Quem são os empresários que defenderam um golpe de estado em caso de vitória de Lula
Em grupo de WhatsApp, donos de algumas das maiores empresas do país dizem preferir uma "ruptura institucional" do que o retorno de Lula ao Planalto. Um deles afirma que "ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil" se o país voltar a ser uma ditadura. Outro sugere a cooptação do voto de funcionários e diz que os bolsonaristas precisam sujar as mãos de sangue: "É utopia pensar que tudo se resolve 'na boa'"
Uma reportagem publicada pelo site ‘Metrópoles’ divulgou mensagens escabrosas compartilhadas por empresários bolsonaristas em um grupo de WhatsApp. As declarações foram escritas no grupo chamado Empresários & Política, criado em 2021.
Nas mensagens, os donos de algumas das maiores empresas do Brasil dizem preferir um golpe de estado do que o retorno de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Palácio do Planalto. Além de dizer que seria ‘tudo bem’ uma ditadura, os empresários atacam frequentemente instituições brasileiras como o STF (Supremo Tribunal Federal), o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e opositores da gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Entre os nomes do grupo estão Luciano Hang, dono da Havan; Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu; José Isaac Peres, dono da administradora de shoppings Multiplan; José Koury, dono do Barra World Shopping, no Rio de Janeiro; Ivan Wrobel, da construtora W3 Engenharia; e Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, dono da marca Mormaii (fotos acima).
A reportagem mostrou que José Koury, dono do shopping Barra World, no Rio de Janeiro, declarou preferir uma “ruptura” do que o retorno de petistas ao Palácio do Planalto. Segundo o empresário, se o Brasil voltasse a ser governado por uma ditadura militar, o país seguiria recebendo investimentos externos.
“Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo.”
A mensagem de Koury foi uma resposta à discussão iniciada pela postagem de Ivan Wrobel, dono da W3 Engenharia, construtora de imóveis de alto padrão, atuante na zona sul do Rio de Janeiro.
Na sequência, Marco Aurélio Raymundo, conhecido como Morongo, que é médico e dono da empresa de roupas e itens de surfe Mormaii, respondeu às mensagens de Koury: “Golpe foi soltar o presidiário. Golpe é o “supremo” agir fora da constituição. Golpe é a velha mídia só falar merd*”.
Afrânio Barreira, dono do Grupo Coco Bambu, defensor do presidente Bolsonaro publicamente, comentou a mensagem de Koury com uma figurinha de um homem dando “joinha”. No mesmo dia, o empresário André Tissot, do Grupo Sierra, empresa que fabrica móveis de luxo, declarou: “O golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo. Em 2019 teríamos ganhado outros 10 anos a mais”.
Sangue
Em 17 de maio, Morongo, tido como um dos mais extremistas do grupo, segundo o site, sugeriu ações extremistas para defender o presidente e citou a Revolução Francesa e a Guerra Civil dos Estados Unidos.
“Se for vencedor o lado que defendemos, o sangue das vítimas se tornam [sic] sangue de heróis! A espécie humana SEMPRE foi muito violenta. Os ‘bonzinhos’ sempre foram dominados? É uma utopia pensar que sempre as coisas se resolvem ‘na boa’. Queremos todos a paz, a harmonia e mãos dadas num mesmo objetivo? masssss [sic] quando o mínimo das regras que nos foram impostas são chutadas para escanteio, aí passa a valer sem a mediação de um juiz. Uma pena, mas somente o tempo nos dirá se voltamos a jogar o jogo justo ou [se] vai valer pontapé no saco e dedo no olho”.
No entanto, em 31 de maio, Morongo mudou um pouco o discurso após Koury sugerir o pagamento de um “bônus” para funcionários que votassem seguindo os seus interesses. “Alguém aqui no grupo deu uma ótima ideia, mas temos que ver se não é proibido. Dar um bônus em dinheiro ou um prêmio legal pra todos os funcionários das nossas empresas”.
Ataque às urnas
Sem provas, os empresários atacam as urnas e o sistema de votação eletrônico. O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o ministro Alexandre de Moraes, também é alvo constante dos ataques no grupo.
Meyer Nigri, fundador da Tecnisa e empreiteiro, encaminhou uma mensagem em oito de agosto com ataques à Suprema Corte. O texto, que não foi escrito por ele, tinha a chamada de “leitura obrigatória” e iniciava a mensagem com a frase: “O STF será o responsável por uma guerra civil no Brasil”.
Já o empresário José Isaac Peres, acionista majoritário da Multiplan, administradora de diversos shoppings no Brasil, criticou as pesquisas eleitorais e as classificou como “manipuladas”.
“O TSE é uma costela do Supremo, que tem 10 ministros petistas. Bolsonaro ganha nos votos, mas pode perder nas urnas. Até agora, milhões de votos anulados nas últimas eleições correm em segredo de Justiça. Não houve explicação”.
Um texto encaminhado por Meyer Nigri ao grupo no dia 21 de julho divulgou apoio a uma “contagem paralela” de votos nas eleições feita por uma comissão externa. Outra mensagem compartilhada pelo fundador da Tecnisa, em 26 de junho, acusava o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, de “interferir” no pleito deste ano ao “mentir” sobre o voto impresso, pauta já derrotada pelo Congresso Nacional em 2021.
Desde que as urnas eletrônicas foram implementadas — parcialmente em 1996 e 1998, e integralmente a partir de 2000 — nunca houve comprovação de fraude nas eleições brasileiras, mesmo quando os resultados foram contestados. A segurança da votação é constatada pelo TSE, pelo MPE e por estudos independentes.
Em outro momento do grupo, Luciano Hang, dono das redes Havan e apoiador de Bolsonaro, declarou que após a reeleição do presidente no pleito deste ano, o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos), que disputa hoje o governo de São Paulo, deveria ser eleito ao Planalto em 2026 e ser reeleito posteriormente. “Aí não terá mais espaço para os vagabundos”, acrescentou.
Ciro sugere boicote
O candidato à Presidência da República Ciro Gomes (PDT) sugeriu um boicote a produtos e serviços dos empresários que defenderam o golpe. “Está na hora de boicotar os produtos e serviços de facínoras que querem o fim do nosso estado democrático de direito”, escreveu Ciro no Twitter.
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