Saúde

Hepatite autoimune: doença que matou campeã de futsal é complexa e multifatorial

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Pietra Medeiros começou no futsal aos 7 anos e venceu tudo tanto nas categorias de base como no profissional. A jovem de 20 anos estava saudável quando foi diagnosticada com a doença e chegou a ser submetida a um transplante de fígado de urgência

Pietra Medeiros atleta do time Taboão Magnus (Imagem: Instagram)

A jogadora de futsal Pietra Medeiros, integrante do time Taboão Magnus, de Taboão da Serra, região metropolitana de São Paulo, morreu aos 20 anos. Pietra estava internada há mais de 10 dias com diagnóstico de hepatite autoimune. Ela fez um transplante de fígado, mas não resistiu e morreu na última sexta-feira (19).

Tímida, dedicada, forte, uma “menina de ouro”: é assim que a mãe e a coordenadora de time descrevem Pietra, campeã de futsal.

Pietra começou a jogar futebol aos 7 anos, depois que o irmão mais novo foi matriculado em uma escola local. Dali, passou para as categorias de base do Magnus, criado em 2009, e só cresceu: aos 16 anos, já integrava o time profissional do clube.

“Com 16 anos iniciou no profissional, a jogar junto com as meninas do profissional. O titulo mais recente delas foi a Libertadores, na Bolívia. [Ela] foi até destaque da base que estava ali”, relatou a mãe da jogadora, Patrícia Medeiros Domingues.

“A Pietra sempre foi muito dedicada, correta, justa nas coisas que fazia – chegava antes dos treinos e ia embora depois. Ela tinha essa dedicação muito forte”, descreveu.

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“Ela lutava a favor do esporte, do futsal feminino, que é tão pouco divulgado, tem tão pouco incentivo. Isso é um legado que eu acho que ela queria muito ter deixado. Ela brigava muito por isso, porque era o que amava fazer”, contou o pai de Pietra, Adriano Pires, à reportagem.

Apesar de tímida, Adriano também afirmou que a filha sempre ajudava as colegas em quadra, com palavras de apoio. E as viagens frequentes também não a intimidavam: a saudade maior era dos pets, que Pietra chamava de “filhos”. Fora das quadras, a jovem estudava psicologia.

Priscila, a coordenadora do clube e ex-treinadora de Pietra, conta que a jogadora “odiava” quando treinos ou jogos eram cancelados, e vivia o mundo do futsal 24 horas por dia.

“Ela transformou a família dela para viver [o futsal] também – a família dela não era dela, era nossa”, diz. “Todo treino tinha alguém acompanhando ela – avô, avó. Até os 16 anos, a avó dela entrava no vestiário para amarrar o cabelo dela. Acabou que a avó parou de amarrar o cabelo de tanto que a gente zoava”, relata Priscila.

“Chegava sorrindo, com aquele sorrisão dela. Tudo estava bom. Se tinha que entrar no jogo no frio de 5ºC, ela entrava sem chorar. Fazia tudo o que a gente pedia. Sempre foi um exemplo de filha, um exemplo de aluna. Nesses dez anos em que ela estava com a gente, eu não me lembro uma vez que eu tive que parar para dar bronca porque ela tinha feito alguma coisa errada na escola ou alguma coisa com os pais. Nunca, nunca”, afirma Priscila.

Patrícia, mãe de Pietra, diz que as mensagens, orações e homenagens têm fortalecido a família.

“A gente acredita que Deus honrou muito a vida dela. É nisso que a gente acredita, na vontade soberana de Deus. O que ela amava era o futsal, e a gente espera que ela deixe esse legado, que está crescendo a cada dia, esse legado de empatia”, completa.

O que é hepatite autoimune

A hepatite autoimune é uma doença inflamatória crônica do fígado de causa desconhecida que afeta mais frequentemente as mulheres e tem um ciclo variável, variando de nenhum sintoma à insuficiência hepática fulminante. Nela, o sistema imune ataca as células do fígado causando inflamação e alteração da função do órgão.

Trata-se de uma doença complexa, poligênica e multifatorial, que é causada pela interação de um gatilho, provavelmente, relacionado a fatores ambientais em um indivíduo geneticamente suscetível.

Apresenta ocorrência universal e sua prevalência mundial permanece desconhecida. No Brasil, apesar dos poucos estudos realizados, é responsável por 5% a 19% das doenças hepáticas dos principais centros, por menos de 5% dos pacientes em lista de transplante e por cerca de 6% dos transplantes realizados no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).

Os principais fatores para o diagnóstico da doença são:
➧ presença de fatores de risco
➧ fadiga/mal-estar
➧ anorexia
➧ desconforto abdominal

A doença não tem cura e o tratamento consiste em diminuir a atividade do sistema imune com drogas imunossupressoras e uma dieta equilibrada.

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As opções de tratamento incluem corticosteroides isolados ou em combinação com outros imunossupressores. O transplante de fígado é indicado em pacientes com doença hepática avançada que são refratários ou intolerantes à corticoterapia. Sem tratamento, a sobrevida em 10 anos é menor que 30% e em 5 anos de 50%.

Com G1 e Viver Bem

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