Tática de questionar a saúde do adversário foi utilizada por Donald Trump

Ciro repete tática de Trump: estratégia de questionar capacidade física do adversário foi largamente usada pelo ex-presidente dos EUA durante sua campanha à reeleição. Ele afirmava, repetidamente, que Joe Biden (três anos mais velho do que Lula) não teria condições físicas e psicológicas de ser presidente. Em sua campanha contra o democrata, Trump chamava-o de "Sleepy Joe"

Leonardo Sakamoto

Em uma postagem nas redes sociais, Ciro Gomes (PDT) questionou, nesta segunda (29), a capacidade física e psicológica do ex-presidente Lula (PT) para enfrentar o que chamou de “direita sanguinária”, em clara referência ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). Meia hora depois, apagou o tuíte.

“SERÁ QUE NÃO ENTENDEM QUE LULA ESTÁ CADA DIA MAIS FRACO – FISICAMENTE, PSICOLOGICAMENTE E TEORICAMENTE – PARA ENFRENTAR A DIREITA SANGUINÁRIA?”, publicou o ex-governador sobre a saúde do petista.

A tática de questionar a capacidade do adversário foi largamente usada pelo ex-presidente Donald Trump durante sua campanha à reeleição nos Estados Unidos. Ele afirmava, repetidamente, que o seu oponente, Joe Biden, não teria condições físicas e psicológicas de ser presidente devido à idade – ele tem 79, três a mais que Lula. Em sua campanha contra o democrata, Trump chamava-o de “Sleepy Joe” – algo como Joe Sonolento.

O comentário de Ciro vem após o debate realizado pela Band, em que Lula não teve o mesmo desempenho que na entrevista ao Jornal Nacional, há uma semana. Além da rouquidão na voz, críticos do ex-presidente afirmam que ele aparentava cansaço.

A campanha de Lula disse que não se pronunciaria oficialmente por enquanto. Mas, logo depois de Ciro publicar o comentário, a equipe do petista respondeu à publicação sem citá-la diretamente, afirmando que “ontem, no debate da Band, Lula tratou Ciro Gomes com respeito” junto com um trecho de vídeo em que o petista elogia seu ex-ministro, mas cobra desculpas.

“Tenho um profundo pelo Ciro Gomes. Tô grato ao Ciro Gomes que esteve no governo comigo. Ele resolveu não estar conosco, sair em candidatura própria, é direito dele. Mesmo assim, Ciro, nós ainda vamos conversar. E você ainda vai pedir desculpas porque você sabe que está dizendo inverdades a meu respeito”, diz Lula no recorte de vídeo.

A avaliação de um membro da coordenação da campanha do petista é que esse comportamento do ex-governador prova que ele estaria desesperado para aproveitar a janela de oportunidade dada pelo debate, pois se Simone Tebet crescer, isso ocorreria principalmente em cima dele.

Pesquisa qualitativa do instituto Datafolha com eleitores apontou que Tebet teve o melhor desempenho no debate. Já levantamento da Quaest sobre o alcance do debate nas redes mostrou que tanto ela quanto Ciro Gomes saíram-se melhores que Lula e Bolsonaro.

Outro interlocutor da cúpula petista afirmou que a postagem adota uma estética mais comum nas mensagens do vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente responsável por suas redes sociais. E ressalta que a postagem foi apagada após o burburinho ser causado, ou seja, depois que cumpriu sua função. Na etiqueta da internet, um texto em letras maiúsculas transmite a ideia de que a pessoa está gritando o seu conteúdo.

Já uma liderança de outro partido da coligação lembra que é o marqueteiro João Santana que está com Ciro. Ele produziu campanhas presidenciais petistas, como a reeleição de Dilma Rousseff, em 2014, quando a então candidata Marina Silva foi atacada em propagandas do partido.

Para ele, esse tipo de comportamento, considerado jogo baixo, pode afastar o eleitor que demonstrou simpatia por Ciro no debate, quando o ex-governador vendeu uma imagem de alguém que quer fugir da radicalização.

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