"Não gosto de lembrar porque me faz chorar, me faz tremer, me faz querer sair correndo porque dói, machuca muito", diz jovem negra que denunciou racismo de colega na Marinha. Agressão racial ocorreu em mais de uma ocasião
Marcelle Silva Santos, de 22 anos, estagiária do 1° Distrito Naval da Marinha, denunciou nesta quinta-feira (25), uma colega de trabalho por racismo.
Segundo informações do portal G1, Marcelle relatou que os episódios de racismo aconteceram por duas vezes, cometidos pela mesma pessoa na copa do Distrito Naval, a estagiária chamada Ticiany, de 18 anos.
Há mais ou menos cerca de um mês a denunciada se recusou a lavar uma louça, afirmando que Marcelle deveria fazer sob justificativa de que ela era preta.
“Aí, falei para ela: ‘hoje vamos ver quem vai lavar a louça’. Ela pegou e falou para mim: ‘eu não vou lavar louça não’. Eu: ‘mas eu lavei outro dia. Eu acho que é a sua vez de lavar a louça. Sempre tenho que lavar todo dia?’ Aí, ela falou: ‘sim porque você é preta’. Aí, depois deu uma risada e disse que estava zoando, que estava brincando,” relatou Marcelle.
De acordo com a estagiária, novamente sob a desculpa de que era apenas ‘uma brincadeira’ a estagiária voltou a fazer comentários racistas nesta quinta-feira (25).
“A estagiária Ticiany falou: ‘tem uma tal loja que está dando uma vaga de trabalho’. Eu falei: ‘poxa, esse lugar para mim é um pouco pesado, é escravidão para mim’. E ela falou: ‘o que é que tem, você é preta’, diz a jovem.
Após o episódio Marcelle lembra que foi chorar no banheiro e relembrar os traumas da infância, onde era ‘zoada’ por conta de sua cor.
Marcelle relata ainda que lembrar dos episódios lhe causam dor e machuca muito.
“Eu nem gosto de lembrar porque me faz chorar, me faz tremer, me faz querer sair correndo porque dói, machuca muito”.
As duas situações de racismo foram cometidas perto de outras pessoas, no entanto, Ticiany, teria sido advertida apenas verbalmente.
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Diante disso, uma amiga de Marcelle a encorajou a denunciar os casos de intolerância racial na Delegacia de Crimes Raciais, no Centro. Ela também criou um grupo para combater o crime dentro do colégio Pedro II.
“Eu espero que isso mude algum dia porque como aconteceu comigo hoje, amanhã posso ter um filho e acontecer com ele também”.
A jovem começou o estágio na Marinha em fevereiro deste ano e pretende fazer faculdade de pedagogia e ingressar na carreira militar.
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