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ELEIÇÕES 2022 17/Ago/2022 às 19:34 COMENTÁRIOS
ELEIÇÕES 2022

Lula cortejado e Bolsonaro irritado: os bastidores da posse de Moraes no TSE

Publicado em 17 Ago, 2022 às 19h34

Bolsonaro, Michelle e Carlos saíram irritados da cerimônia, enquanto Lula foi adulado por autoridades e pela imprensa

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(Imagem: TSE/Secom)

O aguardado pronunciamento de Alexandre de Moraes, empossado na noite desta terça-feira (16) como novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sintetizou a defesa do sistema eletrônico de votação, contestado por Jair Bolsonaro, posicionado a poucos metros, na mesa das autoridades.

Na parte final de seus 27 minutos de discurso, Moraes chegou a ser aplaudido de pé por grande parte do auditório – à exceção dos governistas. “Estamos entre as quatro maiores democracias do mundo. Mas somos a única que apura e divulga os resultados eleitorais no mesmo dia. Com agilidade, segurança, competência e transparência. Isso é motivo de orgulho nacional.”

A posse de Moraes e seu vice, Ricardo Lewandowski, teve a presença de 22 governadores (Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Roraima Santa Catarina, São Paulo e Tocantins). E quatro ex-presidentes: José Sarney, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer – Fernando Henrique Cardoso mandou mensagem.

A ex-presidenta Dilma não cumprimentou seu ex-vice, que assumiu o cargo após o impeachment de 2016. Da mesa solene, Bolsonaro ficou de frente para Lula. O atual presidente, cuja presença era posta em dúvida, não aplaudiu quando o nome de Alexandre de Moraes foi anunciado, ao entrar no plenário.

O novo presidente do TSE, que substitui Edson Fachin, enfatizou a defesa do voto como instrumento da democracia e chamou o sistema anterior de “nefasto”, lembrando de seus tempos de promotor eleitoral. “A Justiça Eleitoral simplesmente encerrou essa nefasta fase da democracia brasileira. (Teve) a coragem de combater aqueles que são contrários aos ideiais constitucionais e aos valores republicamos.”

Ao falar em soberania popular, ele reafirmou que as urnas eletrônicas continuam sendo aperfeiçoadas (outra crítica recorrente dos bolsonaristas). “O aperfeiçoamento foi, é e continuará sendo constante. Sempre. Absolutamente sempre. Para garantir total segurança e transparência ao eleitorado nacional.”

Moraes também defendeu a liberdade de expressão e disse que a interferência da Justiça Eleitoral será “mínima” nesse campo. Mas reafirmou, sendo novamente aplaudido: “Liberdade de expressão não é liberdade de agressão. Não é liberdade de destruição da democracia de destruição das instituições da dignidade e da honra alheias”.

O ministro rechaçou a propagação de discursos de ódio, preconceituosos ou contra o Estado democrático de direito. Enfatizou que a intervenção, nesses casos, será mínima, porém “célere, firme e implacável”. E também contra notícias falsas ou fraudulentas. “Principalmente naquelas escondidas no covarde anonimato das redes sociais, as famosas fake news. Democracia não é um caminho fácil, exato ou previsível, mas é o único.” Ao voltar à mesa para encerrar a cerimônia, trocou cumprimento formal com o presidente da República.

Bolsonaro irritado, Lula cortejado

Jornalistas e interlocutores que estavam presentes na cerimônia relataram que Bolsonaro, a esposa Michelle e o filho Carlos saíram do local apressados e bastante irritados. Ainda durante a cerimônia, o filho ‘Zero Dois’ do presidente foi fotografado sentado na plateia, de braços cruzados, enquanto todos os espectadores ao redor se levantavam para aplaudir o novo presidente da Corte.

“Bolsonaro estava visivelmente incomodado e ficou de frente para o Lula, ele não esperava e ficou mais irritado ainda. Tem uma foto que demonstra muito a situação que é na despedida quando estava todo mundo adulando o Lula. É a foto da expectativa de poder. A solenidade tem o festejadíssimo Moraes e todo mundo em volta do Lula e não do Bolsonaro, que é o presidente e candidato à reeleição. É a foto da expectativa de poder e mostra que as pessoas hoje estão apostando mais na eleição do Lula do que do Bolsonaro”, afirmou um jornalista.

Sentado à mesa das autoridades, que também incluía nomes como o presidente do STF Luiz Fux, Bolsonaro ficou frente a frente com Lula, que estava sentado na primeira fila da plateia.

Ao saírem da cerimônia, o ex-presidente Lula e a ex-presidente Dilma foram os primeiros a tirar uma foto com Moraes. No entanto, a saída do ex-presidente foi conturbada. Logo depois da foto, ele atravessou um corredor cumprimentando dezenas de autoridades enquanto jornalistas se aproximaram para pedir uma declaração.

Com gritos e empurrões, seguranças e assessores fizeram cordão para isolar os jornalistas. Lula evitou responder a perguntas em meio à confusão até a porta de saída. Questionado sobre a presença de Jair Bolsonaro na mesma ocasião que ele, o ex-presidente respondeu que “hoje é dia [da] Justiça Eleitoral”.

Mais tarde, em entrevista à Rádio Super, de Minas Gerais, Lula disse que Bolsonaro estava ‘visivelmente constrangido’ no local. “Bolsonaro ficou muito incomodado porque ouviu tantas vezes a palavra democracia, críticas a fake news, críticas ao autoritarismo. Todo discurso era visível a cara dele de constrangimento, com muita má vontade ele ficava em pé para aplaudir”.

Apesar de estarem no mesmo espaço e sentados frente a frente, Lula confirmou que não encontrou com Bolsonaro e avaliou que o presidente estava isolado durante o evento. “É estranho. Numa solenidade você conversa com as pessoas do lado. Estávamos sentados juntos numa demonstração de que ele estava muito inquieto, incomodado. Nunca tinha visto essa quantidade de ar respirando democracia”, disse o ex-presidente.

Segundo o ex-presidente, pegar o Brasil em 2023 “é infinitamente pior do que em 2003” durante seu primeiro governo. “Agora você tem o ódio, o desrespeito às instituições, fake news, pessoal do mal nas redes sociais. É quase que reconstruir o país.”

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