‘ameba comedora de cérebro’

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Ameba 'comedora de cérebro' pode ser causa de morte de criança após banho de rio nos EUA. Apenas 22 pessoas infectadas conseguiram sobreviver até hoje. Um deles conta que precisou reaprender a escrever, andar, subir e descer escadas

Imagem: reprodução

Uma criança morreu nesta semana com a suspeita de ter contraído uma infecção rara causada por um parasita conhecido como “ameba comedora de cérebro”, depois de nadar em um rio no Estado de Nebraska, nos Estados Unidos, afirmam as autoridades. Caso seja confirmada, seria a segunda morte por essa causa no centro-norte do país nas últimas semanas, o que levanta questões sobre se há influência das mudanças climáticas na proliferação desse tipo de parasita.

O Departamento de Saúde do Condado de Douglas, com sede em Omaha, em Nebraska, informou na quarta-feira, 17, que os médicos acreditam que o menino morreu de meningoencefalite amebiana primária, uma infecção geralmente fatal causada pela ameba Naegleria fowleri (nome científico).

Os sintomas iniciais da doença incluem febre, dor de cabeça, náuseas e vômitos, evoluindo para torcicolo, perda de equilíbrio, alucinações e convulsões.

Autoridades de saúde acreditam que a criança contraiu a doença no dia 8 de agosto, enquanto nadava no Rio Elkhorn, alguns quilômetros a oeste de Omaha. Os sintomas começaram cinco dias depois. Ele foi hospitalizado 48 horas após o início dos sintomas. Quase dez dias depois, morreu. O nome da vítima não foi divulgado.

Normalmente a ameba é encontrada nos Estados do sul, porque prospera em temperaturas da água acima de 30ºC. “No entanto, infecções também foram detectadas no norte nos últimos anos, incluindo dois casos em Minnesota desde 2010”, disse Lindsey Huse, diretora de saúde do condado de Douglas, em entrevista coletiva na quinta-feira, 18.

‘Não precisamos esperar o futuro, o clima já está mudando’, diz pesquisador

“Nossas regiões estão ficando mais quentes. À medida que ficam mais quentes, a água fica mais quente e os níveis de água caem devido à seca, e você pode ver que esse organismo é muito mais feliz e tende a prosperar nessas situações”, avaliou Lindsey.

No mês passado, um morador do Missouri morreu da mesma infecção, possivelmente causada pela ameba no lago dos Três Incêndios, no sudoeste de Iowa. As autoridades daquele Estado fecharam a praia do lago por quase três semanas como medida preventiva.

As pessoas geralmente são infectadas quando a água contendo as amebas entram em contato com seu corpo pelas narinas, enquanto nadam ou mergulham em lagos e rios. Outras fontes também foram identificadas, como água da torneira contaminada em uma cidade da área de Houston, em 2020.

Sobrevivente precisou reaprender a escrever, andar, subir e descer escadas

Dentre os 154 americanos infectados pela doença, Sebastian DeLeon é um dos quatro sobreviventes. Ele foi infectado pela ameba “comedora de cérebro” aos 16 anos depois de pular umas “três vezes” em um lago estagnado na Flórida. Hoje, aos 22 anos, ele luta para superar as sequelas causadas pela doença. A ameba que desencadeou sua doença é fatal em cerca de 97% dos casos, mesmo naqueles que procuram auxílio médico e iniciam um tratamento.

O garoto começou a ter os primeiros sintomas dias após nadar em um lago estagnado, enquanto visitava partes temáticos com os pais na Flórida. O sinal foi uma forte dor de cabeça, que segundo o rapaz, era “totalmente” diferente de qualquer outra que ele já tinha sentido. Segundo ele, parecia que “havia uma pedra lisa no topo da minha cabeça e alguém a empurrava para baixo”, explica DeLeon. Dias depois, as manifestações pioraram a ponto de ele não conseguir se levantar, se movimentar e precisar de óculos de sol para sair de casa, mesmo sem a presença dos raios solares.

Os pais do garoto o levaram para a emergência de um hospital onde foi diagnosticado com a infecção Naegleria fowleri, popularmente conhecida como ameba “comedora de cérebros”. O tratamento do menino consistiu em sete antibióticos e foi necessário induzi-lo a um coma que durou uma semana.

Depois de ter uma leve melhora em seu quadro clínico, DeLeon foi liberado para um centro de reabilitação infantil e começou a ter fisioterapia diariamente. O garoto precisou reaprender coisas simples da vida como andar, comer, subir e descer escadas e escrever. Além disso, ele precisava recuperar uma parte de seus músculos e força, visto que ele não conseguia levantar mais um peso de dois quilos.

Infecções são raras, mas letalidade é alta

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) afirma que as infecções por Naegleria fowleri são raras – cerca de três casos por ano no país –, mas alerta que são extremamente mortais.

Entre 1962 e 2021, 154 ocorrências do tipo foram relatadas nos Estados Unidos e apenas quatro pacientes sobreviveram, de acordo com o CDC.

Quase metade desses casos, 71, foi registrado entre 2000 e 2021. Texas e Flórida têm o maior número de infecções com 39 e 37, respectivamente.

De acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Água, a temperatura da água da superfície perto de onde o menino estava nadando estava entre 30ºC e 33ºC.

Jacob Lorenzo Morales, pesquisador da Universidade de La Laguna, nas Ilhas Canárias, que estudou a ameba naegleria fowleri, disse que o aumento das infecções desde 2000 pode ser atribuído a dois fatores: melhor compreensão e diagnóstico da doença e aumento das temperaturas nos corpos d’água, que proporcionam um ambiente considerado perfeito para a proliferação da ameba.

Com Agência Estado e Globo

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